O nosso Presidente Vieira entrou a aguar as pessoas com o cheirinho da açorda de bacalhau e nos introduzir no novo ano que amanhã vai virar. Porreta! Eu gosto de quase todas os pratos de açorda sendo precisamente a de bacalhau aquela que menos aprecio. No entanto, a açorda é sempre boa e para mim verdadeiramente adequada porque tendo as minhas tacholas já quase fora de combate, ela pouca luta lhes dá. Por sua vez, um prato desses confeccionado pelo nosso Vieira, um mestre em todos os assuntos culinários, e da forma como ele a descreve, sem mesmo esquecer o fiozinho de azeite de Meireles (que bem conheço) terá de ser, forçosamente, um acepipe de lamber os beiços.
Estou aqui a desejar que a passagem para o novo Ano corra da melhor maneira possível e só não vos desejo grande prosperidade porque não vejo como tal seja possível nesta surreal conjuntura. Só vos peço que, se cumprirdes a tradição de botar fora tudo o que vos parecer inútil, como ferro-velho, trapos velhos e coisas que não prestem, junteis a toda essa tralha os calaceiros, finórios e demais bicharada; coelhos e ratazanas, corta-relvas, corta-ta arames, corta-matos, corta-fogos, o merceeiro Gaspar, o ressequido de Boliqueime a pandorca da Troica, os filhos deputados e toda a restante gabilha de possidónios. Podiam (e deviam) ser afogados no mar, nos lagos, nos rios e nos poços, incinerados em queimadas ecológicas, mas como toda essa sucata iria certamente poluir tais lugares da Natureza, o melhor será lançá-los num aterro sanitário.
Verifiquei que o Assis já regressou das siberianas paragens do conde Drácula ao conforto do seu cantinho de Cabanas. Também vejo que o amigo Peinado e, como ele, todos os AArs com pergaminhos neste espaço internauta, nem tugem nem mugem, conforme se verifica pela desolação que por ele grassa. Apetecia-me praguejar, no entanto e a propósito, vou apenas aproveitar a deixa contida no tópico do Né Vieira e sentenciar como fazem os alentejanos: " … isto é que vai por aqui uma açorda!" Mas, ao que venho agora é, acima de tudo, desejar a todos vós que passeis para o novo Ano com muita alegria, bons brindes e montes de bons planos. Eu cá estarei convosco a beber também, nem que seja uma qualquer zurrapa. Até ao ano que vem!
O ano aproxima-se leve, levemente do seu fim. como a balada da neve de Augusto Gil e o frio anda aí.
Amaciei agora o frio e o ligeiro semblante de fome com uma generosa açorda de bacalhau finalizada com um fio subtil e doirado de azeite virgem de Meireles, perto de Mirandela, que me truxeram um destes dias, a tempo ainda de acolitar a ceia natalícia. Tem outro "acabamento".
Na dita açorda, o toque dos coentros e o sabor bem alhado são nobre tempero da calda sobre pão fatiado de marca alentejana. Não esqueci o reforço de um ovo escalfado de proveniência caseira. Abençoado galinácio.
O Natal já lá vai e assossega-se a lareira. Já se prepara o pão das rabanadas para a mudança de ano, mas antes vai-se botar o ano velho fora: "e bota o ano velho fora e deita o novo cá pra dentro, tralaralá...", cantam os miúdos que percorrem as ruas com a carrela e as caras enfarruscadas. E repetem a cantilena à procura da moedinha.
Não sei se estes costumes se repetem por aí fora mas em Esposende ainda se cumpre a tradição e até há um concurso a que espero assistir também este ano com mais amigos que assistem e trazem normalmente uma garrafa de Favaios e uvas passas. É no Largo dos Peixinhos, mesmo no centro da cidade.
Eu já contei a minha parte...
Amigo António Rodrigues:
Efectivamente assim é! Aqueles dois rapazes que o instantâneo apanhou “em flagrante de litro” viram a luz e as sombras do dia em 1944.
Eu sei que não parecemos… mas somos!
Quero agradecer as tuas palavras de apreço e elogio sobre a Palmeira e seus colaboradores.
Apesar de não ser este o motor do esforço e dedicação que temos para conservar a Palmeira sempre jovem, sabe sempre bem ouvir opiniões de apreço como as que nos deixaste neste nosso saite.
Os autores apreciarão também.
Por nós e por eles, obrigado.
Agradecemos também o generoso contributo monetário que enviaste para alimento desta agora mais colorida Palmeira. Só assim poderemos manter vivo este projecto que já leva 34 edições.
Para ti e para todos os que nos lêem neste espaço, um Santo e Feliz Natal.
Com agrado registo o número de mensagens de Boas Festas que recebi dos colegas, umas em resposta ao meu "postal" e outras a anteceder essa minha missiva.
Algumas delas de colegas que têm estado mais distantes fisicamente nos últimos anos e que mostram a preocupação em reforçar por esta forma o vínculo que nos une.
É um sinal bem positivo e que confirma também que as novas tecnologias vão fazendo parte dos nossos hábitos de comunicação, pela rapidez, facilidade e custo.
Um abraço de Boas Festas!
Recebi, li e venho apreciando a Palmeira de Dezembro. Sem fazer nenhuma recensão crítica ou pretenciosa apreciação literária, deixem-me que pessoalmente destaque:
- Como cereja no cimo do bolo, aquele instatâneo fotográfico em que dois rapazes, há pouco desmamados, envolvem tão jovial e aconchegadamente aquele esquisito reservatório e o seu adivinhado conteúdo tão raro e precioso. Será que, precoces e atinados, repentinamente mudados do leitinho materno para o apaladado néctar, eles nos querem dizer ser aquele o ano da boa notícia de seu nascimento? Dificilmente acredito mas, se for o caso, oxalá conservem por muitos anos a boa saúde que aparentam, pelo menos enquanto forem os bons rapazes que nós conhecemos.
- Como ouro de outro quilate (de um modo muito pessoal, insisto) o texto O Lápis, da autoria de Sylviane Rigolet. Com modéstia e admiração, respeitosamente a saúdo. Não a conhecendo a ela, julgo que o Barros será um condiscípulo dois ou três anos anteriores ao meu, o de 1959.
Continuando num registo pessoal, nenhum dos outros autores me merece menor consideração, ainda assim:
- Uma natural e saudável inveja para com os poetas e todos os outros artistas, os da música, do desenho e da pintura, os da representação, etc. Para me explicar, aproveito-me daquilo que julgo ser da autoria de Mário de Sá-Carneiro e dum modo muito próximo diz: Ah divino tocador de harpa, se eu pudesse beijar teu gesto sem beijar tua mão.
- Alexandre Gonçalves, aprecio muito o teu texto: Natal - Um regresso à Infância - onde quero ver, nos primeiros períodos, um homem inquieto, informado, racional mas afectivo e, para o fim, o regresso comovente da criança da qual necessariamente nos vimos afastando mas reparando nela quando carece de afago e protecção.
- O conto do nosso querido professor, Luís Guerreiro, Prefeito quase perfeito encantou-me e surpreendeu-me. A vice-versa também é verdadeira. A afabilidade, o sorriso franco e a disponibilidade conheci-lhas e lembro-as. Este pendor um pouco marginal, algo subversivo, agrada-me. Bem-haja por mais esta lição. Fico contente por, envelhecendo, ainda ter a oportunidade de ir aprendendo coisas novas com amigos antigos.
Finalmente, lamento o desastre de ter andado arredio durante tanto tempo. Ainda bem que regresssei. Fico agradecido pelo convívio e pela amizade. Todos nós sabemos ser maior e melhor o que sentimos do que o quanto conseguimos dizer.
Um abraço fraterno e um bom Natal para todos
António M Rodrigues,
PS: Ainda não li o Acordo Ortográfico e não sei quando o farei.
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