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2013-02-19

RENUNCIA DE BENTO XVI

Reflexões sobre renúncia de Bento XVI

Faustino Teixeira, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, comenta a renúncia de Bento XVI e as perspectivas para a Igreja.

Eis o artigo. 

É muito complexa a situação da Igreja Católica Romana (ICAR). Lemos hoje, 13/02/2013, na FSP (Folha de S. Paulo), numa reportagem de Patrícia Britto, que o cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo (e que participará do próximo conclave) sublinhou que “dificilmente o Papa que substituirá Bento XVI mudará a forma como a Igreja lida com temas considerados polémicos” e “que será difícil dizer simplesmente sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores” . Essa é, infelizmente, a cantilena que estamos habituados a ouvir por parte de segmentos da hierarquia actual. Uma dificuldade impressionante de ousadia e profetismo.

Vale a pena ressaltar aqui algumas notícias dos jornais internacionais sobre a actual crise no Vaticano, em particular as reflexões de Massimo Franco no Corriere della Sera. Na sua avaliação, aquilo a que assistimos hoje é o “sintoma extremo, final, irrevogável da crise de um sistema de governo e de uma forma de papado”. E fala da deriva de uma Igreja-instituição que em poucos anos passou da condição de “mestra de vida” para “pecadora”, de “ponto de referência moral da opinião pública ocidental”, para uma espécie de “acusada global”, agredida e pressionada por segmentos diversificados.

Clovis Rossi chega a falar na sua coluna na FSP de uma “guerra civil no Vaticano”. E o filósofo italiano Gianni Vattimo, no seu blog – reproduzido no jornal Il Fato Quotidiano (13/02/2013) – sublinha que a demissão era a única coisa que um Papa poderia seriamente fazer. Ele acrescenta que se Jesus vivesse hoje entre os seus pseudo-sucessores “abandonaria imediatamente o Vaticano, e talvez retornasse à Palestina para estar junto dos perseguidos e expropriados daquele lugar, e não perderia mais o seu tempo, e alma, a seguir as vicissitudes da política italiana (...)

”Para Vattimo, a renúncia papal indica um distanciamento das “funcionalidades terrenas” e a necessidade de apontar, talvez, para a “face anárquica, e autenticamente sobrenatural, do Evangelho”, abrindo a possibilidade para o cristianismo de se tornar novamente “uma escolha de vida possível para as pessoas de nosso tempo” .

Leonardo Boff fala também no seu último texto sobre a importância de se retomar um modelo dialogal para a Igreja, em sintonia com o Vaticano II, Medellin e Puebla, de uma “Igreja-aprendiz e aberta ao diálogo com todos”, de liberdade e criatividade. E Hans Küng no seu recente livro – Salviamo la Chiesa (1) -, indica a necessidade de um tratamento para a Igreja, de uma “terapia ecuménica” que ajude a vencer a “osteoporose do sistema eclesiástico” . E coloca o dedo na ferida, ao falar da necessidade imperiosa de uma reforma da Cúria romana à luz do Evangelho. Uma reforma que deverá contemplar: humildade evangélica (com renúncia de todos os títulos honoríficos estranhos à Bíblia), simplicidade evangélica, fraternidade evangélica e liberdade evangélica.

Nesse delicado momento de preparação do conclave que escolherá o novo Papa, os analistas chamam a atenção para problemas internos da Cúria romana, que também pressionaram a decisão de renúncia de Bento XVI. Em entrevista publicada hoje no O Globo, o famoso teólogo espanhol, José Ignacio González Faus, faz menção a tais pressões. Ele afirma: "Eu não me estranharia que a renúncia estivesse ligada a problemas com a Cúria". O Papa "já arrastava problemas com a Cúria desde que afastou do sacerdócio Marcial Maciel, acusado de abusos sexuais" . Chama a atenção para aquela oração proferida pelo então cardeal Ratzinger na cerimónia da Sexta-feira Santa em Roma, comentando a IX estação da Via Sacra. Reproduzo aqui o que ele disse no ocasião:"Quanta sujidade há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência!” “Senhor, a vossa Igreja parece-nos muitas vezes uma barca que está prestes a afundar-se, uma barca que mete água por todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos mais joio do que trigo. O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja horrorizam-nos. Mas somos nós mesmos que os sujamos! Somos nós mesmos que Vos traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes gestos."Segundo González Faus, os intérpretes na avaliação feita nessa altura, achavam que ele estava a referir-se à pedofilia na Igreja, mas em boa verdade, os indícios apontam que poderia ser uma alusão à Cúria romana, essa mesma Cúria que terá voz activa na eleição do próximo Papa em 2013.

Nota:1.- O livro, originalmente publicado em alemão, Ist die Kirche noch zu retten? (2011), foi traduzido e publicado em português com o título "A Igreja ainda tem salvação?" pela Editora Paulus, 2012. (Nota da IHU On-Line)Extraído de http://www.ihu.unisinos.br/noticias/517573-reflexoes-em-torno-da-renuncia-de-bento-xvi acesso em 14 Fev. 2013.

Postado por Arsénio Pires



Comentários


2013-02-24

Arsénio Pires - Porto

 

Mais uma achega:

 

Dimitiu-se como Deus manda?

Por: Juan Masiá Clavel, Pe. jesuita

Era esperado e necessário que João Paulo II se demitisse, mas não o fez. Temia-se que Bento XVI não o fizesse mas ele deu o passo e fê-lo. Nem Paulo VI, nem João Paulo II permitiram que o Papa negro se demitisse mas Bento XVI deu luz verde para a demissão dele, o general jesuíta Hans Kolvenbach. Ao contrário da tradição secular, teria Bento XVI previsto a sua própria demissão?

 

A notícia não é assim tão inesperada tal como acentua o periodismo religioso vaticanista. Se um cardeal falcão como Sodano, antes aspirante a sucessor do Papa polaco, vê a notícia de demissão do Papa alemão “como um raio” e um político financeiro italiano como Monti se “sente perturbado” pelo imprevisível, será sobretudo sinal de que não é uma desgraça mas uma revelação ou uma profecia. Mas se se alegram obras e movimentos neoconservadores, muito mais a direita ultracatólica do que o centro-direita ratzingeriano, então será sinal de preocupação. Notáveis vaticanistas assinalam que há muita verdade entre linhas na frase do porta-voz Lombardi: “Não se trata de demissão por doença mas por razões pessoais”. Mas não iremos tão longe com morbidade novelista vendo intrigas à maneira dos Borgia quando o Papa falece após um mês depois de ser eleito, ou outro se demite após oito anos no cargo.

Celebramos o 50º aniversário do Concílio Vaticano II. Ano da Fé, símbolo ambivalente de avanço e restauração: aceleração, travão ou marcha atrás? Quando o cardeal Ratzinguer pronunciou, antes do conclave, o seu discurso contra o relativismo, augurava um pontificado inquisitorial. A primeira homilia pastoral e as primeiras encíclicas do Papa Bento XVI sobre amor e esperança mostraram outra imagem: directas ao centro, ao Evangelho, ao essencial. Não era a mesma inquisição do papado anterior mas também não era o jovem teólogo reformista dos anos sessenta. Pesou sobre o seu mandato a sombra do secretismo perante a pedofilia. Os céus não ruíram apesar dos tumultuosas ventos da Vatileaks (O Escândalo Vatileaks  é um escândalo que envolve documentos secretos que saíram do Vaticano e que revelam a existência de uma ampla rede corrupção, nepotismo e favoritismo relacionados com contratos a preços inflacionados com os seus parceiros italianos. N.T.).  

No anúncio da sua demissão, Bento XVI designa-se “bispo de Roma e sucessor de S. Pedro” em vez de “Vigário de Cristo”, expressão usada desde o séc. XII. Finalmente ele teve em conta o seu colega e fraternalmente crítico, Hans Küng, que referenciava a inexactidão teológica do referido título.

 

Em 1965, Paulo VI, com concessões, concluiu o Concílio de João XXIII. Na década seguinte, houve avanços no aspecto social e travagens no matrimónio e na família. Os 25 anos de pontificado de João Paulo II, com Razinger como colaborador, foram de subtil marcha atrás, citando o Concílio para dizer ou fazer o contrário: nomeação de bispos neoconservadores, repressão sobre teólogos, censura a publicações e seminários, documentos negativos sobre bioética e sexualidade, recusa da promoção da mulher ao ministério eclesial, rigidez litúrgica… Em1984 foi publicada a informação sobre a Fé, do cardeal Razinger, manifestamente restauracionista.

Como Papa, Bento XVI esforçou-se por centralizar a barca de Pedro. É atacada pelos extremos enquanto os corvos do carreirismo eclesiástico esvoaçam sobre a Cúria Vaticana. (Foi traição ou fidelidade a acção do mordomo? Revelá-lo-á Giorgio algum dia?). O seu discurso aos cardeais sobre a interpretação do Concílio foi programático: nem ruptura com a tradição nem renúncia à renovação.

 

 

Que pensar sobre o Conclave?

Será possível um milagre como aquele de 1958 com João, o Bom Papa? Ou acontecerá uma involução endogâmica feita por votantes nomeados por Bento XVI e pelo seu antecessor? Eis a cara humana da instituição: lutas de poder e carreirismo eclesiástico, denunciadas pelo próprio Bento XVII. Crentes de boa vontade, com optimismo cristão, chamam-nos a confiar no Espírito Santo. Mas já é conhecida a anedota: Para proteger a Cúpula da Basílica de S. Pedro dos excrementos das aves, foram instaladas redes eléctricas que espantam as pombas. Por isso, dificilmente o Espírito Santo poderá entrar, voando, no próximo Conclave!

Juan Masiá Clavel, jesuita y profesor de Bioética en la Universidad católica Sophia, de Tokio.

Fonte: El País, 11 Fevereiro 2013

(tradução de Arsénio Pires)

 

2013-02-22

António Peinado Torres - Porto

Li com a devida atenção, o texto publicado e os contributos importantes que se lhe seguiram, A resignação do Papa é notícia, e que notícia, parece um acto de coragem, parece que é um sinal forte e violento para mudar a Cúria Romana, mas só parece , porque nada vai mudar. A bandalheira na Cúria Romana já tem séculos, e este papa resignou porque foi forçado e talvez porque a alternativa que lhe deram, era um chá como fizeram ao antecessor de João Paulo II, que teve o papado que teve, mas já é Beato, é assim que labora o marketing da Igreja Católica.
2013-02-21

manuel vieira - esposende

O diário italiano ‘La Repubblica' noticia hoje que na base da renúncia de Bento XVI estará um relatório sobre a corrupção na Igreja.

No passado dia 17 de Dezembro, Bento XVI terá recebido um "relatório demolidor" de 300 páginas, elaborado por três dos mais experientes cardeais do Vaticano, relativamente à investigação sobre os documentos roubados da residência do Sumo Pontífice, adianta a edição de hoje do ‘La Repubblica'.

Segundo o jornal, o documento diria que poderão ser revelados muitos escândalos sobre as lutas de poder dentro da Cúria romana, desvios de dinheiro e a verdadeira força do poder do ‘lobby gay' na Igreja, informações que seriam tão "demolidoras" que convenceram o Papa a decidir que o melhor caminho a seguir seria o de deixar o cargo, de modo a permitir que um Pontífice mais novo e enérgico tome o poder no Vaticano e leve a cabo uma "limpeza profunda" da Igreja.

"Tudo gira em torno da observação do sexto e sétimo mandamentos: não cometerás actos impuros e não roubarás", disse ao periódico uma fonte "muito próxima" dos autores do relatório.

O ‘La Repubblica' recorda um escândalo que estalou em 2010, quando foi descoberto que um membro do coro da Capela Musical da Basílica Papal de São Pedro no Vaticano, o nigeriano Chinedu Eheim, oferecia serviços sexuais com menores, incluindo seminaristas, e que estes tinham lugar tanto em Roma como dentro das paredes do próprio Vaticano.

"Existe uma rede transversal unida pela orientação sexual. Pela primeira vez, a palavra ‘homossexualidade' foi pronunciada e lida em voz alta a partir de um texto no apartamento de Ratzinger. E pela primeira vez foi falado, embora em Latim, sobre a palavra ‘chantagem' (‘Influentiam')", lê-se no texto do jornal, que cita as revelações que os cardeais teriam feito ao Papa durante a apresentação secreta das suas conclusões finais.

Como consequência, prossegue o ‘La Repubblica', Bento XVI decidiu demitir-se, afirmando que "este relatório deve ser entregue ao próximo Papa, que deverá ser bastante forte, jovem e santo para poder enfrentar o trabalho que o espera".

2013-02-21

ANTÓNIO GAUDÊNCIO - LISBOA

Desde que o triste " pastor alemão " anunciou que ia a banhos, tenho lido, na imprensa nacional e estrangeira, variadíssimos artigos sobre os motivos subjacentes a esta sua atitude. Uns alvitram esta ou aquela causa e outros disparam em várias direcções pelo que alguém deve ter acertado no alvo.

Embora esta renúncia do Papa não seja, de facto, assunto que me tire o sono ou me preocupe em demasia, eu, como ser vivente, tenho também a minha versão sobre as muitas razões que poderão ter levado o dito cujo a bater com a porta.

Não pretendo, nem espero, que concordem comigo mas, a meu ver, a Cúria Romana é , na actualidade, a coisa mais sórdida, mais podre e mais corrupta que existe à face desta terrinha de Cristo (pobre Cristo). Aquele pequeno território é um autêntico saco de gatos!!!! 

Pelo que fui lendo, concluí que aquele antro, nos últimos tempos, é dominado por três " lobys ", cujos interesses, obviamente, nem sempre coincidem:

Loby dos Gays  - que vai protegendo, a qualquer preço, a pedofilia eclesiástica;

Loby dos Financeiros - que pretende que o IOR ( Banco do Vaticano ) prossiga a lavagem de dinheiro sujo, continue a receber os depósitos da Mafia e  intervenha no mercado especulativo, etc ;

Loby dos Corruptos - Neste grupo actua um enormíssimo grupo de sotainas, de todas as cores (pretas, vermelhas, escarlates) que, consoante os seus apetites, vai minando as pessoas e movendo influências para atingir os seus fins.

Abro um parêntesis para ressalvar que,  entre tanta escumalha, também haverá, gente séria e honesta que deve sofrer à brava com o que vê à sua volta.

Com todos aqueles abutres a quererem carniça em abundância, que é que o velhinho Papa poderia fazer senão demitir-se e preparar-se para, qualquer dia, ir ter com o seu antecessor, João Paulo II, e agradecer-lhe o legado miserável que lhe deixou. Sim, porque quem conduziu a Igreja a este estado deplorável foi o " santo " Papa polaco!!!!!

Não alimento ilusões sobre o novo inquilino que vai ocupar aquelas luxuosas instalações mas a sobrevivência da Igreja também passa por quem vier a seguir. Mas não acredito numa frase que eu já ouvi, há uns dias atrás, e que se sintetiza mais ou menos nisto: O Espírito Santo saberá escolher a pessoa certa. Pelos vistos, o Espírito Santo, nos conclaves anteriores, andava muito distraído!!

Ps: A minha escrita não obecede a qualquer A O (nem velho nem novo ).Flui consoante me soa!!!!!!       

2013-02-19

Delfim Pinto - Almada

Penso que este texto me ajudou a perceber o pedido do Papa Bento XVI: "rezem por mim".

Terá assumido a rotura com a situação...

Estou aqui pelo homem e não pelo Papa. E porque este homem, parece-me, é de um grande valor.

 

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