2011-11-23
A.Martins Ribeiro - Terras de Valdevez
Desculpai eu voltar aqui novamente; mas sou daqueles que não consigo calar uma surda indignação perante o que se está a passar neste meu desgraçado País e vós puxais por mim.
Amigo Arsénio, a resposta á sua pergunta é variável, porém, as contas são boas de fazer: se em Portugal (e o cálculo, suponho, servirá para todo o Mundo) tomando como verdadeiro que há mais ou menos milhões de habitantes activos e quase todos deles (por enquanto) são pobres ou para lá caminham havendo, dizem, trezentos mil ricos, faça-se a operação:
5 000 000 ÷ 300 000 = 16 6666666666667. É uma conta surreal? É capaz de ser, mas sempre é uma conta.
Se atentarmos bem no sermão aos peixes do Pe. António Vieira, está nele uma parte da resposta:
"… A primeira cousa que me desidifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."
Como se vê, no tempo do pregador e nessas circunstâncias a proporção não era assim tão grave porque, pelo que se leu, para fazer um rico só eram necessários mil pobres e, nos tempos de hoje, já não chegam 16 000, só em Portugal.
Nada me move contra os ricos quando eles, para o ser, lutaram, suaram e trabalharam no duro que, como todos sabemos, mesmo agindo dessa forma é muito difícil lá chegar. Mas estes ricos de que vos falo, não só nunca trabalharam, como sempre viveram da ladroagem, da rapina e da extorsão, com grandes doses de cinismo e arrogância: políticos parasitas, porque não roubam só o sangue, mas também a dignidade, espalhando o desespero, a loucura e a fome em milhões de seres humanos.
Este estado de coisas leva-nos, estranhamente, á solução do problema, preconizado também pelo ilustre e sacro tribuno: inverter a obscena posição e serem os pequenos a comer os grandes. Não resolvia nada? Ai resolvia, resolvia! Confisque-se todo o espólio roubado, ainda na posse dos ladrões e hão ver que nenhum pobre irá ficar sem qualquer subsídio. É evidente que eles nunca vão ir por aí.
Como vê, caro Arsénio, poderá não ser a melhor, mas esta é a minha resposta á sua angustiosa questão! Você também aporta um bom contributo: "… na sua casa, como na minha e na grande maioria delas, todos somos ricos porque o pão e o vinho são repartidos igualmente por todos."
É isso!