Física Eleitoral
Como toda a gente sabe, a física e a matemática estão cheias de leis e axiomas. Há a lei da gravidade, a equação de Einstein, o princípio de Arquimedes, o teorema de Pitágoras e assim sucessivamente. Ora bem. O mesmo acontece na política, sobretudo na política económica. Para amostra, basta o seguinte:
1.- Princípio de Cascos:
Em política económica as decisões que são tomadas têm sempre efeitos a longo prazo e quem toma essas decisões não costuma ser quem sofre as consequências delas. Inclusive, pode acontecer que, a curto prazo, essas decisões tenham alguns efeitos contrários àqueles que serão os seus verdadeiros resultados.
Este princípio recebe este nome em honra dum ministro espanhol que encheu de ar o “balão imobiliário” que, anos mais tarde, foi um dos factores internos que levaram o seu país a uma crise monumental. E quando o criticavam porque no país se estava a especular demasiadamente com a construção imobiliária, o ministro respondia que, se tantas casas são construídas, é porque “os espanhóis são suficientemente ricos para as comprar”. O que na realidade acontecia era que só uns poucos é que compravam muitas casas e muitos “ninjas” (iniciais de “no incomes job, non assets”que em português se poderá traduzir pelo ditado: “quem não tem dinheiro não tem vícios”.) compravam casas que nunca iriam poder pagar. Até que rebentou a crise. Mas, nessa altura, o ministro desse ministério já era outro!
Este princípio também é conhecido como a Equação de Regan-Thatcher: tirar ao Estado todos os fundos, baixando os impostos aos amigos e privatizando tudo, até converter o Estado num “ninja” (como se disse, iniciais de “no incomes job, non assets”) e depois, quando chegar a crise provocada pelos seus amigos, estes mesmos repreenderem o Estado publicamente e cheios de razão, porque está a endividar-se acima das suas possibilidades, que já são nulas, para acudir aos gastos sociais que são a sua obrigação. Chama-se-lhe assim devido ao paralelismo com a outra equação de Gay-Lussac chamada “equação dos gases perfeitos”. Esta é a equação dos milionários perfeitos…
2.- Equação de Wall Street:
Como consequência da anterior, em política económica a direita comete sempre injustiças (até que tanta injustiça acabe por lhe custar o poder); e a esquerda trata sempre de remediá-las (até que tanto sacrifício imposto acabe por pô-la fora do poder).
3.- Teorema do Remendão:
Como os efeitos são a longo prazo, os governantes acabam sempre a parecer culpados pelas injustiças cometidas pelos seus predecessores, ou a tirar benefícios para si atribuindo-se os bons resultados de terapêuticas aplicadas pelos seus predecessores. Por exemplo: Suponhamos um país que entrou em profunda crise no ano de 2009 por erros que começaram por volta do ano 2000 e está a sair da crise em 2013. Pois bem, o governo que herdou aquela situação será declarado culpável por essa crise e perderá as eleições seguintes, enquanto que o governo que lhe suceder atribuirá ao seu próprio trabalho a colheita duma sementeira reparadora que foi feita antes dele chegar ao poder.
4.- Princípio do “Show off”:
Em política são muito mais eficazes as fotografias retocadas e as palavras sonoras e vazias de conteúdo do que as imagens reais e os conteúdos de qualquer discurso. Este princípio não necessita de demonstração porque a experiência o confirma constantemente.
5.- Princípio da DDR (antiga República Democrática Alemã):
Os êxitos desportivos dum país são inversamente proporcionais ao seu nível de maturidade política e democrática, porque enchem o ego e adormecem-no injectando uma total despreocupação pelas questões sociopolíticas. O nome deste princípio (a que outros chamam “princípio vermelho”) vem da antiga Alemanha comunista que maravilhava sempre o mundo com os seus triunfos nas olimpíadas e mantinha assim um povo suficientemente satisfeito com a ditadura.
6.- Equação de Victoria Kent:
Só uma educação aprofundada, paciente e de qualidade constrói um eleitorado realmente democrático. Victoria Kent, contra todos os seus ideais e princípios, opôs-se ao sufrágio feminino porque conjecturava que, se as mulheres votassem, a direita ganharia. Toda a sua vida se arrependeu disso e compreendeu que a solução não era negar o voto às mulheres mas educá-las ainda que, para tal, fosse requerido mais tempo e esforço (não sei se ela sabia que o mesmo tinha ocorrido a Proudhon a respeito do sufrágio universal que primeiro defendeu com afinco e depois combateu porque “o povo estava alienado”).
7.- Axioma de Berlusconi:
Num país com fraca educação democrática, a corrupção nunca implica perca de votos para aqueles que a praticam. Inclusive, pode fazer ganhar votos porque muitos votantes invejam esses corruptos e desejariam poder fazer o mesmo que eles.
8.- Hipótese do Vereador:
“Seja patriota, mate um padre!” diziam antigamente em El Salvador. Entre nós isso significa: Quando os bastões aparecerem nas próximas eleições, use-os para golpear a Igreja, os padres ou os papas. Pode apelidá-los de criminosos, de genocidas, de culpados por não sei quantos milhares de mortes. Siga!NB. Parece que a exactidão deste princípio não está ainda totalmente confirmada.
9.- Lei da Gravidade Capitalista:
Para que os ricos saiam da crise que eles próprios criaram, é preciso que os pobres trabalhem mais e ganhem menos. Esta é uma lei muito elementar que toda a gente conhece.
10.- Princípio de Lim-Piao:
O nível de reconhecimento do grau em que um país guarda os direitos humanos é directamente proporcional à amplitude das suas reservas petrolíferas ou à extensão das suas possibilidades de mercado; não necessariamente ao nível de respeito desses direitos. Porque, como já mostrou Felipe González, o importante é que o gato cace ratos e não que seja branco ou preto.
José Ignacio Gonzalez Faus (Religión Digital)
(Tradução de Arsénio Pires)