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2010-07-29

Algo vai mal!

A Estrutura Hierárquica da Igreja está profundamente danificada por dentro.

O PRIMEIRO SEMESTRE de 2010 foi um espaço particularmente acidentado para o papado de Bento XVI. Não se esperava que fosse assim. Este Papa tinha como objectivos aprimorar o ensino da maior denominação cristã do mundo, lutar contra o secularismo e o relativismo e convencer o mundo, católico ou não, de que o cristianismo vivido autenticamente tem mais a ver com possibilidades e uma nova liberdade do que com "nãos" e outras restrições.O seu programa foi seriamente colocado de lado por causa dos efeitos nefastos do escândalo dos abusos sexuais nos Estados Unidos, da explosão do escândalo na Irlanda, Alemanha, Itália e Bélgica, e agora do rebaixamento do ofício episcopal, especialmente nos países mais afectados pelo escândalo.

Estamos a testemunhar o equivalente eclesial a uma dessas representações de implosão em câmara lenta, do tipo em que uma estrutura aparentemente invulnerável cai sobre si mesma, assolada por alguns explosivos bem colocados? Talvez.Seria um erro, no entanto, pensar que o que está a implodir é a Igreja.

A Igreja está, em muitos aspectos, muito bem. O que está a implodir, pelo contrário, é uma cultura de clericalismo, especialmente a camada hierárquica dessa cultura, que se tornou tão desconectada, em muitas das suas expressões, dos mandatos centrais das escrituras cristãs, que parece funcionar mal e mal.

A autoridade que foi lentamente escoando da estrutura ao longo de décadas está agora a jorrar para fora, enquanto os bispos se contorcem na tentativa de convencer o mundo das suas boas intenções e transparência, ao mesmo tempo que se protegem contra aqueles que, dentro e fora da Igreja, trabalham para revelar a verdade.

A chocante invasão de um encontro de bispos na Bélgica é apenas a indicação mais recente do grau em que os antigos privilégios e protecções de que a cultura clerical gozava estão a desintegrar-se. Ela é um símbolo claro de que uma era está a acabar. Essa desintegração pôde ser vista durante o último quarto de século nos Estados Unidos, sob o peso opressivo das revelações de que a hierarquia católica repetidamente protegeu aqueles que tinham molestado sexualmente crianças e escondeu os crimes da Igreja e da comunidade em geral.Ela continuou na Irlanda católica, onde a traição profunda da comunidade causou um sério êxodo da Igreja devido à raiva persistente. Num dos maiores absurdos desse período de crise, os líderes da Igreja em Roma decidiram enviar bispos dos Estados Unidos para determinar o que aconteceu na Igreja da Irlanda.

A erosão continua num ritmo mais rápido, feia nos detalhes que continuam a acumular-se para que o mundo veja. O irmão do Papa admite ter batido nos alunos do coro que não se apresentavam de forma adequada – uma imperfeição humana que se tornou ainda mais perceptível numa arena envolta há muito tempo numa fachada de aparente perfeição.

Enquanto isso, o mundo de fora dessa cultura favorecida está a começar a perceber que um dos homens mais poderosos dentro dela durante o pontificado do Papa João Paulo II, o cardeal Angelo Sodano, ex-secretário de Estado e agora decano do Colégio Cardinalício, aceitou dinheiro dos semelhantes do falecido Pe. Marcial Maciel Degollado, fundador da Legião de Cristo. Maciel era um dos favoritos do Papa anterior e um homem que abusava dos seus jovens seminaristas e é acusado de ter tido filhos, incluindo um menino, de quem ele também teria abusado repetidamente.Sodano foi um dos defensores mais ardentes de Maciel.O facto de que Sodano não dever ter estar perto de qualquer nível de controlo no Vaticano é óbvio para a grande maioria daqueles que reflectiram um pouco sobre esse escândalo. Mas lá está ele, ainda a fazer pose, oferecendo elogios durante as liturgias a um Papa sob ataque e descartando o crescente coro de acusações contra os colegas bispos como "fofocas mesquinhas".E quando um dos colegas bispos, o cardeal Christoph Schönborn, da Áustria, se atreveu a desafiá-lo, como alguém deveria ter feito, num dos comentários mais racionais que qualquer um de dentro dessa cultura jamais fez, Sodano foi capaz de manipular um encontro com Schönborn e o Papa. O mundo posteriormente foi informado de que esse criticismo não deve ocorrer de cardeal para cardeal. Esse poder é reservado ao Papa apenas. O Papa permaneceu em silêncio, e Sodano permanece influente.

A protecção contra a investigação, requerida pela cultura moderna, uma reflexão, mais do que qualquer outra coisa, das prerrogativas reais e do comportamento dos palácios do Vaticano, desintegrou-se até ao ponto do Supremo Tribunal dos EUA aprovar uma acção que busca responsabilizar o Vaticano pela transferência de padres pedófilos de um lugar para outro, as transferências que ocorreram sem aviso prévio aos órgãos policiais ou às comunidades envolvidas.A crise dos abusos sexuais, como já dissemos neste espaço anteriormente, é uma crise da cultura clerical, uma crise de autoridade e de eclesiologia.

A crise dos abusos sexuais é o sintoma terrível de problemas muito mais profundos.A projecção ocorre numa escala global enquanto os bispos buscam desesperadamente maneiras para explicar como tantas coisas foram tão mal em tão pouco tempo. Relativismo! Secularismo! Influências culturais! Todas essas coisas ruins por aí, pensam eles, estão a influenciar o povo a revoltar-se, a abandonar a religião, a não acreditar como deveriam, a ignorar as decisões e os pronunciamentos da hierarquia. São os bispos que não reconhecem que eles próprios são os melhores exemplos vivos do relativismo e do laicismo que eles depreciam.A grande ironia em tudo isso, claro, é que a hierarquia não precisa contorcer-se para pensar em como ajustar a sua cultura e a sua vida às exigências de uma Igreja no século XXI.

As grandes questões desta era – e as suas exigências por responsabilização e transparência – foram antecipadas pela Igreja, que começou a lidar com elas durante o Concílio Vaticano II, o encontro de reforma da metade da década de 60.Havia uma razão – talvez o Espírito responda quando muitos abertamente buscam a sua orientação – para que os textos dos documentos desse Concílio fossem diferentes de todos os anteriores, para que os textos estivessem repletos de noções de diálogo, de aceitação, de contenção do julgamento e da punição, da nova descrição da Igreja como o povo de Deus.Talvez aqueles que estiveram no Concílio tenham antecipado que a hierarquia do futuro teria que se estruturar de forma diferente, liderar de forma diferente e ver o mundo de forma diferente.

O que parece claro neste momento é que a hierarquia, da forma como evoluiu na segunda metade do milénio passado, está profundamente danificada por dentro. E há poucas evidências da imaginação, da criatividade, do espírito necessários para reparar ou para repensar a estrutura.

O segundo semestre de 2010, pelo que parece, pode ser tão desolador, tão acidentado para o Santo Padre quanto o primeiro.

A análise é do editorial do jornal National Catholic Reporter, 08-07-2010.

(Artigo colocado por Arsénio Pires)



Comentários


2010-08-01

Assis - Folgosa - Maia

"A Verdade vos libertará"

Arrancada do Evangelho, a frase transformou-se em belo livro da América Latina e da Teologia da Libertação, um livro de Gustavo Gutiérrez que deveremos ler pois não perderemos o nosso tempo.

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