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2010-09-25

“Sou um exilado permanente”, disse Fernando Echevarria esta quarta-feira na Figueira

“Lugar de Estudo”, de Fernando Echevarría - livro que recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores(APE)/CTT - foi apresentado esta quarta-feira, dia 22 de Setembro, no Casino Figueira, depois do seminário dedicado à análise da obra “Sinais de Fogo”, de Jorge de Sena.
 A coincidência serviu para o poeta, de 81 anos, recordar os exílios de ambos, e a admiração mútua.

O seu talento foi inúmeras vezes reconhecido, com os maiores prémios nacionais, entre os quais se destaca o Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen pelo conjunto da sua obra.
Para muitos, porém, o nome de Fernando Echevarría é ainda desconhecido, em parte porque a poesia não ocupa, na maior parte das livrarias, lugar de destaque.
 “Muitos dos seus livros vão, erradamente, parar às prateleiras dedicadas à Psicologia”, brincou o editor da Afrontamento, Sousa Ribeiro, presente nesta apresentação no Casino figueira. O erro é, senão desculpável, pelo menos compreensível, já que Fernando Echevarría escreveu, entre outros títulos, “Fenomenologia” e “Introdução à Poesia”.

“A poesia é intraduzível”
Nasceu em Espanha mas muito cedo veio para Portugal.
 Regressou a Espanha na juventude, mas ver-se-ia obrigado a partir, primeiro para França (onde, em Paris, travou conhecimento com Jorge de Sena), depois para a Argélia e novamente para terras francesas.
Destas peregrinações exteriores fez o fino fio com que tece a sua poesia, um “lugar de estudo”, de introspecção sem concessões ao correr do tempo ou às suas modas.
Atribuído em Julho deste ano, por um júri constituído por Armando Silva Carvalho, Maria João Reynaud e Sérgio Sousa, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores(APE)/CTT foi entregue a uma obra que, deliberaram, “representa um momento singularmente alto de Poesia Portuguesa Contemporânea.
 Os cerca 270 poemas inéditos que o compõem são a expressão vigorosa de uma arte poética que o título resume.
 A poesia é, para este autor, um lugar de Estudo e de, aperfeiçoamento do trabalho poético, o qual é também o lugar da língua”, lê-se na acta do prémio.
 O que falta, então, para que os portugueses conheçam e desfrutem dos seus poetas vivos?
“A poesia exige muita atenção e as pessoas não estão dispostas a dá-la, esquecendo que essa atenção tem o seu prémio”, defendeu o poeta. “As pessoas lêem poesia à procura do que não está lá, e esquecem o que lá está”, justificou. O sentido estrito das palavras não cabe na poesia, sustenta Fernando Echevarría, para quem “a poesia tem uma língua própria”, independentemente de esta partilhar com outra língua as palavras que a compõem. “A poesia é intraduzível”, sintetizou. A sua, porém, traduz bem a sua visão de um mundo que se fez de exílios, como escreve num poema ‘n memoriam’ de Jorge de Sena, onde fala do “exílio subindo a residência”.
“Há em cada um de nós várias espécies de exílio, o primeiro dos quais é o de desterrados filhos de Eva”, considerou.
 A este, Fernando Echevarría juntou, ao longo da vida, muitos outros. Valeram-lhe os amigos, “sempre poucos”, que foi mantendo à sua volta. E a poesia que, mais do que um imaterial “lugar de estudo”, foi sempre a sua casa.


(Jornal O Figueirense de 24.09)



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