2021-10-13
Aventino Pereira - Porto

QUESTIONÁRIO DE PROUST
Crente que ainda é possível abanar as folhas do nosso Outono, imagino as RESPOSTAS DE TRÊS ANTIGOS ALUNOS REDENTORISTAS, ao Questionário de Proust. Como são três homens bons, não levarão a mal a ousadia deste meu gesto. Então, aqui vão as “IMAGINADAS” respostas.
1. Qual a tua ideia de felicidade perfeita?
Alexandre: Oh! Vade retro Vila Nova. Vade retro e depois discutiremos o que é o quê.
Assis: a abolição da pobreza em todo o mundo.
Manuel Vieira: um arrozinho caldoso com uns carapausinhos alimados, uhau!
2. Qual o teu maior medo?
Alexandre: de alguma vez, ter que voltar a essa infância de Vila Nova.
Assis: que a pobreza ou a violência aumentem no mundo.
Vieira: que Fão deixe de ser Fão, que o Cávado não bote umas valentes lampreias e que alguma vez possa perder o apetite.
3. Na tua personalidade, que característica mais te irrita?
Alexandre: em primeiro lugar importa ir ao lugar da nossa personalidade; depois, apurar o verdadeiro significado que os Gregos imprimiram à palavra característica. Então, depois, poderemos discutir a inocência do mundo.
Assis: A verdadeira personalidade do homem é a bondade. O demais é supérfluo.
Vieira: O dizer que sim a uma boa tertúlia com a família ou com os amigos, bem temperada com um churrasco.
4. E qual o traço de personalidade que mais te irrita nos outros?
Alexandre: Quem é o outro? Real ou imaginário? Isolada ou coletivamente?
Assis: Não há pessoas más, nem com características más.
Vieira: Os enjoados, os Vegan, os que estão sempre em dieta, os vegetarianos e os que renegam um bom naco de toucinho ou de redenho.
5. Qual a pessoa viva que mais admiras?
Alexandre: A pessoa é o Pessoa que continua vivo na desgraça emocional da nossa suposta portugalidade.
Assis: Os pobres do mundo que, apesar disso, encaram o dia, todos os dias, com um sorriso nos olhos.
Vieira: Uma boa risada, uma mesa cheia com amigos e uma sestinha ao domingo à tarde, isso é que eu admiro.
6. Qual a tua maior extravagância?
Alexandre: No meu refúgio, encostado ao cajado, e a filosofia a brilhar no meu pensamento.
Assis: A minha extravagância não fui eu quem a criou, nem fui eu quem a quis. Viver melhor do que milhões de seres humanos no mundo, é que é uma enorme extravagância.
Vieira: raramente dizer que não.
7. Qual o teu estado de espírito neste momento?
Alexandre: Voando bem longe da materialidade.
Assis: à volta com a injustiça das noites frias que matam as minhas adoradas rosas.
Vieira: Neste momento, neste momento, ainda falta tanto para a favada em casa do Assis.
8. Qual a virtude que pensas estar sobrevalorizada?
Alexandre: Chamando virtude ao relativo, não é? Quem nos diz o que é o valor, o que é a virtude? Témis era cega e era a deusa da justiça mesmo sem ver as virtudes dos homens ou dos deuses.
Assis: A riqueza material.
Vieira: a elegância, física, naturalmente.
9. Em que ocasiões mentes?
Alexandre; Sempre, naturalmente. O que é o homem sem a negação da sua própria verdade?
Assis: Quando penso que o homem é bom.
Vieira: Quando, na verdade, digo sim mas queria dizer não.
10. O que menos gostas na tua aparência física?
Alexandre: Tudo é aparência. Assim como a vida supera a própria ficção, todo o parecer supera a realidade.
Assis: que importância tenho que não seja sonhar que o mundo ainda se pode compor?
Vieira: Oh! O meu ar subnutrido.
11. De entre as pessoas vivas, qual é a que mais desprezas?
Alexandre: Acima do Equador, abaixo do Equador, da Antártida até ao Ártico, tudo o que é vida me encanta; mesmo a vida humana.
Assis: os videirinhos.
Vieira: os mesmos que o nosso ASSIS.
12. Qual a qualidade que mais admiras num homem?
Alexandre: a grandeza. “para seres grande, sê maior”.
Assis: A dignidade de não rejeitar ninguém. A bondade, o despojamento, a riqueza de espírito, o encantamento pelos simples.
Vieira: isso mesmo: ser HOMEM.
13. E numa mulher?
Alexandre: Vinde todas, oh deusas, visitar-me às minhas terras do Sul, e faremos juntos o nosso PARAÍSO imaginado.
Assis: Esqueço todos os dias o Antigo Testamento e tomo o caminho da igualdade.
Vieira: Chatear só um bocadinho!
14. Diz uma palavra ou uma frase que usas com muita frequência.
Alexandre: Uma só palavra?! Não consigo; mas aí vai: além.
Assis: então, moço?!
Vieira: Está mesmo no ponto.
15. O quê ou quem é o maior amor da tua vida?
Alexandre: O amor já é grande, não há maior nem menor. Falemos antes de plenitude. Oh! A minha liberdade, a minha ausência; o horizonte e as minhas pontas dos pés; o sol e a chuva; o pensamento luminoso, ainda.
Assis: a minha família e um dia de sol na minha eira.
Vieira: a família e o meu Fão.
16. Onde e quando te sentes mais feliz?
Alexandre: No refúgio de Palmela com o pensamento em turbilhão.
Assis: A felicidade só tem lugar na paz. É aí mesmo, nesse campo eterno.
Vieira: Quando as minhas ironias deixam felicidade no coração dos outros.
17. Que talento não tens e gostarias de ter?
Alexandre: Viver na Terra, deixando de voar pelo pensamento adentro.
Assis: transformar o desperdício em pão para a humanidade.
Vieira: pescar boas lampreias e bom sável, debruçado na ponte velha de Fão.
18. Se pudesses mudar algo em ti, o que seria?
Alexandre: libertar-me da filosofia.
Assis: Ah! esta incapacidade de fazer mais pelo próximo.
Vieira: Está tudo bem, tão bem, que não é preciso mudar nada.
19. Qual consideras ter sido a tua maior realização?
Alexandre: manter vivos todos os sonhos. Pensando melhor, não ter sonhos.
Assis: ter resistido sempre à máquina do consumismo.
Vieira: a construção dos afectos.
20. Se houvesse vida depois da morte, o quê ou quem gostarias de ser?
Alexandre: Deus
Assis: São Tomás D’Aquino.
Vieira: O Pantagruel de Rabelais.
21. Onde preferes morar?
Alexandre: No meu canto de Palmela
Assis: No meu paraíso FRADINHO, de ORBACÉM
Vieira: No meu Minho, todo inteiro e verdejante.
22. Qual o teu maior tesouro?
Alexandre: fazer trilhos, caminhos, estradas e auto estradas, aeroportos e portos, num grande campo de desconcentração onde só cabem os sonhos.
Assis: não querer nada material.
Vieira: aquele belo relógio que o meu pai me deixou ou que tanto me queria deixar.
23. O que consideras ser o cúmulo da miséria?
Alexandre: umas oitavas abaixo do tom, uns graus abaixo do limiar da inteligência.
Assis: ser rico e não partilhar.
Vieira: a anorexia
24. Qual a tua ocupação favorita?
Alexandre: “caminhar solitário por entre as gentes”
Assis: os meus rododendros, as camélias, as rosas, os ibiscos, os crisântemos, as laranjeiras, as favas, as ervilhas, as couves, os diospiros, ah! e as abelhas voando por entre os meus braços, para perpetuarem a beleza do jardim.
Vieira: um banco de madeira corrido, debaixo de uma ramada de uvas moscatel, amigos e garfos, rindo-nos todos da inutilidade da vida.
25. E a tua característica mais marcante?
Alexandre: as asas com que voo, em permanência.
Assis: o desprendimento.
Vieira: como as águas do meu Cávado, a limpidez.
26. O que mais valorizas nos amigos?
Alexandre: Entenderem, mas não me entenderem.
Assis: A pureza.
Vieira: o abraço dos amigos, que tudo estremece.
27. Quem são os teus escritores favoritos?
Alexandre: Todos os da Torre do Tombo, da Biblioteca Joanina de Coimbra, da Biblioteca Nacional, das bibliotecas existentes do Pacífico Sul ao Ártico, da Islândia à Nova Zelândia.
Assis: São Paulo, Machado de Assis, Pessoa, Padre Mário de Oliveira, o Antigo Testamento.
Vieira: Pedro Homem de Melo, Eça de Queirós, Régio, Torga, Pantagruel, Maria de Lourdes Modesto.
28. Quem é o teu herói de ficção?
Alexandre: D. Quixote.
Assis: o HOMEM bom.
Vieira: Sancho Pança.
29. Com que personagem histórica mais te identificas?
Alexandre: Dante, e o seu inferno.
Assis: São Martinho e o seu manto partilhado com o pedinte.
Vieira: Afonso Henriques a conquistar a naçom (!).
30. Quem são os teus heróis na vida real?
Alexandre: o pensamento, a filosofia, a evasão, os livros.
Assis: Quem sobrevive à miséria com um sorriso permanente.
Vieira: os que ainda mantêm a honra.
31. Quais os nomes próprios de que mais gostas?
Alexandre: Alexandre, António, Maria, Pedro, Pai, Mãe, Filho, Avô, Avó.
Assis: Francisco, Pedro, Paulo, João, Pai, Mãe, Filho, Avô, Avó.
Vieira: Manuel, Madalena, Rui, Jorge, Pai, Mãe, Filho, Avô, Avó.
32. Qual o teu maior arrependimento?
Alexandre: Vila Nova.
Assis: não ter feito os milagres das ROSAS e das Bodas de Canã.
Vieira: aquele banquetezinho a que não pude ir.
33. Como gostarias de morrer?
Alexandre: Ah! em vivendo morres, em morrendo perduras. “eu sou devedor à terra e a terra me está devendo”
Assis: como vivo os dias, em paz.
Vieira: no meio dos abraços da família e dos amigos.
34. Qual o teu lema de vida?
Alexandre: se não posso voar, posso tentar, ao menos.
Assis: Dá, que estás a receber.
Vieira: Todos os dias, a vida é melhor.