entrevista

2010-02-14

JOSÉ MARQUES DIAS EM TIETÊ

José Marques Dias é o nosso terceiro entrevistado…
Entrou na Quinta da Barrosa em Agosto de 1955 e teve como parceiros de início de curso o Ricardo Morais, o Mário Lage, o Gaudêncio, o Pedrosa, o Peinado, o Silvério Rato e o Adfolfo Barros entre outros, mas seguiu o percurso de estudante também com outros colegas activos da nossa Associação.
Nasceu na Póvoa de Cervães do concelho de Mangualde há 65 anos e hoje é padre redentorista numa paróquia da cidade de Tietê, a cerca de 150 Kms de S.Paulo, no Brasil.
Os seus contactos connosco utilizando a internet facilitou-nos esta conversa interessante  que nos permitiu saber um pouco mais de si.


1-Do que se recorda como mais marcante da sua passagem pela Quinta da Barrosa em Gaia?

Lembro a casa velha  e a  sua Igreja. Jogar à bola- Lembro quando o Nabais bateu com  a cabeça no chão- Frontão- Latada das videiras- Saudade dos colegas:Gaião –meu anjo da guarda- lembro do Zé Carlos de Mourilhe,Mangualde; do Alexandre- Fraga- João Gomes- do António da Cruz Oliveira... etc. Passeios ao mar –Broa do café- O primeiro teatro, logo que cheguei  e chorei demais de medo e me tiraram o papel. O dia que me obrigaram a comer chicharros com bacalhau estando mal disposto – Vinda dos missionários de Angola com os dentes do elefante, etc, As visitas dos padres de fora, sobretudo do Brasil.

2-Como descreve socialmente a região onde intervém hoje, situando-a também geograficamente.


  Trabalho agora numa paróquia da cidade de Tietê  a 150 Km de S.Paulo.É bastante tradicional. Muitos descendentes de Italianos. Acolhem muito bem. A cidade tem uns 30% de participação dominical. Tenho programa diário na Rádio e sempre que posso na TV local. Estou programando as Missões de Leigos nas comunidades da paróquia. É o “MILERE”. Está dando muito certo.
O nome da cidade vem do Rio Tietê que tem mais de 700 Km e metade do trajeto é poluído pela cidade de S.Paulo. É uma cidade com 45 mil habitantes e com 20 bairros. Muita indústria de roupa infantil e Jeans. Aqui temos também o noviciado há 22 anos. . Moro numa comunidade com a equipe missionária( 6 membros), a equipe de noviciado, (1) os que cuidam da Igreja do seminário (4 padres e 3 irmãos) e nós dois da paróquia e mais 11 noviços de várias províncias. Somos 17 membros da comunidade.
A Cidade cresceu com o êxodo rural e as pequenas indústrias mas  na zonal rural há  mais gado e cana de açúcar. É paróquia nossa há 12 anos e queremos entregar ao Bispo quanto antes.

3- Como é o dia a dia de um padre redentorista no seu posto de missão? Algum acontecimento importante marcou o seu percurso?

 

           Durante 24 anos trabalhei nas Missões Populares, para  “Unidos em Cristo, viver e crescer em Comunidade”. Percorri mais de 300 cidades ficando sempre em casa de famílias e convivendo com a realidade do Povo. Trabalhei em mais de 25 paróquias da Grande S.Paulo com os seus 18 milhões de habitantes em Favelas,  condomínios, bairros humildes, Prédios.
   Todo o trabalho missionário é desafiante. Levantamos às 4,30 hs e deitamo-nos depois das 22hs.È programação para o dia inteiro e as várias etapas da vida. Dormimos nas casa de família, mesmo na favela, comemos suas comidas e participamos de suas vidas e sofrimentos. Numa missão de muito calor  o padre pediu água. Pensando ser um suco, era água barrenta da lagoa, onde todos tomam banho até os animais. Tivemos assaltos, roubos de aparelhagem, etc. Quem está na água deve molhar-se. Mas tudo vale a pena como redentoristas.
            Aqui somos conhecidos como os padres de Aparecida. No santuário onde trabalhamos vão mais de 8 milhões de romeiros – ano. Celebrar aqui, atender mais 5 mil confissões por dia é gostoso e desafiante. Precisa-se de saúde também. E agora temos a TV Aparecida com 24 hs de programação. É o maior desafio que temos. Aqui trabalhei durante 3 anos. Nas férias e na novena trabalhei no Santuário vários anos. Querem desafio maior?
            Há 4 anos fui coordenar o trabalho das Missões Redentoristas em nossa paróquia de Luanda, quando se celebrava 50 anos da presença redentorista. Imenso desafio pela cultura, mentalidade, etc. Voltei esgotado, mas valeu a pena. Aprendi muito sobre as origens de nossos antigos e pude ajudar nossos confrades a perceberem por onde a pastoral deve caminhar.

     4- A muitos quilómetros de distância como vê e o que espera da Associação de Antigos Alunos?


 A Associação dos Antigos Alunos é uma coisa maravilhosa. Aqui dizemos “Uma vez Redentorista, sempre redentorista”. Recordar o passado faz bem aos mais velhos. Quando aí estive há 2 anos conversei com saudade com o Nabais e companhia. Pelo que eu tenho lido na Palmeira tenho ficado com uma dúvida. Pareceu-me ter visto uma certa revolta entre alguns membros. Realmente eu só tenho que agradecer meus tempos de seminário, tanto em Gaia, em Nava Del Rey, em Valladolid, em S. Paulo.        
           Eram outros tempos, outras mentalidades. Cada um é retrato do seu tempo e formação.Os  nossos pais,os nossos  professores são históricos. Graças a Deus que tudo muda; como cada um de nós. Nos últimos 15 anos a mudança foi mais radical. Revoltar-se e viver amargurado com o passado não adianta. Olhar o passado com os olhos e os critérios do presente é querer sofrer demais. Graças a Deus que estamos em novos tempos. Sobre o passado só há uma atitude realista, compreender e perdoar. Num curso que fiz na Colômbia, hoje um Sr. Cardeal, chamou-me de “criticon”, por que representando os estudantes, apresentei sugestões para melhorar. Numa reunião, na presença de um bispo, por causa dele me ausentei da reunião. Hoje quanta coisa a melhorar em nossa Igreja!. Como é bom trabalhar no Brasil onde tudo é grande e não dá tempo dos Bispos ficarem em nosso pé. Temos uma liberdade que aí não vi.
        O primeiro trabalho que aqui também fizeram os ex-seminaristas, na sua associação, foi fazer um trabalho de rever o passado com suas revoltas e injustiças. Graças a Deus o tempo mudou e nós todos também. Perdoar o passado é importante, para olharmos o futuro com nova perspectiva e otimismo. Aqui há vários ex-seminaristas nossos que são diáconos, ministros da eucaristia, e comprometidos com as suas comunidades. As coisas só mudam quando estamos participando. As futuras gerações também nos criticarão. O importante é vivermos em Paz e sermos realistas. Meu Pai, por exemplo, não foi santo e nem o mais perfeito; mas é a ele que devo amor e gratidão e por isso também o perdão em suas falhas. Se Deus não tiver misericórdia de todos nós estamos perdidos. Não sou perfeito, mas procuro ser honesto comigo e minha missão. Não me arrependo em momento algum de ser redentorista. Somos uma província grande e com muitos desafios. Faço o que posso. Graças a Deus aqui, ainda tem muita gente, vivendo o mesmo ideal.
       Quando estive em Lisboa a última vez, há 2anos, procurei que os nossos ex-seminaristas se sentissem bem acolhidos. Entendo que isto é fundamental. Há muita coisa que nos une. Por partes diferentes, mas o nosso caminho é o mesmo. Quando encontro um ex-seminarista aqui, procuro dar-lhe o maior apoio e carinho. Não é só uma alegria rever os colegas, mas torcer para que eles vivam bem e felizes.



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