pontos de vista

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2012-03-25

MUITOS AFASTARAM-SE!

Muitos afastaram-se. Outros, morreram. Ficaram alguns ou talvez muitos… leigos e leigas que fui conhecendo! Hoje ainda tenho a alegria de os encontrar, perguntando-me um ou outro como é possível continuar a desejarmos a mudança!

Relendo a “Constituição Pastoral Igreja no mundo actual”, detenho-me no n.º 9:“Entretanto, vai crescendo a convicção de que o género humano não só pode e deve aumentar cada vez mais o seu domínio sobre as coisas criadas, mas também lhe compete estabelecer uma ordem política, social e económica, que o sirva cada vez melhor e ajude indivíduos e grupos a afirmar e desenvolver a própria dignidade. Daqui vem a insistência com que muitos reivindicam aqueles bens de que, com uma consciência muito viva, se julgam privados por injustiças ou por desigual distribuição (…)

Esta intranquilidade vive-se em Portugal, interrogando-me eu como a consideram os Católicos.Um mundo de pessoas vive atribulada por se sentir privada de valores e bens, a que tem direito; por outro, vigora na opinião pública a convicção de que a distribuição não respeita a equidade, a justeza, a verdade.

Como reeditar os princípios de Concílio, em ordem a mudar o mundo? Como remeditar hoje o desejo de grandes e inesperadas transformações, sem as pôr em prática no realismo de alterações político-sociais?Sente-se em Portugal um grande frio, apesar da seca que grassa. Questões destas, por tão abundantes, perderam a actualidade. Ontem, os despertos para o mundo foram acoimados de heteredoxas pelo conservadorismo político (com o qual o acordo da maioria dos católicos era total).

Ao menos na década de sessenta, tempo do Concílio, houve divergências de leituras, em alto som. Hoje, vigoram no campo Católico, opiniões e diferenças. Mas tudo é vivido no silêncio e no pudor! Quando muito, emergem artigos e comentários sobre o Papa… ou questões, directa ou indirectamente, sobre “problemas fracturantes”.

Reviver os critérios do Evangelho é ser voz dos miseráveis e indignificados, dos escorraçados e tristes. Mas está tudo calado (há uma excepção recente: na Madeira, alguém da Igreja Católica, vem confirmar o já afirmado por mais que um sacerdote local: há pobres! Lá!).E uma releitura de doutrina social da Igreja é luz da Constituição Pastoral Igreja no mundo actual? Não deverá ser este o tema de novo “Congresso da Nova Evangelização”. Se não… é uma seca…Na década de sessenta, sobretudo com os organismos da Acção Católica, com relevo para alguns, fitava-se o mundo, ajuizava-se o mundo e vigoravam objectivos de transformação. Interpretar é já alterar.

Nas horas que passam, da sociedade emergem com preferência questões da família. E muito bem. Mas as linhas transversais do trabalho, da economia, da cultura, da política, atravessam-na e têm originado um profundo desconforto. E à excepção da Loc e da Joc, do Metanóia e de vários grupos informais, esta grande corrente de atenção às realidades de vida, escapa-se-nos. Em sua substituição sabemos o que há. E a insuficiência é flagrante. Serei pessimista? Reinam o desinteresse, a intoxicação do distanciamento, a insensibilidade diante dos fenómenos sociais. Nunca na Igreja se registou uma prioridade prática a favor dos espoliados. Não posso negar os trejeitos do bem fazer e as emoções das ajudas pontuais. Mas assumir um estudo do que ocorre de perverso, das causas dessas perturbações e dum projecto de reestruturação, é muito raro. Esta mentalidade era urgente criá-la. Mas se nem o jornal se lê e estuda…! Se, em matéria de “nova evangelização” tudo se afunila: devocionismos, diálogos na rua, à semelhança do das seitas, procissões… Não haverá no património pastoral da Igreja em Portugal estruturas ou acontecimentos, a revigorar?

O debate, o diálogo, o método activo na formação permanente, a escolha de pessoas outras, o estudo, o risco de entrar em ambientes sócio-culturais, a coragem da aplicação da doutrina social, etc, etc.

Só alguns discutem a cultura? Só certos se responsabilizam pela emigração, na ordem trágica do dia? Os problemas sócio-económicos ficam reduzidos só a “carolas”? A Comissão Justiça e Paz tem recebido o respeito e o interesse, que bem merece? Ficam à consideração estes apontamentos, inspirados por uma visão pastoral. Precisamos de iniciativas muito mais jovens! 

Lisboa, 23 de Março de 2012D.

Januário Torgal Mendes Ferreira

Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança



Comentários


2012-03-28

manuel vieira - esposende

Por um mero lapso técnico a mensagem do Assis desapareceu e a resposta do Arsénio aparece sem o 1º interlocutor, mas esperemos que o Assis consiga repor o texto.

2012-03-28

arsenio pires - Porto

Amigo Assis:

Estou plenamente de acordo com as tuas palavras.

As palavras deste “Dom” até são certeiras. É dos poucos “Dons” da monarquia católica que solta os cães de vez em quando.

Coloquei este post precisamente para chamar a atenção para esta voz um pouco dissonante dentro do amorfismo que caracteriza a IC em Portugal.

No entanto também me apetece dizer que a IC, em geral, é incapaz de articular um discurso coerente sobre a sociedade em que vivemos. Não é capaz de assumir o seu papel de dadora de esperança e utopia evangélicas para os nossos contemporâneos mergulhados em profunda crise económica e de valores.

Ela não entende os homens de hoje, os jovens de hoje, as mulheres de hoje. Fala ex cathedra como quem publicita detergentes para máquinas de lavar não se importando se os ouvintes só conseguem lavar a roupa à mão com sabão azul.

Sobretudo, não consegue ser uma presença ética. É célere em aconselhar aos outros aquilo que na sua estrutura judaica, mas não jesuânica, não pratica: subalterniza o Povo de Deus em relação a muitos valores democráticos já assumidos pela sociedade civil, desrespeita os direitos fundamentais da mulher não lhe permitindo o acesso a todos os serviços à Comunidade, etc. etc.

Penso que se Jesus voltasse começaria por arrasar o Vaticano e os seus ocupantes. Foi contra a casta sacerdotal legalista e hipócrita que ele se manifestou. Também por isso ele foi morto.

Se ele voltasse, os sacerdotes de agora voltariam a crucificá-lo.

 

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