2020-05-26
lexandre gonçalves - palmela
OBLIQUIDADES
Ao Aventino, à perturbação que semeou por estes lugares. Ao silêncio com que agora nos adormece colectivamente e sem remorso. À grandeza das suas razões e à intensidade comovida que paira nos seus textos. A isso tudo, e o mais que não importa agora referir, dedido este soneto oblíquo como reconhecimento preferencial do seu paciente perfil para este género de leituras. Com amizade e admiração. AG
Já nem redondas são as mãos que temos.
Oblíquos são os gestos e cortantes.
Amámo-nos sem termos sido amantes,
vazios nos tornámos e pequenos.
Não rimos, não lembramos, não dizemos.
O silêncio disfarça por instantes.
Fazemos ironias elegantes
para esquecer os beijos que nos demos.
Que amor obscuro nos aconteceu?
Qual de nós na cidade se perdeu,
para ficarmos ambos tão sozinhos?
Das mãos nos distraímos sem remorso.
O tempo original já não é nosso.
Cedo o vento o levou por vãos caminhos.