2009-11-22
Regresso
Um dia voltaremos ao lugar
àquele ninho antigo abandonado
onde os pássaros do sol adormeciam
pétalas de sombra debicadas pela mãe
com dedos alongados de luar
e ramos verdes de estrelas
entrelaçados nos cabelos.
Os passos quedaram-lhe suspensos
no aroma vermelho da flor de ervilha
quando lhe acenámos na curva do caminho
metendo à pressa no saco da memória
o cheiro a feno espalhado no lameiro
o cheiro a terra esfarrapada pelo arado
o cheiro a palha na malhada do centeio.
Quando formos só passado
e tudo de nós se despedir
cavalgando o outono nas folhas do vento
beberemos dos lábios do silêncio
o quase ténue perfume da serra
que acordará na noite as pedras do regresso.
E ao soluçar dos gonzos ferrugentos
saberemos que a cinza das estrelas
afogueou a lenha que deixaste
acamada e seca
sobre a pedra ainda quente da lareira.
Arsénio Pires