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2015-10-20

Arsénio de Sousa Pires - Porto

Já temos um associado que pode participar, de pleno direito, na Assembleia Geral dos AAR que vier a realizar-se neste ano.

 

"Caros amigos,

Embora tardia,  aqui vai a transferência das minhas quotas e contribuição para a revista, conforme comprovativo em anexo.
 
Um forte abraço,
F.Viterbo"
PS: Mandou 100 euros
2015-10-20

ANTÓNIO GAUDÊNCIO - LISBOA

                                                  QUASE UM CONTO

 

 

Era outono e chovia. Uma chuva mansinha que dava gosto ver cair do aconchego  da sala. De quando em vez, o vento perturbava aquele sossego e as folhas rodopiavam no espaço desenhando estranhos arabescos.

Ler, ouvir música, olhar para a chuva ou recordar a vida eram as únicas coisas que lhe ocorriam fazer para aproveitar aquela tarde serena.

A opção surgiu devagarinho e sem esforço. Quase sem se dar conta, a memória transportou-o para  Novembro do longínquo ano de 1962. JFK havia sido assassinado dias antes, facto que o tinha chocado pois, nessa época, o Presidente dos USA era uma espécie de referencial para a esquerda juvenil ; também recebeu, por aqueles dias, a confirmação da data de embarque para Angola e, para lançar um pouco mais de confusão na sua vida,  aconteceu-lhe o que levara vários meses a tentar evitar : apaixonar-se por uma daquelas jovens algarvias que "assediavam" com afinco e audácia aqueles jovens militares. Mas aconteceu.

Num fim de tarde, ao regressar ao quartel com o seu pelotão, depois de um dia de exercício no campo, ele viu emoldurado, numa janela de um rés do chão, um  rosto belíssimo com uns olhos esplendorosos, uma quase aparição. Um relâmpago!!!

 Esta jovem que ele nunca tinha visto, embora durante meses, aquele  fosse um percurso vastas vezes caminhado, veio alterar todos os seus propósitos de ir para guerra e não deixar ninguém a pensar nele.

O ritual de aproximação não foi fácil e ele, ainda sorri ao recordar o ardil que utilizou para ficar face a face com a jovem que, em tentativas anteriores, sempre lhe  fechara a janela na cara embora nunca se afastasse da mesma.

O incipiente namoro foi, de pronto, interrompido pela partida dele para a guerra mas os poucos dias de convívio deixaram-lhe a impressão de que poderia sair dali algo de promissor.

A realidade da guerra altera a vida a todos os que por ela passam mas, mesmo com as dificuldades inerentes, aquele namoro, feito através de aerogramas, foi explorando conhecimentos mútuos, fez com que um descobrisse o outro e estabeleceu laços e compromissos que esperavam concretizar após o fim da comissão.   O  reencontro deles, no início de Abril de 1966, foi um festim de amor, de confissões e de alegria.

Passados os anos de chumbo, a vida tem de recuperar o tempo perdido  e é necessário recomeçá-la,  dar-lhe um sentido e eles não fugiram à realidade e fizeram os esforços necessários para fazer o percurso lado a lado.

Passados dois meses ele encontrou o seu primeiro emprego mas antes de começar a trabalhar foi passar uns dias à cidade dela. Foram dias loucos , dias felizes, de sonho e de esperança. Na noite da despedida ele aflorou muito, ao de leve, a hipótese de, estabilizados ambos nos respectivos empregos, pensarem em casar ( era assim naqueles anos de 60 ).

As dúvidas começaram no dia seguinte quando ela(conforme combinado) não apareceu na estação de combóio  ao embarque dele para Lisboa onde no dia seguinte iniciaria a sua vida profissional.  Cartas dele, telefonemas e outras tentativas tudo ficou sem resposta. Começou o silêncio total sem explicação alguma..

Os tempos que se seguiram não foram fáceis nem agradáveis para ele e para os poucos amigos que tiveram a paciência bastante para o aturar.

Mas a dureza da vida ditou a sua lei e os anos não curam mas saram e ele acabou por singrar na profissão, constituir família e ter filhos.

Passados 18 anos, no âmbito da sua vida profissional, passou ele pela cidade dela e fez uma ligeira pesquisa para colher alguma notícia. Nem ele sabia ao certo o que pretendia com aquelas diligências nem pensou muito no que lhe diria caso a encontrasse. Mas aconteceu e, passados dias, numa  noite recebeu ele um telefonema dela no hotel a marcar um encontro.

Ficou perplexo mas aceitou porque, no fundo, o que pretendia era saber as razões daquele corte abrupto. E vê-la.

Veio ela buscá-lo ao hotel no seu carro e seguiram para lugar tranquilo pois havia muitas perguntas a fazer e respostas a dar. Ele notou que o carro dela tinha algumas aplicações que,  apenas os condutores com alguma deficência soem ter, mas não fez qualquer observação. Reparou também que eram muitas e grandes as rugas à volta dos olhos dela e que o brilho dos mesmos há muito que fenecera.O que teria acontecido àqueles olhos bonitos que ele conhecera anos antes?

Depois de uma longa conversa ele foi catalogando as respostas  e desculpas dela e ficou a saber que na noite da nossa despedida ouviu ela um enorme raspanete da mãe que a advertiu que podia arranjar noivo melhor e dava o namoro deles por encerrado. E ela obedeceu. 

Logo a seguir a mãe enviou-a para Londres para melhorar o inglês, nunca lhe dando notícia das cartas e telefonemas dele, motivo que sufocou de vez as esperanças que em ambos haviam germinado.

Depois aconteceu-lhe um casamento dela com um inglês que, ao fim de poucos meses, já a tinha abandonado.

Desiludida, triste e sentido-se enganada pelas orientações da mãe, regessou a Portugal e esteve vários anos trabalhando para uma empresa espanhola.

Nesse entretanto, conheceu e casou com um jurista espanhol . A união durou alguns anos mas aos poucos o marido começou a esvaziar várias garrafas de gin por dia o que o levou a clínicas de desintoxicação e a sucessivas recaídas. Disto resultou um novo divórcio. Veio de novo viver com a mãe mas nessa altura já vinha acompanhada por uma filha de 8 anos, do segundo casamento.

Na conversa mostrava-se uma mulher triste, desiludida, arrependida de ter acolhido os conselhos da mãe naquilo que se referia a eles os dois.

Mas ao longo daquela conversa ambos verificaram que nem todas as brasas se tinham apagado e aquela noite foi a primeira de uma longa série delas em que eles deram largas ao amor que, provado ficou, apenas fora sufocado por uma decisão materna .

Durante dois anos, sempre que os calendários ajudavam, eles encontraram-se e passaram momentos muito felizes que apenas começaram a ser ensombrados por uma doença complicada que a começou a afectar.

A partir de certa altura, atentas as dificuldades que ela sentia em se deslocar, os encontros começaram a rarear mas o tráfego telefónico ia disfarçando as saudades. Entretanto a doença dela progredia de forma acelerada mas os médicos não se mostraram expeditos a defini-la.

Em princípio de 1989 recebeu ele uma cartinha dela com poucas palavras mas as que lhe pareceram adequadas. Nela lhe comunicava que lhe fora diagnosticada uma paralisia lateral amiotrófica. A sua esperança de vida era muito curta e, por fim, pedia-lhe para lhe fazer o favor de nunca mais a procurar, nunca lhe escrever e de nunca mais lhe telefonar.

Terminou confessando que fora ele o seu grande amor  e o que viveram nos últimos anos tinha, de algum modo, compensado os erros da sua vida.

Recordou-se que respeitara religiosamente os últimos pedidos dela desconhecendo,até hoje, todos os desenvolvimentos subsequentes.

De repente ele olhou para fora e deu-se conta de que noite caíra mas a chuvinha mansa persistia.. Correu a cortina e acendeu a luz.

2015-10-18

António Manuel Rodrighues - Coimbra

Caros amigos, os de 1958/1959/60, outros mais antigos ou recentes de quem guardo referências e os últimos adquiridos, com agrado meu, nos poucos encontros a que compareci.

A nossa associação tem de continuar pelo menos por mais algum tempo. O necessário e possível pois, sabemo-lo bem, um dia tudo acaba. Acabará tudo?

Fique esta metafísica para quem saiba ou a queira tratar, eu, por agora, quero manter-me num tempo e contexto bem mais imediatos e comezinhos.

Enquanto restarem alguns técnicos capazes e disponíveis para manter a nossa página na internet com a revista, se possível, também em suporte de papel; enquanto alguns de nós mantivermos lucidez e vontade; enquanto houver quem apenas nos visite e leia, a nossa associação não pode acabar.

Recebemos uma educação marcada pela época, é certo, mas de um ou outro modo, todos acabámos por beneficiar dela. De entre os possíveis, os benefícios conseguidos atestam isso suficientemente bem. Tentando evitar esse discurso subjectivo e moralista onde me vou sentindo enredado; voltando novamente ao mais prático e urgente, recordo aqueles adolescentes e jovens que fomos, o idealismo, a generosidade e as convicções imaginadas ou vividas e, recordando-as, meus amigos, temos de continuar o caminho encetado.

Socorrendo-me da minha memória, de uma relação dos nossos nomes em meu poder (obrigado, Diamantino) e daquela outra do nosso sítio na internet onde estão os nomes dos nossos associados, ainda lá falta o meu, é-me fácil concluir: só o nosso comodismo nos pode tornar inactivos enveredando assim numa perda individual e colectiva. (Recuso-me a utilizar o adjectivo “inevitável”).
Agitando um pouco, só um pouco, as águas quase paradas, neste aparente imobilismo será fácil reconhecer capacidade artística e económica para nos mantermos.
Em tom de brincadeira até me atrevo aventar e aceitar nas despesas do nosso balancete: almoço (ou jantar) para o convívio de quantos dispuseram do seu tempo e serviço…………. Tantos euros.

Se este texto for publicável e lido, em atitude de assentimento ou contestação, ficarei agradado.

Estou a sugerir muito mas não estou a exigir nada.

Saúde para todos, familiares incluídos.            

2015-10-17

A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevz

Para o nosso Presidente Né Vieira me não acusar em vão da minha escrita libidinosa e também para agitar estas águas quase paradas, vou rabiscar mais um desses escabrosos textos. É uma fantasia literária, porém, susceptível de acontecer pelo que convém exarar a estafada exortação de que qualquer semelhança com pessoas ou factos da vida real será mera coincidência. 

 

                                                  ********

 

UMA MENTE DEPRAVADA

Tibúrcio Malaquias Salsifré, tipo já entradote em anos que se lhe pegavam como carraças na lã das reses, estatelou-se de amores por Isaura, uma serviçal também um tanto madura mas ainda boazona, fresca, tetas firmes e redondinhas, um espanto, pernas torneadas e roliças, apetecíveis, uma visão de loucura em terra de Sedução. Desassossegou, correu desvairado atrás dessa aurora boreal, escabujou como um possesso. Fazia dela um arreigado conceito de incontestáveis virtudes, um anjo sublime, a menina dos seus olhos, facultando-lhe gostosamente vultuosa ajuda material. 

Existe, no entanto, uma funesta sina nas relações amorosas e as mulheres, nesse aspecto, são as mais propensas e traidoras. Certo dia, depois de alguns já de convivência, surpreendeu a sua ‘Zaura a falar ao telefone, imperturbada, não fazendo ele ideia de quem pudesse ser o interlocutor. E foi ouvindo o teor da conversa, inicialmente com surpresa, depois com espanto. Conforme ia ouvindo sentia-se invadido por assoladora onde de tristeza que o empalidecia, depois uma saraivada de facas que lhe aguilhoavam a alma.

Dizia ela, a certa altura:

- É pena eu estar velha senão eu dava umas voltas contigo.

Respondia alguém

- Sim, já não aguenta a pedalada: está assim tão velha?

- Não, já me falta o ar mas com um novo talvez não.

- Não, há que experimentar a ver se aguenta.

- Já perdi o jeito, não sei por onde se lhe pega.

- Sério? É preciso é prazer, o jeito vi lá depois.

- Sim, sim, tenho que ver isso, tem que escolher o novo certo.

- Eu já tenho um novo mas dá-me cabo da cabeça.

- Sim, gozar enquanto se pode. Pois, tem de gozar a vida. Deve aproveitar.

- Os homens só dão valor a coisa que não presta.

- Diga-me como escolher a pessoa certa que eu não sei; quando penso que é uma pessoa certa, sai errada.

- Olhe, pode aparecer alguém. Sim, quer um novo ou velho? Que prefere?

- Olhe, eu nesta hora tenho um novo e um velho, diz-me qual é o melhor?

- O novo é melhor.

- Está enganado, o novo só é bom para dar cabo da cabeça.

- Pois, tenha paciência e tudo pode acontecer e escolha a pessoa certa.

- Pode, já está, não sei se queira o velho ou se fique com o novo. Que me diz?

- Fique com o novo.

- Não me diga isso, o velho tem dinheiro e o novo não.

- Então fique com o velho e arranje um novo para as curvas; é o que leva de ganho.

- Só experimentando.

- Quer hoje? 

- A que horas, onde?

- Aqui na minha casa; está pronto?

- Sim, estou, sabe disso. E você?

- Também. 

- Sim, não aguenta uma.

- Uma só é pouco ou nada.

- Está velha, já nem uma dá.

- Agora já nem meia. Já perdi o jeito. Quando chegar á minha idade já nem uma dá.

- Espero ainda dar duas, com a sua idade.

- Com essa idade, duas? Quantas seriam agora?

- Três, se a parceira for boa. E você, nadinha? Enferrujada?

- Não ganha ferrugem que eu não deixo. Nem que fosse uma dúzia.

A conversa foi continuando, longa, relaxada, confiante, expansiva, cada vez mais escabrosa. Ás tantas o pobre Tibúrcio procurou reagir, a muito custo, destroçado na sua ilusão. Soube que o sujeito tinha quarenta anos e não quis acreditar como eram possíveis numa mulher daquelas conversas tão baixas e degradantes. Numa roda de amigos, durante uma farra, ainda vá que não vá; agora, em privado, com um rapaz que nitidamente a estava a gozar, como se poderia admitir que uma mulher perto dos sessenta permitisse e mesmo gostasse de um palavreado tão sujo, não se respeitando a ela própria nem se dando ao respeito? 

Que pena, meu Deus, que pena! 

Afogado nessa alucinação o sonho que o consumira pouco durou a partir dessa funesta hora. O desditoso e carente Tibúrcio. perdida a sua ‘Zaurinha, voltou a carpir a sua solidão até ao caminho das sombras.

Tudo por causa de uma mente porca e depravada.

 

 

Arcos, Outubro 2015

2015-10-14

António Manuel Rodrigues - Coimbra

Uma indolência inveterada, alguma abulia, e uns achaques de  saúde têm-me mantido em silêncio mas tenho andado por aqui a ler menos do que desejava. É muito bem feito e mereço-o.

Há dois temas que me andam cá provocando. Vou tentar dar-lhes forma e, depois, veremos se vale a pena publicá-los.

Tarde cheguei à nossa associação, o que muito lamento mas sem remédio. O que me falta em tempo e colaboração é o inverso do desejo e vontade de continuarmos amigos. Amigos de verdade sem necessidade de andarmos sempre em perfeita concórdia e aos abraços.

Embora não tenha filhos, já tenho pensado que a nossa associação, continuando, um dia poderia ser AAAR&Herdeiros ou:AAAR&Descendentes.

A originalidade é pouca mas esta ideia agrada-me e deixa-me com um sorriso nos lábios, levemente desenhado; um pouco mais gravado cá na alma.

Não prometo que seja em breve mas garanto-vos que já ando à procura  do meu amigo Hércules.

Um abraço e até já.

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