Milhões e milhões de pessoas já nasceram e morreram e muitas outras hão-de nascer sem que nenhuma delas tenha sido ou venha a ser igual. Deus não se repete. Cada uma delas foi e será única. Isto é algo de maravilhoso que não pode deixar de nos comover. E o próprio Criador, entusiasmado diante de cada um/a de nós, repete estas palavras surpreendentes: “Meu filho único! Minha filha única! Ninguém é ou será igual a ti!”.
Esta tomada de consciência faz jorrar no nosso coração uma fonte inesgotável de entusiasmo, no verdadeiro sentido da palavra “Theos”, Deus.
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O mais espantoso é que neste ser misterioso, único, de cada um e de cada uma, Deus torna-se presente. O Ser infinito faz-se presença activa no ser finito. Com Ele, eu tomo uma iniciativa, eu decido, eu ajo. Mas essa minha acção não é exclusivamente minha, pois é também d’Ele.
E qual é o sentido deste agir, qual é a sua finalidade? – “Acabar com o medo”.
“Não tenhais medo”, disse Jesus aos seus discípulos. De quanta energia se enche, então, a minha liberdade! Eis aqui a razão de ser dos mártires. O cristão fica possuído por Deus e o medo da morte deixa de ter qualquer sentido, já não existe.
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Possuídas pelo Todo-poderoso, todas estas pessoas, embora finitas, mas habitadas pelo Deus infinito, tornam-se elas próprias a “Corrente do Amor e da Justiça”: uma corrente de vida, de paz, de dinamismo, de diálogo e de partilha. Uma corrente contrária à “Corrente do Poder e do Dinheiro”. Contrária à corrente em que se encontram todos aqueles que habitam os grandes palácios, sejam eles palácios de governantes ou de bispos, ou mesmo o palácio do Vaticano com todos os seus responsáveis, desde o mais elevado ao menor.
Estas duas correntes são totalmente opostas, como o são a vida e a morte. E podemos encontrá-las em qualquer parte do mundo. Quem se dá conta desta realidade?
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E eu: Em que corrente me encontro?... Que temos de fazer para conseguirmos entrar na “Corrente do Amor e da Justiça”?
Esta acção não é, não pode ser um acto do acaso, mas sim pessoal, de cada um/a de nós.
“Estava preso, tive fome… deste-me de comer, foste visitar-me…”
É preciso aliar-se aos mais pobres, aos rejeitados, tomar a sua defesa em nossas mãos, mesmo correndo o risco da própria vida; é preciso aliar-se àqueles que o mundo do Poder e do Dinheiro rejeita e deseja exterminar.
É desta forma que entraremos na “Corrente de Amor e de Justiça” que nos conduzirá à eternidade, inimaginável para os nossos olhos terrestres, que nos conduzirá ao próprio Deus da Bondade.
Sermonde, 12 de Janeiro de 2010
Henri Le Boursicaud
(colocado por Francisco Assis)