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2011-12-12

Francisco Assis - Folgosa-Maia


Ora, saiam então uns pinhões p'rá roda...

Pois é José Rodrigues. Como na tua, também na minha aldeia havia um único Pinheiro Manso, um enorme pinheiro que dava nome à região em que o mesmo se encontrava.

Digo que havia, pois deixou de haver há já alguns anos. Um maldito incêndio acabou com ele.

Todavia, o nome continua lá, mesmo sem ele. Já me lembrei de levar para o local alguns pinhões e, pela calada da noite à semelhança do inimigo evangélico, lançar àquela terra a boa semente, não a cizânia...

Lembro-me, de garoto, ter apanhado bastantes vezes os pinhões que caiam do Pinheiro Manso - com maiúscula, sim, tal era o porte da árvore - pinhões que ao toro do mesmo partia e com eles me regalava.

Não recordo todavia de jogar ao "Par ou Pernão" ou mesmo ao "Rapa-Tira-Deixa e Põe" com os ditos pinhões já que só no verão eles apareciam naquele bendito chão. Jogava-se com as amêndoas que muito abundavam em Cedovim. - Como não ter saudades desses jogos simples, aconchegados no calor da lareira? Nessa noite, até nós, os mais pequenos, tínhamos dereito a um dedal de jeropiga, bebida carinhosamente feita e distribuída pela mão do meu pai. Vejo-me ainda a lamber os lábios de tão gostosa que era. A melhor jeropiga do mundo, diria o Alex. Para mim era: a melhor do mundo e dos arredores. Mas não era essa a melhor prenda de Natal. No gostinho das laranjas que nos chegavam do Vesúvio encontrava eu o meu melhor presente. Era pelo Natal que elas apareciam por vez primeira em Cedovim. Vinham do Vesúvio. E o Vesúvio ficava cá a uma lonjura...Na nossa cabeça de miúdos, essa não se media em metros, nem em Kms. Media-se pelo tempo que uma pessoa levava a ir até ao Vesúvio e de lá regressar e chegar a Cedovim: um dia inteiro. Ia-se a pé, de burro, de macho ou égua, ou ainda de mula. De cavalo iam apenas dois ou três ricos lá da aldeia. Então de carro de bois, era quase um dia e meio: o tempo que o pai das minhas tias demorava sempre que carrejava as pipas de vinho fino para os barcos rabelos que do Vesúvio partiam em direcção ao Porto.

As laranjas foram vários anos o melhor presente de Natal que eu recebi. As rabanadas e as filhóseram realmente gostosas e bem docinhas, mas aquele gostinho das laranjas era muito especial... Houve, contudo, um Natal que me troxe uma outra prenda especial. Devia eu ter os meus 4/5 anos. O meu tio Manuel, um artista a fazer sapatos, apareceu-nos em casa com duas pequenas camionetas de madeira, pintadas com cores vivas, uma para mim e a outra para o meu irmão, peças que ele próprio laborara. Os nossos olhos arregalaram-se de contentes.

Tudo mais, mesmo as laranjas do Vesúvio, ficaram de lado nesse Natal. - Coisas de miúdo... cada um de nós fomos esse miúdo e hoje, voltámos a brincar com ele. Obrigado a todos aqueles que me ajudaram a arrancar de cima dos ombros algumas dezenas de anos. E, para todos, Feliz Natal!...

2011-12-11

manuel vieira - esposende

Quando falei no mercado negro dos pinhões reforçava a sua  importância económica e lembrava a península de Setúbal como região privilegiada de desenvolvimento da espécie.

Mas foi o José Rodrigues a associar-se às memórias transmontanas do Arsénio, num regresso que eu já ansiava depois de um silêncio espesso.

É curioso como a similitude de hábitos anima as emoções que suportam tantas memórias.

Também o cerimonial do descasque da pinha, do processo de aquecimento ao lume que se revê no processo natural causado pelo sol nas horas de meio dia, todo o ritual da memória dos sabores pronunciados das sementes, tudo isso se incrustou nas telas da vida.

Muitos dos nossos colegas que assentam ainda nas bancadas estão a pensar descer os degraus, até por uma questão de desconforto no cóxis.

Estão a ajardinar as memórias e em breve não faltarão testemunhos da "serena infância", como dizia o José Rodrigues, a quem agradeço os votos de Boas Festas e retribuo com um grande abraço.

 

2011-12-10

M. JOSÉ RODRIGUES - MACEDO DE CAVALEIROS

Caros amigos Tenho acompanhado, em visitas esporádicas, a evolução dos acontecimentos neste sítio. Verifiquei que tem havido uma razoável participação, o que muito me compraz. Prometera a mim mesmo que um dia havia de voltar a entrar aqui. Achei adequado este momento, por via da mais recente temática introduzida pelo Arsénio. A propósito de pinheiros e pinhas, venho para marcar presença nas ‘multi-antevésperas’ do Natal. As pinhas do Arsénio deixaram-me enternecido. Desse eu asas à imaginação e pensaria que o seu berço teria sido também o meu. A razão me diz que, não tendo sido o nosso o mesmo berço, longe não estiveram eles um do outro, em termos geográficos e de calor humano. Revejo-me totalmente no Postal do Arsénio: as pinhas dele foram as minhas pinhas. Os Natais da minha infância foram marcados pelo mesmo ritual da extracção dos pinhões pelo fogo. Após a ceia a prenda era o jogo do “Rapa”, do “Par ou Pernão” (par ou par não) e outros do género. Tudo girava em torno dos pinhões, em jogos e brincadeiras de que sufoco de saudade. Não sei de onde vinham as pinhas. Só havia um pinheiro manso no termo da minha aldeia; ainda hoje lá está, bem crescido e de boa saúde. Mas sei que os pinhões marcaram presença, religiosamente, em todos os Natais da minha infância. Ainda me lembro de, num Natal qualquer da minha meninice, ter encontrado, de manhã, no sapato grosso (os finos onde estavam?), uma bola pequenina que cabia na concavidade insignificante da minha mão. Gostei dela e achei-me como se na mão segurasse o mundo. Mas gostei sempre muito mais dos jogos dos pinhões, pelo calor do amor dedicado pelos pais e pelo relacionamento de grande amizade entre todos os irmãos. Este calor do amor, nem as “Rifas” de Cristo Rei conseguiram arrefecê-lo. Obrigado, Arsénio, por me reconduzires aos puros Natais da minha serena infância. A todos os amigos da AAAR, desde já, desejo um Feliz Natal e um bom ano de 2012. Abraços
2011-12-07

manuel vieira - esposende

Não sei bem se estamos a mudar de tema pois a condição económica também proporciona grandes diferenças naquilo a que chamamos prenda.

Quando o Arsénio lembra as pinhas mansas lançadas ao lume de Natal para mais facilmente lhes retirar os pinhões gulosos, enquadro no tempo de carências e limitações num mundo que ainda não era consumista.

Provavelmente nos dias de hoje as mesmas pinhas teriam uma valorização razoável em bolsa pois os ditos pinhões comercializam-se hoje no mercado negro a cerca de 40 euros o quilograma, dando-lhe o toque de oiro a umas sementes graciosas que se encasularam na memória privilegiada do Arsénio.

Não tenho lembranças privilegiadas de prendas de Natal mas sim de quem mas deu, com o carinho enfeitiçado dos gestos maternais.

Também não lembro as prendas nos sapatinhos de criança pois os não tinha, mas recordo nostalgicamente os figos secos de ceira, as avelãs, talvez as nozes e os amendoins numa miscelânea embrulhada em cartucho da loja.

Eram subtilmente deixados debaixo da cama com colchão de palha de centeio, com travesseiros   de folhelho de milho cardados pelo suor, onde dormíamos 4 e onde os pés cansados se travestiam de negrume da terra arregaçada pelas brincadeiras do buliçoso dia.

Isso eu lembro, isso eu nunca esqueço e ainda hoje olho os figos de ceira encastelados, como se o tempo se esquecesse de avançar.

Essa mitigação em mesas pobres, essa sombra dos tempos de invernos frios de criança com sonhos fartos e felizes eram o meu Natal, eram os natais da altura.

As pinhas do Arsénio, dos pinheiros mansos enramalhados que eu trepava, dessas também eu lembro bem. Mas nada me marcou tanto como a singeleza desses dias.

2011-12-04

Arsénio Pires - Porto

Vamos mudar de assunto, não acham?

Então, aí vai.

Há dias vi esta pergunta ser feita a certas personalidades:

- Qual foi a melhor prenda de Natal que recebeste na tua vida?

Vai daí, pensei:

E se eu propusesse este tema no portal dos AAAR?

Já sei que não vamos ter respostas (é o costume… mais assistentes que jogadores, como convém!) mas eu atrevo-me a mostrar aqui a minha.

 

Não me lembro que idade teria mas andaria por volta dos 4 ou 5 anos.

Os meus Pais (nunca sei distinguir se foi ele ou ela quem mais me amou…) deram-me, na Noite de Natal, duas pinhas de pinheiro manso. Sei que devo ter ficado de olhos esbugalhados pois o meu espanto advinha do facto de eu não saber bem o que aquilo era. É que, naquela época antes da florestação ordenada por Salazar, na serra do Minheu onde a minha aldeia está enterrada, não havia pinheiros. Só carvalhos, freixos, salgueiros, vidoeiros, amieiros e castanheiros. Nem árvores de fruto, tal é a hospitalidade do frio e da neve que por ali crescem sem rega nem sega.

Perante o meu espanto, certamente esperado pelos meus pais, veio a informação:

- É daqui que nascem os pinhões. Lá dentro tens pinhões para jogarmos logo à noite ao “Rapa-Tira-Põe-Deixa”. Para os tirares, faz assim: Coloca essas pinhas nas brasas da fogueira e, quando já estiverem quase a arder, empurra-as para fora e, com uma pedra, vais batendo nestas casquinhas a começar por baixo. Debaixo de cada casquinha destas está um pinhão! Guardas os pinhões todos e logo jogas connosco!

Assim fiz e, hoje, ainda descasco essas duas pinhas sempre dentro de mim.

Porque de pequenas coisas se faz a riqueza do Amor.

 

Nos Natais da Quinta da Barrosa lembrava-me sempre destas pinhas.

Em todos os Natais da minha vida lembrei-me sempre destas pinhas.

E dos meus Pais!

Porque a ausência maior é sempre a daqueles que mais nos amaram.

 

Este é o meu postal para todos vós!

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