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2010-06-25

Pedofilia na Igreja Belga

Justiça investiga pedofilia no topo da Igreja belga

por ABEL COELHO DE MORAIS (Diário de Notícias)

Polícia apreendeu computador pessoal do antigo arcebispo de Bruxelas. Casos eram conhecidos desde os anos 90A sede da arquidiocese de Malines-Bruxelas, a residência do seu antigo arcebispo, cardeal Godfried Danneels, e as instalações de uma comissão independente que investiga casos de pedofilia na Bélgica foram ontem alvo de buscas da polícia, que recolheu documentos susceptíveis de "provarem as acusações de abusos de menores por parte de certos membros da Igreja", explicou o porta-voz do Ministério Público de Bruxelas.Monsenhor Danneels foi chamado à sede episcopal pela equipa de investigação que realizou aqui a busca, enquanto na sua residência uma outra equipa confiscava o seu computador pessoal e alguma documentação.

O objectivo da operação policial, que envolveu mais de 30 inspectores e agentes, foi o de "obter elementos de prova relativas às declarações feitas no quadro de um processo recentemente desencadeado", referiu o mesmo porta-voz.A actuação da polícia surge menos de dois meses após a demissão do bispo de Bruges, cujo nome surgira associado a situações de abuso de menores. Em Maio, a Igreja belga apresentara um pedido de desculpas em que reconhecia "ter sido dada uma nova oportunidade aos abusadores enquanto as suas vítimas ficaram marcadas por feridas que não cicatrizam".

Na mesma ocasião, o novo arcebispo de Malines-Bruxelas, André-Mutien Léonard, anunciou a constituição da comissão independente, presidida pelo pedopsiquiatra Peter Adriaenssens, que também foi ontem alvo das buscas policiais. Ao assumir as suas funções no início do ano, o arcebispo Léonard anunciara uma política de tolerância zero para com os pedófilos.O presidente daquela comissão, por seu lado, criticou a recolha de documentos que considerou "confidenciais e pertenciam a investigações ainda em curso". A comissão decide segunda-feira se suspende os seus trabalhos.

Segundo as agências, a investigação oficial está particularmente interessada nos testemunhos recolhidos por esta comissão, tendo confiscado a totalidade dos 475 dossiers onde se recolhem depoimentos sobre casos, alguns deles sucedidos há várias décadas.A operação decorreu enquanto se realizava na sede da diocese de Malines-Bruxelas uma reunião dos bispos belgas com o núncio apostólico para o Luxemburgo e a Bélgica, monsenhor Giacinto Berloco.

Embora não tenha sido revelada a fonte das queixas que levaram a justiça belga a desencadear as buscas de ontem, alguns meios de informação belgas sugeriam o envolvimento de um padre reformado, Rik Devillé, que teria denunciado à hierarquia nos anos 90 casos de abusos sexuais.O abade Devillé admitiu ter passado às autoridades, há cerca de duas semanas, documentos e informações sobre aqueles casos, mas ignorava ontem se estes estariam ou não na base da investigação. Entre os documentos constam cópias da correspondência sobre aqueles abusos trocadas pelo padre com a hierarquia.

Rik Devillé, que não foi interrogado pelas autoridades, afirmou que só uma parte dos casos denunciados nos anos 90 teria recebido adequada atenção por parte dos seus superiores, nomeadamente do cardeal Danneels, principal responsável da Igreja belga entre 1979 e 2009.



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