Um calor matinal apontou-nos o norte e já não escutámos o roncar dos motores do Rally nem avistámos as poeiras cronometradas de Santa Luzia .
Acompanhámos as sombras do rio Âncora depois de deixarmos a A28 em direção a Orbacém e apontámos o caminho do Fradinho até à Cabana do nosso amigo Assis onde já lá estavam o Sacadura, o Ribeiro, o Diamantino, o Adolfo, o Freitas Escaleira, o Nabais, o Alexandre Pinto, o Barros e o Zé Marques, que veio de Aparecida no Brasil onde cumpre a Missão.
Comigo estava o Meira, meu colega habitual de percurso e acabamos por receber logo a seguir o Eugénio e a Esposa, o António Gomes e a esposa, o Serapicos e o José de Castro.
Alimentou-se um braseiro calmo, levaram-se à brasa os enchidos, o lombelo e as costelinhas gulosamente temperadas e deu-se gás a umas favinhas ricas com chouriço e presunto e fervilhou-se um bom caldo delicadamente aromatizado para um arrozinho de favas tenrinhas e sem pele, lembrando Tormes e as garfadas longas do D.Jacinto.
Como é habitual, refrescamo-nos com a casta Loureiro da produção do Meira e outros vinhos de boas colheitas e nas sobremesas regalámo-nos com as cerejas pretinhas e bojudas trazidas pelo Diamantino, alguns bolos de prato e os tradicionais "Charutos" dos Arcos que o nosso Martins Ribeiro nunca esquece.
Claro que lembrámos o Peinado, sentimos no suave bulício da folhagem do jardim do Assis que ele andava ali, como se a memória desse vida e alento a tanta saudade.
O Alexandre Pinto "botou" faladura e encantou e lembrou os cenários idílicos do rio Âncora ali perto, das águas límpidas e cristalinas recortadas de sombra da folhagem fresca dos salgueiros, dos murmúrios das correntes, das mesas e das toalhas arejadas para um piquenique a envolver tantos quantos queiram vir. E terá que ser em breve.
O padre José Marques também manisfestou em dose curta a sua alegria por estar conosco e com alguns colegas de curso, tantos anos volvidos.
Os telefones tocaram e disseram penas pela ausência e a tarde fez-se e deixamos um largo abraço ao Assis, pela sua grande disponibilidade e pelas favas do seu cultivo que serviram mais uma vez de mote a uma jornada de grande amizade, como eu bem gosto.
Bisbilhotices
Não me queria alongar
Nem entrar em mexericos
Mas vou-vos contar ...
Que recebi o Serapicos
Ele me veio visitar
Pela primeira vez
E acabamos o dia a passear
Pela serra do Gerês
Fomos até à barragem
Visitámos o São Bentinho
Recomeçámos a viagem
Voltámos pelo mesmo caminho .
P'rò Gerês vou a correr
Naqueles dias de estio
Gosto muito de lá beber
Aquela água do Fastio
Mas desta vez fiquei com mágoa
Por não ver a Pedra Bela
E porque me deram a beber água
Importada da serra da Estrela
Mas se mesmo assim foi um bom dia
E p'ra não ser injusto ou infiel
Foi porque tivemos a companhia
Da Argentina e da Isabel
E aquele abraço .
Zé Lamas
Devido a leves afazeres que vão sobrecarregando meus verdes anos, confirmo a minha ausência na favada.
Guloso e farto pecado para quantos apareçam.
Depois de ler as minhas últimas entradas que escrevo, leio e emendo e, por fim, volto a reler, ainda assim, aparecem preciosidades como aquela: "de de hverem". Algo se passa comigo que me tem aconselhado a entrar em quarentena. Mas... a Palmeira, Senhor!
Cá por Coimbra esse escaravelho tem feito estragos danados e, por isso, sei de ciência certa que ela vai embora, ainda que o seu tronco possa permanecer por mais alguns anos apontando ao céu.
Guardemos memória dela e continue ela a ser um dos nossos traços de união.
Saúde para todos e oxalá desta vez não venha a topar-me com mais uma das desgraçadas gralhas do meu vasto repertório.
Se a vergonha me faltar, continuarei a passear-me por aqui. Aturem-me lá!
Saudações, Estimados AARs.
Palavras ao correr da pena, não são sementes deste quintal, mas o ser testamentário da imagem da mais subida amizade, leva-me à partilha enquanto "vizinhos" deste condomínio.
"In Memoriam"
Tu, eu, nossa amizade,
cimentou-se num conviver
sempre em cumplicidade,
agregar, sonhar em viver.
Não querias acreditar
nas palavras que ouvias,
inquieto foi teu olhar,
à voz que reconhecias.
Vertical, de peito cheio,
num fixo olhar profundo,
declaras em cambaleio
Um testamento rotundo
expresso neste fraseio:
- Obrigado, AARs no mundo - .
Permitam-me, já agora, expressar alguns sentimentos.
Deleito-me nas virgulas do BARROSAL que sufragam amores perdidos. Aquelas delicias do desejo que devaneiam nos silenciosos labirintos das exclamações e interrogações, levam as dúvidas à contemplação das reticências, onde no paraíso dos deuses, se digladiam os controversos pontos finais.
Sou um profundo admirador das mais genuínas expressões musicais solfejadas neste espaço. Adoro o virtuosismo destas desgarradas, interpretadas ora numa melancolia fadista ou em folclore minhoto, onde se descobrem os míticos interiores que espelham as incógnitas das cortesias.
Mas a PALMEIRA que dá guarida aos do "Seminário", dizem, estar gravemente doente. Tem danos irreversíveis, segundo uma minuciosa monitorização publica, executada pelos curadores dos cuidados paliativos que lhe diagnosticaram, "escaravelho vermelho, magrebino sem turbante". Perante a teimosia de tal vírus em fazer estragos, cerremos fileiras, nada em baixar os braços, sob o ainda verde que resta das suas folhas. Não se adie, o que ainda tem sentido e se quer manter.
Considero o ajardinar continuo da Palmeira, um laborioso desafio dos seus artífices, perante a sua constante evolução qualitativa. Alegro-me e aceito o convite endossado na última "Palmeira "em "me curvar respeitosamente perante os heróis do silêncio". Partilho da homenagem aos " Nossos Mestres", registo dum gesto de memória e gratidão, a quem nos deu conhecimento e nos inculcou valores.
Vamos então ao verde e florido caminho do "FRADINHO" que nos levará à CABANA onde se fará a a multiplicação da solidária "FAVADA".
Estimado Assis, nunca fui batizado nesses ritos "FAVAICOS", talvez pelo meu ADN ser mais de um ex seminarista e menos de convicto AARs
Aceito a penitência, mas não esperes a minha conversão antes da degustação.
Um abraço dum ex seminarista
Meu caro António Rodrigues,
O caminho do Fradinho, que tanto inspirava o Peinado, leva-nos ao portão da "cabana" do Assis e não faltarão peregrinos para um abraço singelo e uma travessa longa e fumegante do tal arroz de favinhas colhidas ali na herdade de ligeiros socalcos, no próximo dia 23. Pena que percas este hino de sorrisos e sabores.
Já estou a ver o Castro e o Meira a atiçar o braseiro e a estender os gratos enchidos com morcelas e alheiras para as peculiares entradas, com a broa de milho e as azeitonas de suave curtição a amenizar as primeiras fomes. Ah e as malgas de loiça branquinha a mostrar a ondulação dos tintos fervilhantes, que avivam também os copos.
Eu sei que as favas não favorecem a fé de alguns mas alimentam, ao que julgo, a tentação pecaminosa de muitos mais e tudo será feito para que no Limbo, Eça dê graça à inspiração dos fumos que esvoaçam entre garfadas largas e suaves.
Hoje chegou-me o jovem livro do Fernando Rosinha "Com ar de Primavera" e tenho leitura para este fim de semana que deve estar quente e a mostrar os seus ares.
Em Orbacém esperam-se mais de 20, onde cantaremos um hino às favas, aos amores inquietos de quem peleja pelas arribas da imaginação e um abraço à saudade...
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