2015-02-01
AVENTINO - PORTO
DA MINHA CASA JÁ NÃO VEJO O MAR
Do teu longo silêncio, estou todo prenhe. Das tuas palavras e da tua voz, sou um mero navegante. Já não creio, já não quero, tudo é treta. Tudo é o nítido nulo, tudo sou eu sem qualquer alma, 75% de água e 25% de sais. Corpo, matéria, e nada mais. Amanhã, quando acordares, ninguém se lembrará de ti, nem de mim, nem de um qualquer AAR que aqui escreveu. Amanhã, quando acordares, tudo é apenas ontem e tudo é apenas a morte. Fim.
Esquisofrénico? Sim. Felizmente. Estou entre o eco e a razão, entre o sim e entre o não. Sou comuna e anti-comuna, sou crente e o contrário. Sou o menino carente dos braços de minha mãe e o menino além com que a aridez de um Cristo triste, inexistente e inventado me inventou. Não quero ser feliz, nunca quis ser feliz, só os palermas querem ser felizes.
Tu que ainda tentas vir aqui, apenas tentas. De nada serve. Nem Roma, nem Alexandria te hão-de ouvir. Continuarás solitário, "caminante no hay camino", és um corpo sem dama, uma alma sem corpo em busca de essa deusa proibida que te roubaram: a mãe, a nossa mãe, os beijos da nossa mãe. E aí estamos nós entregues ao engano. Fingindo a filosofia, o ser e o ter, a razão e o pensamento quando, nas profundezas das tuas entranhas, o que buscas é apenas sentir: os braços doces da tua mãe.
O resto, nem sequer é resto. Sem importância. Sem sentir. Que importa a morte, se não tiveste a vida?