entrevista

2011-04-15

DAVIDE ANTUNES VAZ

Nascido na aldeia do Soito do concelho do Sabugal no ano de 1942, entra 11 anos depois na Quinta da Barrosa onde já “residia” o seu irmão João Augusto, mas a doença forçou-o a regressar à terra 2 meses depois, voltando ao seminário no ano seguinte em ajuntamento vocacional já com o Assis, o Freitas Escaleira, o Baptista, o Benjamim Parra e o António Ferreira, entre mais. No ano anterior eram seus parceiros o José Queirós Alves, o Bernardino Pacheco, o Lucílio Galvão e o Barros entre outros.

A residir em Almada, é presença assídua nos Encontros de Palmela onde exerce magistralmente a confecção gastronómica e quando pode, faz umas fugas ao Norte.

Tem um GPS mental quando fala dos colegas do seu tempo e ainda hoje procura localizar alguns, por vezes com sucesso.

O nosso Davide, perfilado de boina basca, dispôs-se à conversa:


1-Tantos anos depois o que recordas de mais marcante na tua passagem pelo  seminário?

Após a minha saída do seminário e de lá o que recordo mais são os bons amigos que ali conheci e cuja amizade perdura para além de tudo.

Embora não haja grandes e boas recordações do seminário, as recordações dos bons amigos perduram. Isto é como na Tropa: - Não gostámos, mas ali fizemos bons amigos.

 

2-Como encaraste a saída da Quinta em 1958?

Encarei a minha saída do seminário de uma forma contraditória e ao mesmo tempo foi a conclusão de uma morte anunciada:

- Por um lado é a conclusão de um processo natural pois já tinha atingido uma saturação enorme de estar ali e "aquilo" já não me dizia nada;

 - Por outro lado, dada a educação que ali nos era incutida, tinha um pavor imenso de encarar o "mundo" exterior pois, pela educação ali recebida, o mundo era um antro de perdição e, eu não fora preparado durante a minha estadia no seminário de forma a encarar os "perigos desse antro".

 

3-Como foi a adaptação ao exterior?

A minha adaptação ao exterior foi muito difícil! Saí do seminário com medo de tudo e todos, com complexos de toda a ordem.

Não sabia falar com uma jovem menina e pensava que só olhar para ela já era um pecado mortal.

Levou anos até me sentir integrado no "mundo profano".

Vim do seminário com uma formação machista, já que nos apresentavam sempre a mulher como "a fonte de todo o mal" e só há bem pouco tempo consegui "extirpar" aquele machismo, e não sei se totalmente.

 

4-Em poucas linhas traça o teu percurso de vida pós seminário:

 Saí do seminário e fui para a minha terra (Soito-Sabugal) onde vivi cerca de 9 meses; depois fui trabalhar para Lisboa durante meio ano; de seguida fui para o Sabugal onde fiz o 5º. Ano do liceu; Concluído o 5º. Ano do Liceu fui de novo para Lisboa onde trabalhei durante 3 (três) anos nos Hospitais Civis de Lisboa (de Setembro de 1961 a Agosto de 1964); emSetembro de 1964 entrei na tropa e embarquei para Moçambique em Março de 1966 e ali permaneci até Abril de 1968; em Agosto de 1968 entrei no Banco Nacional Ultramarino até 1990; entretanto tirei o curso de Direito como voluntário, curso esse que concluí em 1980.

 

5- Foste bancário e ainda és advogado. Como chegaste a “chefe de culinária” doméstico e o que sentes quando partilhas os teus sabores com tanto saber?

 Concluído o curso de direito e feito o respectivo estágio, comecei a advogar em 1982 e, hoje, embora estando já reformado ainda vou mexendo um bocadinho em processos.

Quanto à "arte" culinária ela nasceu de forma natural e quase espontânea. Ainda não tinha  dois anos de casado e já tinha três filhos, um rapaz nascido em 14/08/1973 e duas gémeas nascidas em 05/09/1974.

Perante este crescimento tão rápido da família eu tinha de colaborar nas tarefas domésticas e, às tantas, apercebi-me que me "safava" com os tachos...

Assim, aos poucos, fui-me fazendo um "chefe de cozinha" como tu dizes...

Quando faço um petisco para um grupo de amigos sinto um prazer enorme! Sinto-me realizado já que entendo a culinária como uma arte criativa.

 

6-Como vês a Associação dos Antigos Alunos, como presente e como futuro?

 A Associação do Antigos Alunos está bem e recomenda-se. Prevejo-lhe um futuro longo e risonho mas, atenção, para que tal aconteça, é mister que o caminho a percorrer seja feito de modo a todos terem nele cabimento. Ou seja, nada de fundamentalismos mas sim uma abertura tal onde todos possam ter cabimento, independentemente de opções religiosas ou cores políticas.



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