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2009-12-16

JESUS, PROFETA LAICO

Nós, os cristãos, não somos seguidores de um líder religioso, mas sim de um profeta laico. Jesus foi um laico. Não foi sacerdote, nem funcionário da religião, nem nada parecido.
Mais, Jesus viveu e falou de tal maneira que imediatamente entrou em conflito com os dirigentes religiosos do seu tempo, os sacerdotes e os funcionários do Templo, os representantes oficiais do "religioso" e do "sagrado".
A grande revolução religiosa levada a cabo por Jesus consiste em ter aberto aos seres humanos outra via de acesso a Deus, distinta da do sagrado. Isto é, a via profana da relação com o próximo, que não passa pela Lei. É a relação ética vivida como serviço ao próximo e levada até ao próprio sacrifício.
Jesus abriu outra via de acesso a Deus através da sua própria Pessoa, aceitando pagar com a sua vida o facto de combater a crença de que o culto religioso dos sacerdotes tinha o monopólio da salvação. A salvação vem de outro lado.
Jesus denunciou os abusos do poder religioso e do poder político. "Jesus deixou bem claro que o caminho para Deus não passa pelo Poder, nem pelo Templo, nem pelo Sacerdócio, nem pela Lei. Passa pelos excluídos da história." (González Faus.).
Um dos equívocos mais perigosos em que a Igreja tem incorrido é o de identificar a fé com a religião e com o sagrado. De tal forma que, para bispos, clérigos e fiéis incondicionais, ter fé é o mesmo que ser religioso, com uma religiosidade que tem o seu centro no sagrado, isto é, no separado do profano e do laico.
Além disso, o "religioso" e o "sagrado", quando vistos como o único verdadeiro, são tidos como "privilegiados", isto é, merecedores de direitos e privilégios que não estão ao alcance dos que praticam outras religiões, ou são agnósticos ou ateus. Pelo menos, é o que se afirma.
Nós cremos que a comunidade de crentes deve acabar com os privilégios da Igreja. E isto é importante por motivos jurídicos, sociais e políticos; porém, é importante também por razões estritamente teológicas. A Igreja tem a sua origem em Jesus. E a sua primeira preocupação tem que ser a de tentar viver e falar como Jesus viveu e falou.
É significativo e estranho que, sempre que os Evangelhos mencionam os Sumos-Sacerdotes, seja para os apresentar como agentes de sofrimento e de morte. E, na Parábola do Bom Samaritano, não ocorreu a Jesus outra coisa senão apresentar como modelo de humanidade solidária um herege e infiel (o samaritano), enquanto que foram precisamente os representantes oficiais da religião que passaram ao largo diante do sofrimento humano.
O samaritano andava mal de religião, mas tinha humanidade. E isso é o que Jesus destaca. Nisso se centrava a sua grande preocupação. Para Jesus era mais importante "o humano" do que "o religioso" e "o sagrado".
O humano é "o laico", o comum a todos. "Laico" vem do termo grego "laos", que significa "povo". E está claro que Jesus antepôs o laico ao religioso.
Quando Jesus, nas Bodas de Caná, converteu a água em vinho, não utilizou uma água qualquer, mas precisamente aquela que tinham na casa "para as purificações rituais". Isto é, Jesus converteu o enorme e pesado ritual religioso (6 vasilhas de pedra de uns 100 litros cada uma) no melhor vinho, para que a festa, a alegria e o desfrute da vida não se acabasse. Isto é que é próprio do Reino de Deus: a felicidade e a alegria para todas e todos. Jesus antepôs sempre o humano e o leigo ao religioso e ao sagrado.
Chama a atenção o carácter tão pouco "religioso", em termos daquela época, que Jesus atribui ao Reino de Deus. Não gira em torno do Templo, nem são prescritos sacrifícios ou actos de culto. Também não existem funções sacerdo-tais nem pessoas que actuem como intermediárias.
Sem dúvida que Deus está muito no centro dessa mensagem que leva o seu nome. Porém, é um Deus deslocado dos lugares sagrados. Ele encontra-se em plena voragem da vida, sobretudo junto das pessoas e grupos marginalizados: as crianças, os doentes, os cobradores de impostos, as prostitutas, os pobres, os deficientes, os cegos e os coxos... E identifica-se com as tarefas quotidianas feitas pelas pessoas na sua vida diária: o semeador, o pastor, a pesca, a mulher que amassa a farinha de trigo ou que limpa a sua casa...
Essa identificação com o ser humano, com a sua felicidade, com o seu sofrimento e com a sua marginalização, permite ao Reino de Deus superar os limites culturais e religiosos em que o próprio Jesus viveu. Por isso, mantém uma universalidade, uma modernidade e uma "laicidade" actuais.

José María García-Mauriño
(Trad. Arsénio Pires)



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