CARTA PÓSTUMA
Saudosa Helena de Tróia ou de Lisboa
Soube recentemente notícias a teu respeito. Nós tivemos em tempos uma suave amiga comum, cúmplice dos nossos segredos, que protegíamos de todos os olhares. Encontrei-a casualmente e nem foi preciso eu perguntar. Sei os pormenores e estou a lidar com eles como se duma ferida se tratasse. Eu já sabia que não havia outra metafísica diferente da que praticávamos. Pessoa e Sofia ensinaram-nos isso muito cedo. E por isso nós começámos a comer chocolates. Rebolávamos pela relva irresponsavelmente. Um dia beijámo-nos na via pública. O trânsito parou para nos ver e nos aplaudir. As buzinas fizeram um coro de ovação. Nós queríamos provocar. Queríamos dizer-lhes que eles estavam errados. Nós e todos os dessa geração íamos ser diferentes. E íamos transformar o mundo. Nem uma coisa nem outra. Fomos quem fomos, candeeiros de chama que um pouco de vento apagou. Para sempre.
Estou diante do teu carro partido. O mecânico adiantou outras informações. Não levavas cinto e entraste num caminho de terra batida, com o mesmo ritmo que trazias duma estrada de alcatrão. O teu seguro caducara dias antes. Não houve ninguém para pagar o reboque. Não foi um final brilhante. Nas minhas contas, deverás ter cinquenta e cinco anos. Procurei vestígios. Nem o mínimo sinal. Ao ver-me tão interessado, o mecânico perguntou-me se eu queria comprar os destroços, para aproveitamento de peças. Retirei-me com uma dor mortal não localizada. Quis chorar. Não consegui. Parei o meu carro em Monsanto, num miradouro que protegeu muitas vezes as nossas fugas. Acendi um disco e rodei para trás até onde pude.
Conhecemo-nos na faculdade. Tu a começar e eu a concluir. Foi um incêndio que lavrou os nossos corpos. Romeu e Julieta apagavam-se perante a nossa paixão. Começámos em novembro com a chuva. Molhávamos muitas vezes os cabelos e as roupas e não tínhamos frio. Amámo-nos no areal e morríamos devagar. Um dia esperavas por mim junto às escadas, ao primeiro tempo da manhã. Posso fazer-te uma proposta, perguntaste. Tu não querias aulas, eu muito menos. Entrámos no meu carro, atravessámos Lisboa e fomos parar à Baixa. O dinheiro não nos sobrava mas chegou para comprarmos umas gangas cada um. As tuas muito justas, a ponto de o teu corpo, também justíssimo, só entrar a custo e com ajudas exteriores. As minhas bamboleavam sem jeito nem rigor, em nome de um conforto não negociável. Assim armados, entrámos como dois barcos de pesca no mar baixinho do Estoril.
Estou a ficar perturbado. Com algum esforço, talvez consiga uma lágrima que seja. Bem falta me faz. Ouço Teodorakis, um músico desse tempo, que ainda me acompanha com frequência. Andámos nisto até ao verão. Em julho foste embora e só regressaste no fim de setembro. Escrevíamo-nos quase todos os dias. Numa carta mais ousada, dizias que eu era a tua vida. Ou eu ou nada. Antes freira que perder-me. Eu estava na idade de ser sério. Disse que sim, que o destino estava do nosso lado. E coisas assim. E disse-o convictamente. Chamaste-me então "Adérito querido".E acrescentavas: eu não gostava desse nome. Mas agora soa a música! Porque te amo na ausência, mais do que a mim própria. Durmo contigo, acordo contigo, e é contigo que vou aos campos..." Também eu odiava o meu nome. Mas nessa data mudei de opinião. E afiz-me à ideia de selar tanto amor com todas as promessas possíveis.
Porém, penso eu, tudo isto vai mudar. É bom de mais para ser verdadeiro. Aumento o volume de som e vou lá baixo aos seus vinte anos. Entro como hóspede e rapto o seu corpo indefeso. Os seus olhos amendoados. Vinte anos sóbrios, contidos, duros. Estremeço. Pressinto culpa, como quem tem entre mãos um tesouro e o esbanja sem disso se aperceber. Eu já fiz trinta. Já provei muitos frutos. Quem sou eu para me armar em Páris e levar par Tróia a bela Helena? No fim das férias uma carta. Anuncia o regresso e sublinha: "uma novidade. O meu ventre, que tu exaltas, anda a dilatar-se. E garanto que não é obra do Espírito Santo. Que fazemos?" Fiquei aterrado. Não era que eu recusasse fosse o que fosse. Era antes a inoportunidade da hora. Era a relação clandestina. Era uma família incapaz de compreender, incapaz de perdoar, incapaz de receber a notícia. Esperei por ela no Rossio e chovia. Abraçámo-os e chorámos. Então eu disse: não podemos. Insisti. Não podemos. Mas a última palavra é tua. Aceitarei a tua decisão. Mas ela não decidiu. Abandonou a faculdade e regressou à aldeia. Nem palavra vai para mim. Fiz tudo. A tudo respondeu com silêncio. Dois anos depois, tenho a primeira notícia. A Helena transferiu-se para Coimbra. O ventre dela, que era belíssimo, belíssimo continuou, agora a cargo de um doutor de leis, recrutado pela família. Após a conclusão do curso, o casal vem para Lisboa, ao cheiro da política. Ele chega a deputado e reforma-se muito cedo. Mas o tempo foi escasso para saborear o ócio. Foi dormir para o campo lá para o alto de S.joão. Nunca mais voltou. Helena ficou a chorá-lo por pouco mais do que seis meses. Mas quando capotou e se extraviou pelas estrelas, ninguém apareceu para a chorar. A não ser este coro grego que eu escuto, derramando finalmente lágrimas de fogo sobre este carro partido, sem seguro e sem dono.
Gosto muito de mulheres gordinhas,
Rebolonas, cheias, rechonchudas,
Curvilíneas, lindas, redondinhas
De pele macia e lisa, não peludas.
Sei que foi moda noutros tempos!
Já tive a mania delas como espetos
Altas, magras, hirtas, quais palitos,
Ossos a furar de dentro de esqueletos
Parecendo canivetes esquisitos.
Mas agora não, mudei o pensamento.
Agora gosto delas com pernas torneadas
Com nalgas bem fofas e roliças
P´ra nelas poder bater suaves palmadas,
Sonoras, cantantes, estaladiças:
Que lindas são, ai que espavento!
Com seios grandotes, duros, muito certos,
Harmonia de ancas, sem extravagâncias
Cinturas sem espartilhos nem apertos,
Como diz Petrónio, o das elegâncias.
.
Gosto delas com coxas boleadas
A assomar pela cortina duma racha
De saias bem justinhas e amoldadas
Que protejem a mítica pachacha.
Que coisa nunca vista, que portento!
Adoro barriguinhas comedidas
A mostrar requinte de lendário ventre;
Braços roliços com mãos atrevidas
Que nos sufocam num abraço quente
Gosto de lábios carnudos, sensuais
Que mordem com fúria em beijos desabridos;
Mas os cabelos não me interessam mais
Podendo mesmo ser curtos ou compridos.
O que me havia de dar, não tomo tento.
Podeis chamar-me tolo, maluco, depravado,
Talvez até sem gosto, antiquado;
Que quereis:
Gosto de sentir o desejo
De admirar o que vejo.
Mas não zombeis de mim
Nem pouco nem por inteiro
Porque eu sou assim;
Se o fizerdes não me importo
Pois eu gosto
E tal está primeiro
Sou homem,
Sou assim,
O Martins Ribeiro.
Companheiro:
Se ainda não leste o meu post anterior a este, vai ler. Não te baldes!
Depois, aconselho-te a leres um artigo do nosso colega Jorge Bento saído recentemente nalguns órgãos de comunicação social e que coloquei em "Pontos de Vista". Vais gostar!
Companheiros:
O nosso “meet” continua convocado para a Quinta da Barrosa. As redes sociais têm espalhado a boa notícia. E vai realizar-se… mesmo que a polícia faça um cordão à volta do que resta daquilo onde adolescemos!
O nosso “meet” é pacífico. Queremos mesmo é abraçar-nos e meter para a blusa.
Os tempos de Setembro, em que já estamos, não nos permitem grandes folganças a não ser um molho de palavras à volta dum prato suculento e dum copo a transbordar. (Disto nos poetará o nosso Alex!)
E cá vamos aumentando o grupo. Sem tiros… mas com beijos e abraços pois é assim que os amigos se convocam e saúdam!
Chegámos à trintena! Já fazemos uma grande mesa!
Sabemos que há mais quem esteja a organizar-se PARA NOS DIZER QUE VEM.
E nós, os que já dissemos SIM, temos a obrigação de trazer mais um! Espalhemos a notícia!
Mas só mais um… que há numerus clausus: 127!
LISTA DOS FUTUROS PRESENTES NO ENCONTRO NACIONAL 2014
01. Vieira
02. Alexandre
03. Arsénio e Carolina
04. Nabais e Micas
05. Assis
06. Barros
07. Delfim e Dulce
08. Cabral e Antónia
09. Serapicos e esposa
10. Peinado
11. Martins Ribeiro e Conceição
12. Sacadura
13. Castro
14. Ismael Vigário e Fátima
15. Eugénio e Maria do Céu
16. António Rodrigues e Silvina
17. Aventino (não comunicou que não vinha! ehehehehe!)
18. Cardoso e Luísa
19. Lage e Adília
Vou - me embora de Lisboa
Onde vi pedreiros e doutores
Vi gente com vida boa
Vi PESSOAS comendo lixo nos contentores
Aquele abraço
Zé Lamas
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