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2010-01-05

Padre Costa Pinto: «Casamento não deve ser indissolúvel»

A fragilidade do casamento nos tempos modernos levou o padre Costa Pinto a sustentar que a Igreja não tem motivos para manter a indissolubilidade deste sacramento e que deve aceitar uma segunda tentativa de procurar a felicidade.
Este nosso associado, em entrevista ao jornal de distribuição gratuita O Destak publicado em Fevereiro do ano passado, mostra mais uma vez a sua irreverência em temas polémicos a que já nos habituou.

“Aos 81 anos, Manuel Augusto da Costa Pinto - que já está dispensado de paróquias e apenas realiza missas a pedido de colegas - passa grande parte dos seus dias no escritório da casa onde vive, em Viseu, folheando as páginas onde encontra a sustentação para as suas convicções.

O seu primeiro livro, intitulado "O casamento dos padres", do início da década de 70, valeu-lhe 17 anos de suspensão, que, no entanto, não o coibiram de continuar a dizer o que pensa.

Em Fevereiro de 2007 ficou conhecido por defender que votaria "Sim" no referendo sobre a despenalização do aborto e agora, dois anos depois, está a preparar um polémico livro, que deverá estar à venda até ao Verão.

"A fragilidade do nó cego. O casamento na Igreja Cristã, Católica Romana. O Divórcio e o segundo casamento" é o título do segundo livro de Costa Pinto, que será assinado com o nome Augusto Montemuro, numa referência à serra onde nasceu.

"Nós constatamos todos os dias a fragilidade do casamento, que a Igreja considera um nó cego. Um nó cego é aquele nó que não se pode desfazer. Ora, na verdade não se pode pôr um nó cego numa corda que é frágil e que parte", justificou.

Na obra, defende que "a Igreja não tem razões para tratar a indissolubilidade do casamento como coisa imutável", garantindo que na Escritura "em nenhuma parte se fala em indissolubilidade".

Segundo ele, a Igreja encontra explicação para a indissolubilidade do casamento no Génesis, segundo o qual "Deus criou o homem e a mulher e depois se tornaram os dois numa só carne".

"E depois dizem que o que Deus uniu não pode separar o Homem. É narrado pelo escritor o que aconteceu, mas não há lá palavras de Deus a unir nada", considerou.

Costa Pinto explicou que o que pretende provar é que "a Igreja não tem razão para manter a indissolubilidade do casamento, mas por outro lado tem muitas razões" para acabar com ela, a mais importante das quais é permitir que "uma pessoa possa voltar a ser feliz".

"O divórcio é lamentável, mas às vezes é inevitável. Isso é a realidade da vida, pelas mãos têm-me passado muitos casos", frisou o padre, contando que o que mais o magoa é que aqueles que se divorciam não possam comungar, sentindo-se assim "diminuídos".

referiu que até "Cristo violava a lei sagradíssima do Antigo Testamento" quando o que estava em causa era o bem das pessoas, nomeadamente "ao sábado violava a lei para curar um indivíduo que tinha o braço seco ou violava a lei para salvar e perdoar a prostituta".

E lembrou as palavras de S. Paulo que, em relação aos casamentos mistos, disse: "se estiveres casada com um que não é cristão e ele te torna a vida impossível, podeis separar-vos e casar-vos de novo".

Costa Pinto - que garante não ser contra a Igreja, mas apenas discordar "de algumas coisas da Igreja" - diz basear as suas ideias também em testemunhos, nomeadamente de "santos padres do princípio da Igreja", citando, por exemplo, Orígenes de Alexandria (183-254 da idade cristã).

"No seu testemunho diz assim: 'ainda agora agindo neste caso fora das santas escrituras, alguns chefes da Igreja têm permitido que uma mulher se case enquanto o seu marido ainda está vivo. Entretanto não fizeram isso sem razão, porque ao que parece tiveram condescendência apesar do prescrito e transmitido, a fim de impedir consequências piores'", leu.

Disse que é isto que também quer: "Não defendo que agora os bispos vão instituir o divórcio, vão fazer a festa do divórcio. Não é isso. Defendo que quando há problemas a Igreja tem poder para os resolver".

Actualmente, há a possibilidade de se provar que não houve casamento” mas “para já é muito complicado o processo, em segundo lugar é muito caro, em terceiro lugar leva muito tempo, tem muitos inconvenientes e pode conduzir a uma absoluta hipocrisia, mentira, até a falsificações de documentos", lamentou.

O padre Costa Pinto garantiu que tem recebido o apoio entusiástico às suas ideias de padres que lhe dizem "anda para a frente".

"Há outros que são reservados e outros que, naturalmente, pensam o contrário mas não mo dizem, porque não estão preparados para me dizer que não. Não têm feito esses estudos, não têm vagar, nem disposição, nem vocação para isso. Mas eu tenho vocação para a luta", sublinhou.

(Na foto, com o Padre Maneiro no último Encontro em Gaia)



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