Desculpai eu voltar aqui novamente; mas sou daqueles que não consigo calar uma surda indignação perante o que se está a passar neste meu desgraçado País e vós puxais por mim.
Amigo Arsénio, a resposta á sua pergunta é variável, porém, as contas são boas de fazer: se em Portugal (e o cálculo, suponho, servirá para todo o Mundo) tomando como verdadeiro que há mais ou menos milhões de habitantes activos e quase todos deles (por enquanto) são pobres ou para lá caminham havendo, dizem, trezentos mil ricos, faça-se a operação:
5 000 000 ÷ 300 000 = 16 6666666666667. É uma conta surreal? É capaz de ser, mas sempre é uma conta.
Se atentarmos bem no sermão aos peixes do Pe. António Vieira, está nele uma parte da resposta:
"… A primeira cousa que me desidifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."
Como se vê, no tempo do pregador e nessas circunstâncias a proporção não era assim tão grave porque, pelo que se leu, para fazer um rico só eram necessários mil pobres e, nos tempos de hoje, já não chegam 16 000, só em Portugal.
Nada me move contra os ricos quando eles, para o ser, lutaram, suaram e trabalharam no duro que, como todos sabemos, mesmo agindo dessa forma é muito difícil lá chegar. Mas estes ricos de que vos falo, não só nunca trabalharam, como sempre viveram da ladroagem, da rapina e da extorsão, com grandes doses de cinismo e arrogância: políticos parasitas, porque não roubam só o sangue, mas também a dignidade, espalhando o desespero, a loucura e a fome em milhões de seres humanos.
Este estado de coisas leva-nos, estranhamente, á solução do problema, preconizado também pelo ilustre e sacro tribuno: inverter a obscena posição e serem os pequenos a comer os grandes. Não resolvia nada? Ai resolvia, resolvia! Confisque-se todo o espólio roubado, ainda na posse dos ladrões e hão ver que nenhum pobre irá ficar sem qualquer subsídio. É evidente que eles nunca vão ir por aí.
Como vê, caro Arsénio, poderá não ser a melhor, mas esta é a minha resposta á sua angustiosa questão! Você também aporta um bom contributo: "… na sua casa, como na minha e na grande maioria delas, todos somos ricos porque o pão e o vinho são repartidos igualmente por todos."
É isso!
Não vou demorar, pois continuo às turras com a PT e só tenho um sapionho pequeno para dar o salto até vós.
- Estou gostando da conversa toda e de todos vós. Só o Peinado não respondeu se tem a tal (,) ou o (.) entre os nomes. - Adorei a redacção do Zequinha e dos seu vampiros, que também me irão morder dentro de alguns dias...Adorei. -Quanto ao número de pobres necessários para fazer um único rico, também não sei. Já nem o Lorde BYron, o romântico inglês, creio que é assim que se rescreve, se interrogava quando falava dos pobres que tinham de baixar ao inferno das minas de carvão...Não sei se alguém saberá...mas devem ser muitos. -Aos que me possam ouvir, e ler especialmente se se encontrem por perto de Cabanas, informo que há Diospiros e Fisalis no meu quintal. Apareçam antes que os passarões acabem com eles.
- Aquele abração
A única causa da pobreza é a riqueza.
Na minha casa, todos somos IGUALMENTE RICOS porque o pão e o vinho é repartido IGUALMENTE por todos.
Na Casa Comum dos Homens deste planeta não é assim. Há sempre elementos da família que partem, repartem e ficam com a melhor parte. Não são tolos, não senhor! Percebem da arte. E fazem tudo segundo a lei que eles mesmos redigiram.
É por isso que, aqui neste fórum, ainda ninguém me respondeu à pergunta:
- Quantos pobres são necessários para fazer um rico?
REDACÇÃO DE UM PUTO DE ESCOLA
Os vampiros. Eu nunca vi nenhum vampiro. Dizem que são uns bicharocos negros e muito feios que voam de noite, em magotes. Que não têm ossos nem penas macias, mas nervuras ásperas. Que só bebem e gostam muito de sangue. Que têm uns dentes ocos e aguçados com que chupam o sangue das pessoas. Disse-me o meu amigo Tone da Reigada que já viu um. O Tone é um mentiroso porque está a dizer isso só para me assustar. Mas o meu pai, quando lho perguntei, encolheu os ombros e só me disse que os vampiros existem e atacam tudo o que lhes cheire a sangue. Que começaram a aparecer há alguns anos, num certo dia de Abril. Eram muitos e mais vieram depois, engrossando o bando; tinham cada vez mais sede e todo o sangue que havia já não ia chegando para os fartar e quanto menos sangue havia mais desaustinados iam ficando, ao ponto de perderem algum receio e começarem a sair do escuro da noite para se empanturrarem em plena luz do dia. Agora andam por todo o lado e atacam sem medo e ás claras.
Ah, se calhar é verdade e por isso é que eu vi tanta gente nas rua a berrar e então alembrei-me duma cantiguinha de vampiros que cantava que eles comiam tudo e não deixavam nada. Que sugavam o sangue e ficavam com os beiços muito focinhudos, como os dos aganões, todos lambuzados, tão gordos e inchados que até quase estoupavam. Mas logo lhes vinha a fome e então lá iam eles outra vez a voar de noite e até de dia á procura de mais sangue. E nunca se fartavam.
O meu irmão mais velho, o Nelo, que já é casado, disse-me que já foi mordido por eles, que perdeu muito sangue e o fez ficar sem o dinheirinho das férias e do Natal. Que este ano não me ia dar a prenda do costume porque não podia, que nem aos meus primos, os filhos dele, lhas podia dar. Há dias ouvi minha mãe, danada, a barafustar que essa bicharada tinha andado por lá e a tinham cravado, que eram piores que os ladrões porque levavam tudo pela calada. Até o meu avô Bílio e a minha avó Quina, que mal vivem duma reforminha que recebem, me mostraram umas mordidas frescas que os malvados lhes tinham feito numa noite destas, tendo ficado sem algum do seu pouco sangue e também, por via disso, nem um rebuçadinho me iam poder dar neste Natal. A minha professora também me disse que tem sido muito mortificada pelos vampiros, que os sente á volta dela a quererem mordê-la e que, muitas vezes, nem a deixam sequer dormir. O meu tio Artur, que gosta muito de ir á bola, anda sempre a dizer que os viu lá pelos campos de futebol a chuchar as outras equipas e que no fim do jogo se vão embora tão gordos e inchados que até arrebentam. Por isso eu não sei se vou ter de acreditar mas, se tanta gente o diz, deve ser verdade. E começo a ficar também muito acagaçado.
Eu não gosto nada de vampiros!
Zèquinha
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