2013-02-12
AVENTINO - PORTO
RETRATO DO AAAR NO DIA DE CARNAVAL de 2013
A esta hora estás sentado, longo sofá gasto e escuro, a televisão ligada, o lixo a entrar pela nossa casa adentro e tu, alienado no écran, esperas a noite, esperas o jantar e depois, até amanhã querida, até amanhã, querido.
Tu és contribuinte, consumidor, passageiro, leitor, utente, doente, testemunha, o senhor que se segue. Tu és cônjuge, pai, avô, o doente, a vítima, o queixoso, o crente, o ateu, o peregrino.;
Tu és tanto e tudo, tu és a plenitude e, afinal não nos dizes nada, não dás a tua voz a tantas vozes que aqui proclamam um tempo e um sentir.
Continuas sentado no sofá onde enterras os dias. Ouço-te já no silêncio do teu olhar e nessa voz da sabedoria, tu dizes, o Aventino é um provocador; sim, o Aventino é um provocador. Era isso mesmo o meu encanto, que eu fosse um provocador, levando-te e elevando-te aqui, a este palco onde todos temos os nossos quinze minutos de glória.
(Se alguma vez te pudesse falar da angústia que há na escrita! Se alguma vez, sentados num banco qualquer de um jardim qualquer, pudéssemos falar do medo que bordeja o sair letárgico dos sentimentos, talvez soubéssemos que todo o ser humano está só e que, afinal, só nessa solidão é que há esperança).