2014-12-20
Ismael Malhadas Vigário - Braga
Poema virgem:
E o frio das palavras magoa fundo
em mim o desejo de não as sentir,
mas vai até ao fundo de mim
e transtornam-me o ser
e deixo de ser eu
para ser a dor em mim
sinal das marcas das tuas palavras em mim.
Queria viver a usufruir o ser
e sentir completamente
o que vai fundo em meu desejo
de me sentir em ti.
(Dou comigo a não querer ouvir-te
e as palavras são a minha ferramenta
desde a manhã ao entardecer .
Como desgostar das tuas palavras
que para mim diriges?
És um novo Cupido!...
A política, a economia... Não, isso é apenas prosa, ponto.
Não quero ouvir as palavras
que impedem de ver
e sentir a verdade , (aletheia, diziam os antigos gregos)
que desde cedo tanto desejo
e quero sentir, Aesthetica,
sentir o espírito no corpo, como sensação única,
ser individual, existencial, pessoa.
E os dias são maravilhosos porque sensuais
desde a cor das folhas das árvores,
o chão que toco e me segura, pedestal de mim próprio
e desloco-me até onde me conduz a minha imaginação.
Eu sou a minha imaginação, mais que as coisas em que habito.
II
Adoro estes dias de outono ao entardecer,
são frios e a luz embeleza as árvores
que da sombra se destila das colinas de nuvens até às chamas crepusculares.
Vou e sigo as ruas de passeios empedrados
e históricos de tão gastos pelos mares de gente a passar
e são luz e contraluz que me choca o olhar
faço o caminho em contramão de ilusão
alojo o sonho
mesmo que haja mais nuvens de fogo
a enrolarem-se no mar.
Atiro-me em frente do meu caminho e que vejo?
Relâmpagos a saírem do mar
desfazem-se em centelhas na duna
eis uma torrente a inundar-me de mar.
As ondas enrolam-se em ternuras de mãos
e são auréolas em regaços de águas matinais
És mulher
és onda
és nuvem
e os cabelos são carícias em rochas
envoltas em madeixas frondosas a escorrerem tardes outonais
gaivotas fugidias de voos picados no mar
recolhem a presa tão desejada
mulher ou sonho?
Brinquedos anelados seguram dedos finos
e as mãos são frescas e lustrosas,
conduzem veados das dunas até ao mar
enrolam-se na areia fina de brilho estelar,
e as tuas ideias fluem em mim
luz anosa de exausto serviço natural…
e as tuas faces de rosas doiradas ao amanhecer-
recendem em centelhas a incandescer as fontes,
e ondulam jorros de luz a quebrar ao céu.
Mulher!...
Vens donairosa de ternura à planura do corpo
guias em brisa ao romper da alva
levitas na minha mente como suave asa
desejo ser mais que um corpo sensual
madrugada perene na planura do teu corpo
vitória da luz sobre a treva…
és deusa ou és mulher?!...
Autor: Ismael Malhadas Vigário
19/12/2014