2011-11-24
A.Martins Ribeiro - Terras de Valdevez
A QUINTINHA DO ASSIS
Passei hoje á tarde pelo bucólico refúgio que o Assis erigiu na aldeia de Cabanas em Orbacém. Lá apareceram também o companheiro Barros e o Presidente Vieira. Digo-o sem hesitação, porque é notório e sentido, que esse local é um recanto do paraíso, onde recendem flores, onde medram variados frutos, onde canta o cuco e o noitibó. Um verdadeiro Olimpo onde nos sentimos deuses, um bíblico Tabor onde nos transfiguramos com a beleza e a paz.
É uma quintinha gira e aconchegada, com um belo tanque de água fresca, muitas árvores que crescem á medida da Natureza, espreitada do horizonte fronteiro pelas corcovas da serra de Arga a confinar em perfeito mano a mano com o seu vizinho mar. Melros de bico amarelo, pica-paus de crista vermelha, rouxinóis e pintassilgos e toda a casta de passarada que por ali volteia em genuína liberdade usufrui e se farta num opíparo e gratuito banquete. Na verdade, o bodo não será assim tão de graça porque o Assis é pago com a sinfonia dos seus trinos e gorgeios que a toda a hora, sobretudo ao romper do dia, lhe deleita os ouvidos.
Acedendo a amáveis convites do anfitreão que muito me honraram já por lá passei várias vezes e pude conversar com outros companheiros, entre os quais sobressaíram o Guerreiro e o Padre Boursicaut; mas o que me levou lá hoje foi o aceno com os dióspiros a que não pude resistir porque eu sou um lambão dessa esquisita fruta. E então, como a proibida árvore do éden, sobressaía por entre fambroesas e fisalis de fruto encriptado nos seus casulos de mistério, por entre arbustos e flores, um quase desfolhado diospireiro, carregado de carnudos frutos cor de fogo, de muitos fogos, mais ardente de todos o do Amor, também a cor do ocaso no crepúsculo da vida. Ah! Pude então verificar que os dióspiros do Assis não têm igual! E ali mesmo, debaixo dos galhos despidos dessa árvore, eu e o Vieira nos lambuzamos despudoradamente com a polpa daquelas maçãs do Paraíso terreal, mais suculenta e doce que maminhas de garota.
Vale a pena desfrutar de tão abrangente bucolismo, por isso e para fugir ao bulício da vida não há nada como experimentar tão inesquecíveis sensações.
O Assis é um privilegiado!