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2010-07-17

EM NOME DA VERDADE

Em Nome da Verdade

Autor: Arsénio Pires

“Quem sabe e guarda silêncio é um porco!”

Parece que a Terra está dividida em duas metades: A Europa e o resto do mundo. Na Europa, o lembramento. No resto do mundo, o esquecimento.

Explico porquê.

A maioria de nós sentiu e vibrou, durante os anos oitenta, com o surgir de grandes homens que mudaram o curso da História derrubando ou ajudando a derrubar regimes opressores e eliminadores, física e psiquicamente falando, de milhões de homens nossos irmãos.Quem não se lembra de Andrei Sakarov, de Alexander Soljenitsin, de Vaclav Havel, de Lech Walesa, de Nelson Mandela, só para falar dos mais conhecidos? Todos eles sofreram na carne a luta contra tiranias indignas do género humano. E venceram.

Entretanto, e depois dessas vitórias, alguns regimes do Oriente e do Sul continuam a dedicar-se, à vontade,  ao despotismo ditatorial e destruidor, destacando-se, mais uma vez o Partido Comunista, na Coreia do Norte e na China.E o silêncio da Europa parece abafar os gritos destes povos oprimidos. Ninguém fala. Ninguém proclama a injustiça.Outros interesses bem mais baixos se levantam! Talvez por isso.

Da Coreia do Norte já ouvimos um actual dirigente do Partido Comunista Português dizer que é um regime democrático! Mas, deixemos a Coreia do Norte, por enquanto. Hoje é da China que vou falar.

Que se passa na China?

Um pequeno retrato: População: 1 bilião e 338 milhões de habitantes.Por ano, nascem cerca de 16 milhões de pessoas na China.Mais de 90% da população é alfabetizada. Embora a China seja uma das economias que mais crescem no mundo, 130 milhões de chineses estão abaixo da linha de pobreza, e a renda per capita anual é inferior a 500 dólares.

A população chinesa actual tem sido formada por uma geração mais jovem que não conheceu a Revolução Cultural, e também por uma população rural cada vez mais descontente. As vítimas de exploração e abuso do poder têm-se tornado mais conscientes dos seus direitos, tanto humanos como legais.

Mais da metade dos chineses dizem não ter religião. Da outra metade, 36,6% professam crenças locais e o budismo. Os cristãos são estimados em 11% aproximadamente. Teoricamente, os cristãos chineses têm direito à liberdade religiosa, mas o espaço para evangelização é limitado. Os cristãos não podem reunir-se em templos não-registados e também não podem evangelizar publicamente. A perseguição ao cristianismo abrange desde multas e confisco de Bíblias até destruição de templos e prisão.

Os chineses não estão satisfeitos com um regime que, sob a batuta do Partido Comunista, os deixa enriquecer mas os priva de qualquer aspiração espiritual, política e moral!

Porque será que quase desconhecemos no Ocidente os Soljenitsin, os Vaclav, os Sakarov e os Walesa e os  Mandela desta China dos nossos dias?

Vejamos:

Conhecem Wei Jingsheng?

Está no exílio depois de 10 anos de prisão. Porquê? Por ter proclamado claramente, em linguagem de rua, a aspiração geral do que ele apelida de “a quinta modernização” ou seja, a democracia. O Partido interfere e distorce as suas comunicações difundidas pela Voz da América. Claro, como as autoridades oficiais de Pequim dizem, ele “não representa nada nem ninguém”.


Conhecem Hu Jia?

Está na prisão, devorado pela doença, sem cuidados alguns de saúde, no meio de presos de delito comum, numa prisão de Pequim. Porquê? Por ter denunciado o encaminhamento e “enclausuramento” dos doentes com sida, na província de Henan e por ter denunciado a corrupção dos “aparatchiks” que desviam os medicamentos que as organizações humanitárias dão à China. Razão da condenação: “Atentado contra a segurança do Estado”.


Conhecem Liu Xiaobo?

Foi condenado a 11 anos de prisão, encerrado num “centro de detenção” em Pequim, proibido de ler, escrever e de se comunicar com o seu advogado e com Liu Xia, sua mulher. Porquê? Por ter publicado na internete uma carta onde reclamava a instauração do Estado de Direito na China. Em 24 horas esta sua Carta 08 (chamada 08 por ter sido difundida em 2008) teve 10.000 subscrições.Dizem as autoridades de Pequim que “está intoxicado pelas ideias estrangeiras”.

Estes três homens, nossos contemporâneos, encarnam a aspiração de milhões de chineses a possuírem dignidade política e moral. Hoje, como nos tempos do leninismo e do estalinismo, o método é sempre o mesmo.A oligarquia comunista e as dinastias de “aparatchiks” repartem entre si o poder e o dinheiro. Esta classe de parasitas, exploram, no verdadeiro sentido marxista, o trabalho de milhões de camponeses pobres como Estaline o fez com os “Kulaks”. Este é um povo onde, como vimos, não existe liberdade de expressão nem liberdade religiosa.

Lembram-se de em 2008, em Sichuán, terem morrido milhares de crianças sob os escombros provocados pelo terramoto? Pois aí mesmo os membros do Partido levam uma vida regalada com automóveis de luxo comprados com os fundos destinados à reconstrução dessas escolas.

No ocidente, alguns perguntam-se sobre se a China é verdadeiramente comunista. Perguntam-se como se perguntam sobre o regime leninista e estalinista afirmando de seguida que esse não é o verdadeiro comunismo. Então, qual será? O da Coreia do Norte? O do Cambodja, sobretudo o do regime de Pol Pot, que eliminou 10 milhões de pessoas em cerca de 5 anos? O de Cuba?

Segundo o economista chinês Mao Yushi, dissidente sob vigilância mas em liberdade, calcula-se em 50 milhões o número de vítimas directas do Partido Comunista Chinês, desde a Revolução de 1949 até 1979, o chamado Ano das Reformas: guerra civil, execuções e fome organizada. A partir de 1979, Mao Yushi contabiliza, em 30 anos, 200.000 vítimas pelo regime: execuções, repressões e mortes nas prisões.

Os dirigentes caídos em desgraça jubilam-se dos seus postos de comando e… já não são julgados nem, muito menos, assassinados.

Fiquemos com o desabafo de Liu Xia, mulher de Liu Xiaobo, condenado a 11 anos de prisão:

“Nós, os democratas (chineses) somos como os judeus na Alemanha nazi. Somos exterminados perante a indiferença generalizada dos ocidentais. Acordareis quando já tivermos desaparecido!”



Comentários


2010-07-20

Arsénio Pires - Porto

Caro Assis:

Obrigado pela tua oportuna intervenção que subscrevo inteiramente.

Este espaço está aberto para isso mesmo. Pena que não haja mais colegas a intervir e, EM NOME DA VERDADE, aqui colquem artigos que nos elucidem sobre as atrocidades dos regimes chamados democráticos como é o caso dos EUA por quem não nutro apreço algum. Como se pode defender um país que só agora acordou para um regime de saúde justo e solidário? Como acreditar num país onde a riqueza impera e a pobreza, no nível da indigência, atinge 15 milhões de pessoas?
Isto sem contar  com as desastrosas “intervenções” a nível mundial e a que tu referes.

Apareçam mais artigos que, EM NOME DA VERDADE, nos elucidem sobre a injustiça deste mundo.

Eu sou anti tudo o que não é justo. A começar por mim, pelo que faço, pelo que digo.
Ao falar contra o comunismo (comecei por aqui…) pretendo chamar a atenção para o facto indesmentível da “lavagem” que se tem feito a nível internacional sobre os horrores dos regimes comunistas. Ontem como hoje, ele continua, a par do capitalismo esfomeado, a praticar todos os horrores e agressões contra homem. E não foi em nome da dignidade humana que o marxismo surgiu? O que há de errado neste teoria que, em todos os países onde foi posta em prática, só produziu agressões ao próprio homem? O comunismo foi e continua a ser uma tragédia de dimensões planetárias. E ninguém fala! E ninguém exige os “Julgamentos de Nuremberga do Comunismo”. Porquê?
Praticamente só ouvimos falar dos horrores do nazismo. Porquê?

Falaste do “Livro Negro do Capitalismo” que surgiu como reacção ao “Livro Negro do Comunismo”. Este acabou com todos os Partidos Comunistas na Europa, excepto no nosso jardim. Mas aquele, que traz dados dignos de aqui aparecerem também, em nada desmente os dados que o “Livro Negro do Comunismo” nos oferece tirados directamente dos arquivos russos e internacionais.
Trata-se duma moeda. As duas faces são necessárias. E, até aqui, parece que só existe uma face!

Mas, meu caro Assis, não façamos uma leitura selectiva da história.
É verdade indesmentível que uma das grandes ironias da história é que muitos (não os únicos…) dos mais deploráveis assassínios em massa, actos de intolerância e repressão foram e são praticados por aqueles que se deixaram (e deixam…) levar pelos que gritaram (e gritam…) que a religião era assassina, o ópio do povo, intolerante, repressiva, defendendo que ela fosse banida da face da Terra. Mas, e aqui está a ironia, nalguns lugares onde tal aconteceu, foi a religião que provou que essa ideologia foi não só o ópio mas também o veneno do povo.

Mas, como disse, não sejamos selectivos. Porque se trata de pessoas.
Não quero dizer que os ateus, os comunistas ou os americanos são todos uns depravados, corruptos e violentos. Os factos não me permitem tal conclusão. A verdade, e aqui está o cerne das minhas intervenções, é que alguns ateus, alguns comunistas e alguns americanos são pessoas muitos estranhas mas a maioria são pessoas absolutamente normais, que querem o bem dos outros ou, simplesmente, não querem chatear ninguém.
Ou seja, tanto a religião como a anti-religião têm no seu seio pessoas capazes de praticar grandes actos de bondade e abnegação e pessoas capazes de praticar actos de maldade e actos de grande violência.
No entanto, esta cautela quando se trata de julgar pessoas, não nos pode inibir de falarmos abertamente dos regimes que “formatam” essas pessoas e as incitam a praticar o mal. Quer se trate dum regime “crente” ou “não-crente”.
Era isto.
Um abraço amigo.

2010-07-18

Assis - Folgosa - Maia

Amigo Arsénio, não ponho em dúvida os números que apresentas no teu ponto de vista e até concordo com a luta que todas as pessoas honestas têm de travar, directa ou indirectamente, contra os abusos que diariamente são cometidos contra a Pessoa Humana. Ainda na passada 5ª feira, ao abrir o canal 2 da RTP,  me senti enojado por aquilo que ainda hoje se passa na China e na Índia bem como em outros países pobres da Ásia e da África - o mesmo se passará certamente na América pobre - onde se contrabandeiam os órgãos das gentes  pobres aos milhares... um mercado simplesmente vergonhoso...Um mercado clandestino que movimenta muitos milhões de dólares, clandestino mas do qual fazem parte médicos e hospitais respeitados, intermediários sem escrúpulos...Os americanos ricos compram, nos países pobres, corações, fígados, pulmões ou rins, como quem compra batatas...as batatas que aquela pobre gente precisa de comprar com uma parte insignificante dos tais dólares para conseguirem matar a fome...trocam órgãos por batatas ou arroz...um horror...

Arsénio: Seria para mim muito fácil, no caso da China concretamente, deitar todas as culpas ao sistema comunista que ainda vigora naquele vasto contionente (?). Mas a quem tenho de deitar as culpas no caso da Índia e dos outros países pobres da Ásia e do continente Africano e da América pobre?

Come-se demasiado nos países capitalistas, concretamente na Europa e sobretudo na América dos dólares, enquanto se morre, aos milhares diariamente, de fome e das doenças dela derivadas na maioria dos países restantes. Valem-se do seu poder económico para "defender os seus direitos(?)" Foi a razão que justificou a guerra da Vietname, do Golf, do Iraque e ainda de tantas guerrilhas Americanas, a da própria Cuba...e não falemos já da guerra dos grandes laboratórios que inventam doenças como a da gripe A...

Arséinio: Não sou mandatado por ninguém, nem pretendo levantar a poeira da discórdia a que já me referi, pois esta não poderia conduzir-nos a bom porto. "A morte duma só pessoa que seja merecre toda a nossa indignação humana", já o deixei escrito em intervenções anteriores; e todos os milhões de seres humanos mortos ou amordaçados por qualquer ditadura, mesmo quando esta se apresenta com cara de "ajuda humanitária", como é o caso da capitalista, todos eles têm de merecer a nossa solidariedade. Temos de continuar a tirar da História a tal lição a que também já me referi. Ao lado do livro de que há dias te falaste "O livro Negro do Comunismo", encontrei, na mesma montra, um outro com título semelhante e que também é preciso ler: "O livro Negro do Capitalismo". Temos que continuar a nossa luta contra todo o tipo de ditadura seja ela qual for. Um abraço

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