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2010-01-22

MORTA NO TERRAMOTO no HAITI: Dra. ZILDA ARNS

O Legado Profético de Zilda Arns 

por Leonardo Boff
 
Já se fizeram todos os elogios devidos à médica brasileira, Zilda Arns, irmã do Cardeal dos direitos humanos, Paulo Evaristo Arns. Ela sucumbiu sob as ruínas do terramoto no Haiti. Talvez a opinião pública mundial não se tenha dado conta da importância desta mulher que, em 2006, foi apontada como candidata ao prémio Nobel da Paz. E bem que o merecia, pois dedicou toda a sua vida à saúde das pessoas mais vulneráveis. Há 25 anos que coordenava a Pastoral da Criança acompanhando mais dum milhão e 800 mil menores de cinco anos e mais dum milhão e 400 famílias pobres. A partir de 2004, iniciou a Pastoral da Pessoa Idosa com mais de cem mil idosos abrangidos. Com meios simples, como o soro caseiro, o alimento à base da multimistura e outros recursos mínimos, salvou milhares de crianças que antes fatalmente morreriam.
Seria longo historiar o seu extraordinário trabalho difundido já em mais de 20 países pobres do mundo. O que pretendo é enfatizar os valores do capital espiritual que sustentaram a sua prática. Nisso ela ia contra o sistema dominante e serve de inspiração para hoje.
É convicção crescente que não sairemos da crise de civilização actual se continuarmos com os mesmos hábitos e os mesmos valores consumistas e individualistas que temos. Ela mostrou como se pode ser diferente e melhor.
A Dr. Zilda honrou o cristianismo, vivendo uma mística de amor à humanidade sofredora, de esperança de que sempre se pode fazer alguma coisa para salvar vidas, de fé na força dos fracos que se organizam e na escuta de todos até das crianças que ainda não falam.
Ela tinha clara consciência de que a solução vem de baixo, da sociedade que se mobiliza, sem com isso dispensar o que o Estado deve fazer. Os problemas sociais resolvem-se a partir da sociedade. Para isso, ela suscitou a sensibilidade humanitária que se esconde em cada pessoa e inaugurou a política da boa vontade. Mais de 250 mil voluntários, sem nenhum encargo financeiro, propuseram-se assumir os trabalhos juntamente com ela.
Uma ideia-geradora movia a sua acção, copiada da prática de Jesus: multiplicar. Não apenas pães e peixes como Ele fez, mas, nas condições de hoje, multiplicar o saber, a solidariedade e os esforços. 
Multiplicar o saber implica repassar às pessoas simples os rudimentos de higiene, o cuidado pela água, a medição do peso e a alimentação adequada às crianças. Esse saber reforça a auto-estima das pessoas e confere autonomia à sociedade civil.
Multiplicar a solidariedade que, para ser universal, deve partir dos últimos, buscando atingir as pessoas que vivem nos rincões onde ninguém vai, tentar salvar a criança mais desnutrida e quase agonizante. Essa solidariedade é a que menos existe no mundo actual.
Multiplicar esforços, envolvendo as políticas públicas, as ONGs, os grupos de base, as empresas na sua responsabilidade social, enfim, todos os que colocam a vida e o amor acima do lucro e da vantagem. Mas antes de tudo multiplicar a boa-vontade generosa.
Ora, são estes conteúdos do capital espiritual que devem estar na base da nova sociedade mundial que importa gerir. O século XXI será o século do cuidado pela  vida e pela Terra ou será o século de nossa auto-destruição. Até agora globalizamos a economia e as comunicações. Temos que globalizar a consciência planetária e multiplicar o saber útil à vida, a solidariedade universal, os esforços que visam construir aquilo que ainda não foi ensaiado. Amor e solidariedade não entram nas estatísticas nem nos cálculos económicos. Mas são eles que mais buscamos e que nos podem salvar.
A médica Zilda Arns, seguramente sem o saber, mas profeticamente, mostrou-nos em miniatura que este mundo não é só possível, mas é realizável já agora.

Nota de Arsénio Pires: A Dra Zilda Arns gastou a sua vida pela paz e morreu pela paz lutando entre os mais necessitados. Desde 2006 que era proposta como candita ao Prémio Nobel da Paz. O último foi atribuído a Barack Obama. E os outros?



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