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2021-03-30

Manuel Vieira - Esposende

Diálogo

Oração a Deus

            Se, no dia-a-dia, Te sentimos, hoje sabemos que Estás aqui.

            Pai Nosso, porque Te cansaste, separando as águas da Terra, talvez procurando barro de diferentes cores – moldaste e com a facilidade dum sopro, deste vida ao pó que condenaste a voltar a ser pó, em curta viagem.

            Diz-me um dos Teus segredos – Quem é o Teu barbeiro, aqui na Terra como no Céu?

            A palha está cara, as vacas não dão leite – como podemos cumprir: crescei e multiplicai-vos!

            Mandaste um anjo fazer um filho, que adorado, foi condenado e pendurado, perguntou: - “Pai porque me abandonaste?”. Morreu à sexta, à tarde, e ressuscitou ao Domingo – três dias certos para quem, ou não tem dedos, ou meteu cunha para “passar” a matemática.

            E Deus não responde. Sabe que voltarei a ser pó.

            Porque mataste 200 mil espermatozóides?

            - És um abortador, mas sabes fazer Papas, Bispos, Padres e freiras (madre estéreis) que se debruçam, levantam o saiote e dizem “p’ró cu vadis – eu venho-me e não engravido”.

            Cristo, acompanhado da Madalena, disse aos pescadores “ comei e bebei – este vinho (no máximo 5 litros) é sangue do meu sangue, e o pão carne da minha carne.” Dizem que foi a última ceia.

            ?Fim do Ramadão?

            - Perdoai-me 70 x 7,

Albino Coelho Lopes

 

            P.S. Deus está cansado.

 

Este "diálogo" foi escrito pelo nosso colega Albino Lopes, já falecido e entregue em manuscrito ao Castro, que mo disponibilizou para partilha com os nossos colegas. E aqui está, no estilo peculiar do Albino que já sinto sorrir...

2021-03-17

Adolfo Pereira - Guarda

Continuação - Fragmentos vividos de história pátria e familiar (linha paterna)

 

8 – É mais útil à Pátria um patriota vivo, do que um herói morto.

O tio António, monárquico, foi sempre um revolucionário. Só que viu-se a lutar por uma terra que não era a sua, numa guerra que nada tinha a ver com os seus ideais e servindo interesses estrangeiros. Ora ele era um patriota, mas muito lúcido. Logo viu que aquela guerra não era a sua e achou melhor seguir os conselhos paternos: manter-se vivo.

O meu avô tudo fez para o livrar e também não podendo comprar-lhe a figura, não desanimou e resolveu salvá-lo. Como assim?, perguntará o leitor. Vou revelar o que, não posso afirmá-lo, poderá ser até um dado inédito na Historiografia portuguesa. Com muito engenho e arte arquitetou um meio de o livrarde poder vir a ser morto. Com a conivência de um boticário amigo que lhe preparou um líquido semelhante na cor ao azeite e que tinha a propriedade de alterar a pele, produzindo umas empolas etc. No resto era inofensivo. Ora pelo Natal os soldados podiam receber uma encomenda da família com roupas e comestíveis, de modo que esse azeite, neste caso, putativo era-lhe enviado. Assim o meu tio, quando havia uma operação perigosa programada, antecipadamente untava-se com o dito líquido, surgiam os sintomas, baixava à enfermaria… e o perigo passava.

Resultou sempre. Contudo uma vez ocorreu um imprevisto. Algo inesperado. Como historiador tenho de contar a verdade, mas a solução encontrada só revela a valentia e lucidez do meu tio. Foi o caso que houve um toque de formatura para uma operação imediata. Que fez ele? Deu uns valentes murros no nariz, encheu lenços de sangue e mais roupa e mostrando o sangue foi juntar-se à fila dos feridos que se dirigia para a enfermaria. Isto só sucedeu uma vez.

 

9 – Salazar e uma galinha espanhola

O meu tio manteve vivo o espírito revolucionário. Esteve metido em todas as intentonas monárquicas. Numa delas aconteceu até um episódio caricato. É que vindo a polícia a casa para o prender e não o encontrando (não sei se por ter fugido ou por outro qualquer motivo) como não pode levá-lo a ele, levou um irmão, o tio Rufino, que nada tinha a ver com o caso nem se parecia com ele. Desde que levasse alguém a polícia cumpria a sua missão. Zelo a mais e inteligência de menos, como é seu apanágio.

Por falta de elementos não posso afirmar se entrou ou não no 28 de Maio, do G. Gomes da Costa. Ouvi-o, sim, contar o episódio como se em primeira pessoa, de como a tropa, saindo do Quartel do Pópulo em Braga, varreu tudo até entrar em Lisboa e o Regime caiu então de podre.

Os governos da República sucediam-se uns atrás dos outros, os partidos degladiavam-se e o custo de vida galopava constantemente. Ora a ideologia não mata a fome. Na província não havia estabilidade nem confiança. Sidónio Pais, a quem F. Pessoa chamou Presidente-Rei, muito querido, principalmente pelas mulheres (Raul Brandão diz que no seu gabinete havia sempre um fru-fru de saias) iria meter a República nos eixos, mas foi assassinado.

De modo que, quando Salazar assumiu o poder, estabilizou as Finanças e controlou a inflação, quase toda a província e mundo rural aplaudiu. O meu tio sempre manteve a esperança de que Salazar seguisse o exemplo de Franco e acabasse entregando o poder à Monarquia. O que não veio a suceder, infelizmente.

Salazar, no entanto, deu uma grande ajuda à Causa Monárquica. É que o último Rei de Portugal que descendia da linha de D. Pedro morreu sem descendência. Só que D. Carlos teve relações com uma galinha espanhola, logo a sua descendência deteria o direito à Coroa portuguesa. Mas o caso de D. Carlos foi um segredo de Estado e a filha nunca teve pai.

A pretensão espanhola à Coroa portuguesa foi julgada em tribunal que não reconheceu tal direito e decidiu em favor da linha miguelista, da qual descende o nosso atual D. Duarte. O Tribunal decidiu, mas sabe-se que aqui houve a intervenção de Salazar, que entre uma galinha espanhola e um patriota português que, estando exilado, mandou vir terra do Castelo de Guimarães para que o filho nascesse em terra portuguesa, não hesitou. Eu faria o mesmo. E assim nunca um italiano virá a ocupar o Trono de Portugal, digo italiano, porque o herdeiro da galinha espanhola vendeu ainda não há muito tempo o seu pretenso direito a um oportunista italiano. Um bom negócio para ambos. É que só a realeza pode legitimamente conceder títulos de nobreza, o que foi um bom investimento para o italiano. Até eu, se fosse mais novo, talvez não hesitasse, por um preço de saldo, em obter um qualquer título de nobreza, barão ou até conde. Ter-me-ia feito bom jeito. Aconselho a quem o queira.

 

10 – Enfrentando um leão e outras valentias.

Também o senhor meu pai herdou esses genes do combatente do General Silveira. Prova-o a coragem que mostrou ao enfrentar um leão e evitar assim o que poderia ser uma tragédia.

Ainda solteiro e estando no Porto, como gostasse muito de circo, deslocou-se à Senhora da Hora. Durante um número com leões aconteceu que um deles conseguiu sair da arena. Gerou-se gritaria e pânico na assistência que queria fugir. O senhor meu pai manteve a serenidade e corajosamente encarou o leão, fixando o olhar nele. Perante esta cena insólita, até para o leão, este estacou. Entretanto, o domador acorreu e acabou salvando a situação.

Desconheço se na assistência havia algum jornalista ou se teria sido o circo a comunicar o ocorrido e a intervenção do senhor meu pai, só sei que a imprensa relatou este feito e eu conservo ainda uma carta de felicitações por tal ato de coragem.

Quanto a mim, apesar de ter sido preso nas lutas estudantis, consegui com a anuência dum contínuo evadir-me, evitando a multa de 10 contos que mais de uma centena pagaram. A minha valentia, porém, é do tipo: Mato ou morro. Vou contar este episódio passado na guerra colonial com o General Kaúlza de Arriaga. A forma é anedótica, mas no fundo, verdadeiro. O general, sempre que visitava um batalhão, gostava de fazer ação psicológica com a classe dos praças, elevar-lhes o moral. Em formatura, ia perguntando a um ou outro soldado porque se encontrava ali, qual a sua missão, o que pensava disto e daquilo etc. Eu próprio sou testemunha ocular. Perguntando um dia a um soldado o que faria se se deparasse com o inimigo, a resposta foi: Mato ou morro, diz-se, mas é muito possível que tenha ocorrido. A parte já inventada, sem dúvida, é que o general como gostasse da resposta, exemplo de coragem patriótica, pediu ao soldado para explicitar mais o seu sentir, ao que ele respondeu: Se o turra vier do morro eu fujo para o mato. Se ele vier do mato eu fujo para o mato. Nenhum soldado se atreveria a dizer tal a um general, embora o pensasse, claro.

 

11 – Nos quoque gens sumus et cavalgare sabemus (Palito Métrico)

Seguindo este parecer do Palito Métrico eu vou puxar dos meus galões, visto que também eu sei cavalgar nos meandros da investigação. Portanto e para memória futura aqui divulgo alguns elementos recolhidos, cujas provas sinceramente temo que já se poderão ter perdido. Aqui vão, procurarei resumir.

A - Exercícios de caligrafia da Rainha D. Maria II

O meu interesse durante décadas centrou-se na nossa História Postal, a partir do fim do monopólio dos Correios-Mores. E com esse fito contactei com diversas famílias brasonadas e da antiga Nobreza. Uma delas foi a D. Eugénia Brandão de Melo que visitei bastantes vezes na sua Casa dos Mimosos, última herdeira de uma das mais importantes famílias Nobres do Liberalismo, ligadas à Corte. O seu avô, salvo erro, fora conselheiro de D. Carlos. Detinha ela imensos tesouros, muitos pretendidos por museus americanos e prendas reais até dos Reis de França, mas o meu interesse era a documentação postal. Ora, quando a nossa Rainha D. Maria II, estivera ablegada, ainda muito criança, um seu antepassado fora seu preceptor. E D. Eugénia guardava muita dessa documentação. Tive assim nas minhas mãos umas simples folhas que ela me mostrou, pelo menos umas 4. Eram exercícios de caligrafia da pequena Rainha D. Maria II, quando em Paris, nas quais ela ia aperfeiçoando a letra. Agora veja-se o que ela escrevia. Em todas essas folhas era sempre e só isto:

eu fujo para o mato. Se ele vier do mato eu fujo para o mato. Nenhum soldado se atreveria a dizer tal a um general, embora o pensasse, claro.

 

assinatura completa e perfeita. Talvez tivesse feito mal em não o ter comprado. Mas vamos ao que interessa: quis-me ele vender 4 ou 5 postais dirigidos a Salazar por uma das irmãs, em diferentes datas. Ora o que tinham de extraordinário tais postais, todos da mesma série dos CTT, é que eram como que passados a papel químico, exatamente iguais. Não recordo o que estava escrito neles, mas era exatamente o mesmo texto, só a data é que mudava e os carimbos, claro. E isto não é natural, o postal era ou continha em si um código só inteligível para o destinatário, era evidente. O antiquário viu logo isso, por isso os guardou. Espero que não se tenham perdido. O seu interesse é histórico apenas, porque aquela série é vulgaríssima e de pouco valor do ponto de vista colecionável.

 

12 – Refletindo nalgumas profissões já históricas.

Sem os calafates não se teria chegado à Índia nem eu não estaria agora aqui no Xica da Silva acabando esta crónica. Ferreiros, carvoeiros, guarda-soleiros e afiadores de facas… muito úteis. Faroleiros e vigias, abafadores, almocreves e ferradores, já implicavam um certo risco. Os almocreves deparavam-se com atascadeiros e lobos, amigos do alheio, certas papalvas eram mesmo uma tentação e depois viam-se aflitos para compor o instrumento, dormir em estalagens um perigo sempre com rixas constantes. Por certo o bacamarte sempre a jeito metia respeito, mas às vezes o vinho subia à cabeça e lá se ia a guarda. Também a vida dos carroceiros não era muito diferente. Sentados na boleia apanhavam chuva, enlameavam-se, só diziam palavrões e maltratavam os animais. E quando se partia um eixo então é que era o cabo dos trabalhos. As autoestradas de então eram um perigo, o único de bom é que não se pagava portagem. Dos boieiros nem se diga: o moço que ia para este mister era logo advertido: Acautela-te do boi, pela frente. Do burro, por detrás e da mulher, por todos os lados. E ainda, muito importante: Vaca que não come com os bois, ou come antes ou come depois. Igualmente os ferradores. Lidar com cornípetos nunca foi fácil. É que as cornadas e cornaduras são bem dolorosas, dizem. Mas tudo tem exceção, por isso a sabedoria secular aconselha prudência e resiliência: Cornos que dão de comer… deixa-os crescer. Por acaso, o leitor sabe o significado da palavra cornozelo? É sinónimo de ferradura, portanto avalie-se o perigo.

No tocante a ferraduras há muita ideia errada, já com os canelos o mesmo não acontece. Convém portanto esclarecer. A ferradura era usada como publicidade de papas e reis etc. Quando em certas deslocações eram de ouro e, sabe-se, até davam ordem aos ferradores para que não as apertassem muito. O povo acorria a ver passar o cortejo e apanhar uma ferradura dessas era mesmo a felicidade, mudava a sua vida, claro.

Quanto à ferradura como talismã, contra bruxas etc. etc. não me posso pronunciar, com algumas pessoas funciona bem. Mas atenção, que nem todos sabem isto e daí o erro. Para ser eficaz, a ferradura tem de obedecer a 2 requisitos essenciais: 1- Ser achada. 2- Ter um número ímpar de furos. Estas exigências tornam-nas raríssimas, o leitor nunca irá encontrar uma com o número ímpar, embora eu tenha. Procure e verá. É mais fácil optar pela célebre medalha de S. Bento. Soube-se da sua existência e eficácia precisamente por 2 bruxas que foram caçadas há séculos e julgadas. Durante os interrogatórios acabaram por confessar a existência e o poder talismânico da dita medalha. Mas eu entre a ferradura e a medalha de S. Bento não sei qual protegerá mais. O leitor que se informe. Falo nisto apenas por uma razão histórica (como disse Marco Aurélio Sou homem e tudo o que é humano me interessa), porque, sem usar nenhum talismã, considero-me um homem com sorte na vida. Não sei explicar como, o certo é que na minha juventude em dado período olhava para um trevo e encontrava um de 4 folhas, dias depois outro trevo de 4 folhas. Uns 3, guardei-os nalgum livro, não sei qual, mas estão em minha posse.

Porém o leitor tem muito para estudar e escolher: Escapulários de Nª Srª do Carmo, a celebérrima Medalha Milagrosa revelada por Nª Srª, a Cruz Dupla de S. Pedro a favorita dos Papas, a Cruz de Stº André etc etc. Há terços benzidos até pelo Papa, o popular Sino-Saimão muitíssimo espalhado entre nós, o pentagrama, a cruz suástica de origem rúnica que já encontramos em Conímbriga, cornos de vaca-loura, a figa e o corno, a meia-lua, a cruz potenciada usada nas caravelas de outrora etc. Até a Mão de Fátima ou Hansa se está a popularizar muito no Ocidente. O que posso aconselhar é que o leitor busque a felicidade dentro de si e em nada exterior a si, busque a força que há em si e em nada fora de si, trave os combates de dentro e não se preocupe com os de fora, até porque muitos destes amuletos podem ser prejudiciais ou então inúteis, o que é de menos, a quem desconhecer o seu modus operandi, visto que tudo o que existe é dual, com polaridades opostas. Ponha portanto de parte estes talismãs ou amuletos, se não for um perito e não vá em tretas. Se alguém estiver interessado num Terço benzido pelo Papa, contacte-me que eu vendo a preço de saldo um que me ofereceram, até traz gravada na caixa a Basílica vaticana, e que não me serve para nada.

Continuemos:

Latoeiros, outra profissão já extinta. Conheci um dos últimos, chamava-se ele Vitarela, descendente de italianos, que me fez ver os riscos da mesma. Muito se queixava. Por causa das mulheres. Contava, vinha uma e dizia:

Sr. Vitarela, deite cá um pingo dos seus!

Depois vinha outra: Tape-me aqui este buraco.

Mais tarde outra: Sr. Vitarela, faça-me aqui um furo.

Era sempre assim. Uma trabalheira do caneco.

Não quero terminar sem refletirmos sobre a pastorícia, muito importante na nossa economia e tradição histórica, psicológica e até literária. Gil Vicente e os clássicos muito falaram em zagais e zagalas, seus amores e vida edílica. O que por um lado é verdade e eu até lamento que muitos jovens, havendo benquerençado ou namorado com pastoras sem nunca pensar que se N. Srª as prefere por algum motivo é, tenham optado por alguma menina estudada e letrada, e o resultado foi sempre um desastre. Tudo por ignorância, pois a sabedoria secular é muito clara, não admite exceção: De burra que faz him him e mulher que estudou latim Deus nos livre a ti e a mim. Ou ainda noutra versão mais direta: Burra que faz him him e mulher que sabe latim não a queiras nem para ti nem para mim. Ficou alguma dúvida?

Ora nós influenciados por toda uma cultura achamos que a vida pastoril era muito agradável e idílica. Vemos que Nª Senhora escolhe os pastores, nas procissões desfilava uma criança com um cordeirinho nos braços, nos sacrários encontramos um cordeiro e isto induziu-nos em erro, ao criar em nós uma imagem mental falsa.

Também eu na minha muito tenra meninice acompanhava por vezes umas 5 ovelhinhas paternas, muito sossegadinhas, ternas. Era bonito tanta candura e inocência, confesso.

Isto, porém, pode-se aplicar, quando muito, aos ovinos. Embora os pastores apanhassem chuva e frio, sol excessivo, dormissem ao relento nos montes nas ditas pedras do pastor, só comendo de seco etc. Andavam o ano todo fora de casa, calcorreando serras, nas brandas e inverneiras.

Mas tudo muda relativamente aos caprinos, e aqui é que eu quero chegar, guardar cabras era um trabalho de alto risco, sobretudo para raparigas, mesmo intrépidas. Ser cabreira era a pior coisa, há até serras com esse nome pejorativo. Tudo isto porque andar por serranias para uma rapariga era um risco enorme, pedras resvaladiças, ravinas escorregadias, boqueirões, covões, córregos, pegos e frestas, vegetação densa e muito agreste, encostas, barrancos e covas imprevistas. Em qualquer lado se podia cair e ter um descuido.

Ora isto é tanto assim que, quando um rapaz ia pedir a mão da noiva ao futuro sogro, este o prevenia sempre muito formalmente com os seguintes dizeres que os nossos etnógrafos conservaram:

Ela cabras guardou

e sebes saltou.

Não sei se em alguma se espetou.

Mas se a quereis assim como está,

eu vo-la dou.

Era este o nosso Portugal profundo. Felizmente que hoje em dia já não há cabreiras e deixou de se falar nestes perigos. Ainda bem. Mas fazem ainda parte da nossa psique.

13 – Sabe o que E. de Queirós escreveu depois de morto?

Comecei estes fragmentos com Eça, é justo que acabe também com ele. Não me refiro a um texto, que escreveu em vida, para ser só publicado depois da morte, desfazendo em Camilo, verdadeira e covarde sacanice. Refiro-me a outra coisa. Eu conto.

Os lisboetas viram-se bem retratados por Eça, inúteis, uns manguelas, só banalidades e léria, explorando quem trabalha e mamando no Estado etc etc. Tal como hoje. Vai daí resolveram erguerem-lhe um monumento onde se diz até que tudo isso é verdade, sob o manto diáfano da fantasia.

Já Camilo não precisou de nenhuma estátua. A minha avó materna que o conheceu, aquando em veraneio na Póvoa de Varzim, dizia que, quando ele passava, as senhoras de sociedade cochichavam entre si: Aquele é o grande escritor Camilo C. Branco (sic). Era ele um monumento vivo por onde passasse. Nunca se disse Visconde, nem por tal era tido. O título de nobreza a anteceder-lhe o nome era: O grande escritor.

Ora o monumento de Eça situa-se no Largo B. de Quintela. Para Eça não podia haver melhor sítio porque…

Atenção, que já me ia esquecendo! Se o leitor tem menos de 16 anos pare imediatamente de ler. Se for uma pessoa sensível e facilmente impressionável peço-lhe p f que não prossiga. Se não for um homem de barba rija nem usar as conceituadas lâminas Gillette, mesmo que seja lisboeta ou dos arredores e se tenha lavado sempre com sabonetes Lux, mesmo assim, acho melhor que se abstenha de ler…

Prossigo só nestas condições.

Para Eça o local do monumento era ideal, estava no seu ambiente, porque mesmo em frente havia naquele tempo uma célebre casa de meninas. Há quem lhes chame tias, mas pelo que se sabe ainda não tinham idade para tal. Ora, no seu poleiro Eça a tudo assistia. E a artista mais afamada era precisamente uma espanhola, de nome Lola. Contudo o monumento a Eça apresenta um defeito tal que, se o Lobo Antunes fosse daquele tempo, ter-se-ia logo insurgido veementemente. A Eça falta toda a parte de baixo do corpo, veja-se. Grave deficiência e grande. Eça, dias após a inauguração, expôs o caso à Lola. Num papel colado ao monumento escreveu ele:

Lola, bela Lola,

grande mulheraça!

Só tenho a parte de cima,

não sei como isso faça.

Assinado: Eça de Queiroz

Como conseguiu ele escrever e colar o papel? Ignoro, mas um espírito possui capacidades que nós desconhecemos. Também a Lola certamente não saberia escrever, alguém o fez por ela e uns dias depois lá apareceu colada a resposta:

Ó Eça, homem culto

e de muito siso.

Tens língua e bigode, o resto não é preciso.

Assinado: Lola

Perante tal, Eça calou-se e nunca escreveu mais nada, que se saiba, desde então. Com o tempo as meninas foram-se embora e ele ficou só. E agora quem lá passa já nem lhe liga. Sic transit gloria mundi.

Assim ia Lisboa, capital do Império e de tudo o mais: jogos florais e quadras de Stº António.

 

FIM destes fragmentos da nossa História

Paciente leitor:

Ao remexer na História tenho-me lembrado muito da minha tia D. Amélia de Athayde, aquela por todos considerada a ovelha ronhosa da família. Como nasceu no último quartel do sec. XIX a sua vida é já mais que História, e de interesse para a cultura geral. Mas nela há vários enigmas que tenho tentado decifrar, sem o conseguir. Pode ser que algum leitor o consiga. Quando possível, abordarei a sua vida e personalidade, onde há muito a aprender. Isto se o vírus não nos chatear mais, pois por aqui anda mesmo muito assanhado.

Minas Gerais, 14 de Março de 2021

Villas-Boas

 

 

2021-03-12

Aventino Pereira - Porto

O SENHOR ADOLFO. GOSTO DO SENHOR ADOLFO.

 

 

senhor Adolfo cruzou-se comigo, sotaina preta no senhor Adolfo, o senhor Adolfo sorriu o senhor Adolfo não sorria o senhor Adolfo olhou-me o senhor Adolfo perguntou-me o que fazes aqui o senhor Adolfo não me perguntou o que fazes aqui, adivinhei-o na ironia, no esgar com que o senhor Adolfo me amansou o medo e eu respondi ao senhor Adolfo sou o Aventino e estou aqui a fazer o tempo. Sorriu. Estamos todos a fazer o tempo! respondeu-me, escadas do seminário, anos sessenta, numa tarde em que ainda tínhamos esperanças de dias felizes.

 

Agora encontro-o às vezes encontro-o encontrava-o pelos lados de Gaia em junto ao Hospital da Misericórdia em junto ao Palácio da Injustiça o senhor Adolfo vagueava e eu quis abeirar-me dele, boa tarde senhor Adolfo, boa tarde dir-me-ia elenão há nunca nem boanem más tardes não as fazemonão lhe comandamos os destinos, as tardes é claro, tem razão senhor Adolfo é uma forma de entrar na conversa consigo, sim, sim e como saímos, saímos de quê, da conversa, ah! tem razão, toda a viagem tem um ticket, toda a viagem tem um destino, disse-lhe, talvez, talvez, respondeu-me, poderemos ficar sempre a pernoitar na locomotiva de todas as viagens, é claro, pernoitar na locomotiva, no seminário, no de Cristo Rei ou noutro, continuei, foste seminarista perguntou-me, não fui seminarista sou seminarista, os meus sentimentos, retorquiu-me.

 

Agora encontro-o em casa do Assis, em casa do Assis apenas, quando a casa do Assis era o encanto da casa do Assis, as favas ao lume, o Vieira de avental, a alegria de todos e a festa quente nas almas tristes da desventura que se aproxima.

O senhoAdolfo abeirou-me o senhor Adolfo quis rir-se comigo eu quis rir-me com o senhor Adolfo, vamos rir-nos Adolfo perguntei-lhe, vamos Aventino respondeu-me mas tudo já é tão longínquo que nem eu nem o senhor Adolfo fomos capazes já de deixar ver os nossos dentes carcomidos pelo tempo. 

 

2021-03-05

Adolfo Pereira - Guarda

Fragmentos vividos de história pátria e familiar (linha paterna) 1ª Parte

 

A História nada mais é que tempo. Tal como as palavras, é passado. O vir a ser que foi e há-de ser. Mas o vir a ser é sempre desintegração, luta, conflito resultante do condicionamento do passado. O conflito, a luta, no fundo a guerra, está entre o ser que se é e o vir a ser que se quer, o que se tem e o que se quer ter.

O vir a ser é desintegração, pois se a realidade sempre sujeita ao tempo está em constante transformação e é nova a cada instante, com a nossa mente não se passa o mesmo, como é velha não pode apreender o que é novo. De modo que o conflito, tanto interior como exterior, individual ou coletivo mantem-se. Como alguém disse, creio que G. Bachelard, mal nascemos já somos velhos. Temos a idade dos preconceitos e projeções do passado.

 

1 – Importância das galinhas e a utilidade da História.

Entrar na História é tanto um risco como um desafio. Mesmo a familiar. Mas fascinante, é como aqueles terrenos pedregosos e áridos. Ninguém dá nada por eles e de repente no subsolo descobre-se petróleo ou ricos minerais. Uma surpresa! Sob o pó do passado surgem enigmas, mistérios, revelações, compreensão súbita do que somos, formas de reconciliação e até terapia.

Veja-se o caso de Eça de Queirós. Traumatizado por ser um filho sem mãe. Tivesse ele conhecido aquela célebre frase que um filho de D. João V, o tal de nem sempre rainha nem sempre galinha, dirigiu à senhora galinha que estava muito saudosa e carente de amor filial: Sabei, Senhora, que nós, filhos de rei, não temos mãe. Filhos de rei. Saber isto teria engrandecido o nosso escritor que, aliás, inconscientemente era um elitista, estrangeirado, sempre atrás das condessas até que casou com uma. Eu preferiria que ele tivesse mãe, isso ter-lhe-ia permitido assimilar o leite, a seiva e o húmus do nosso povo, tal como Camilo o fez e graças ao seu trabalho elevou-se ao título de visconde.

Ainda bem que Eça não se coibia de entrar em tascas para degustar precisamente galinha que deveras apreciava. Esse devorar de galinhas não seria psicanaliticamente uma vingança inconsciente contra a galinha mãe que nunca teve?

Parece que o Ronaldo, futebolista, também conseguiu ter filhos sem mãe, privilégio real.

Deveras curioso isto, porque na Religião acontece sempre o contrário, existe mãe, mas pai não, e quando há, como no Cristianismo, chamam-lhe putativo. É um termo feio, que até pode dar origem a más interpretações. E chamar putativo a um santo penso que é ofensivo. Mesmo que se chamasse pai presunto ou presuntativo continuaria a ser feio. Mas a História tem destas coisas, por isso gosto tanto dela.

 

2 – Na Barrosa também não havia bela sem senão

Confesso que nem tudo eram rosas. Não posso transigir com um triste e lamentável episódio dos nossos mestres, que tanto tenho gabado, mas não posso passar por alto um caso desta gravidade. Um muito mau exemplo. Uma nódoa. É certo que quando se está totalmente absorvido nas coisas divinas, pode acontecer que se esqueçam as humanas. Lamentável. Eu explico.

A Quinta da Barrosa não era livre e alodial, estava onerada em 5 coroas ou três e quinhentos, por ano, ao Conde das Devesas. Pediu este o pagamento em falta e os nossos mestres, perante tal riram-se e, o mais deseducativo, é que nos contaram isso fazendo chacota. Um péssimo exemplo, deveras. Mal ia o Conde se precisasse dessa quantia para viver, não dava sequer para pagar o adubo duma só das suas muitas camélias, exemplares quase únicos no mundo. Não sei se acabaram por pagar-lhe ou não, o que sei é que para nós foi um escândalo em todos os sentidos. Falta de compreensão. Não era a quantia em si, tratava-se, isso sim, de uma questão de honra, respeitar a lei e o direito que nos regia e o reconhecimento devido aos ancestrais que fizeram o nosso país.

Compare-se isto agora com o que se passou com o senhor meu pai.

 

3 – Que grande lição de História

Herdara ele em finais dos anos trinta uma propriedade não alodial também. Tinha um ónus de 3 galinhas por ano. O detentor desse direito (veja-se a coincidência!) fora seu companheiro de juventude e, além disso, fora o que hoje chamaríamos seu médico de família. Relativamente afamado, era até gozado porque, como se chamava Bonfim, acabava sempre os seus atestados de óbito desejando Bomfim ao morto. Ora ele exigiu as 3 galinhas. Mas o senhor meu pai achava que um médico, no fundo um amigo, solteiro (morreu solteirão!) morando num palacete não precisava para nada das 3 galinhas e gozava até com ele. Após uma larga troca de correspondência, o médico sempre a pedir o devido e o senhor meu pai sempre a gozar, ele deixou de insistir.

Mas note-se a ironia do destino, como o que tem que ser tem muita força. Trinta e tal anos depois por desfastio fomos a uma das mais afamadas romarias nortenhas e os dois protagonistas deste caso encontraram-se. A idade já tinha avançado muito. Falaram de coisas da juventude e naturalmente o tema da dívida por saldar veio à baila. O senhor meu pai deu-me então uma grande lição de História. Tira da carteira uma nota de conto e diz para o Dr. Bonfim: Está bem assim? Que concordou e guardou a nota. Não se esclareceu se o pagamento seria para o restante das suas vidas. Só que pouco depois deu-se o 25 de Abril e a Constituição de 1976 aboliu estes resquícios senhoriais. Se calhar até foi mau. Claro que era coisa antiquada, mas bonita, uma relíquia meio pitoresca da nossa História. Os recibos desses pagamentos são até comovedores.

Mais tarde também o Fisco fez desaparecer o pagamento de rendas em carros de cereal, moios, alqueires, rasas, almudes de vinho ou azeite, meios de vinho ou trigo, fardos de palha, quarteirões de ovos, cestos de alhos e cebolas, arráteis de cera, cargas de lenha, carros de mato, arrobas de batata ou canadas de leite etc. O dinheiro tudo destrói e iguala. Baniu-se assim da nossa História o individual, o característico e o pitoresco. Por outro lado mantemos ainda velharias sem sentido e fazemos continência diante delas. É o caso do Hino Nacional, que em vez de ser a síntese da alma do nosso povo, é uma antiguidade mais que absurda. Veja-se só: Heróis do mar quando já há muito que a guerra se decidia pelo domínio do ar. Presentemente é económica e eletrónica. Contra os canhões marchar onde já se viu tal? Já só se encontram canhões nalgum que outro museu. Se ainda fosse marchar contra Bruxelas ou contra a corrupção… outro galo cantaria. Enfim… À falta de melhor hino eu preferia até um fado de Amália.

 

4 – A mais insólita, exemplar e humilhante sentença saída dum Tribunal português.

Homem íntegro, empreendedor, chegando mesmo numa Exposição Comercial e Industrial a ganhar com os seus linhos várias menções honrosas, o meu avô era, acima de tudo, um grande patriota. E por um excesso de patriotismo passou ele a maior vergonha e humilhação da sua vida. Tudo por causa duma porca. Mas eu conto.

Muito tempo após a implantação da República ainda o Portugal rural se mantinha quase todo monárquico. Porca: assim era chamada a atual Bandeira Nacional. Ora quando rebentou a Monarquia do Norte foi uma explosão de alegria por todo o lado e o rapazio derrubou a porca, apoderou-se dela, descarregando o seu ódio, pisando-a e injuriando-a. Em grande festa arrastou-a pela estrada nacional quase um Km. Tendo o cortejo festivo chegado às terras do meu avô, ele entrou também na folia e decidiu ali mesmo deitar fogo à porca. Era um farrapo, mas se fosse um ser vivo até teria ficado grata a quem a libertou para sempre de tantas judiarias e tormentos. Só que, gorada a intentona e reposto o poder da República, este crime de lesa-porca não ficou impune. O meu avô foi julgado e condenado sem apelo a dar 3 Vivas à República. Veja-se a suprema humilhação: um monárquico, ante as autoridades republicanas, ter que dar 3 Vivas à República. Mas recompôs-se e tal sentença até passou a ser motivo de orgulho para o meu avô. Se fosse hoje, seriam multas etc. Mas há um século ainda imperava a honra.

 

5 – A ordem de Malta e um beijo da praxe da Marquesa de Chaves.

O meu avô detinha um património razoável. O casal e a maior parte das terras eram foreiras da Ordem de Malta, com sede em Flor da Rosa. Detinham o título de Irmãos Auxiliares da Ordem de Malta. Os prazos eram por 3 vidas, findas as quais se fazia novo aprazamento. Os livros dos foros do sec. XVIII, capeados a pele, onde se registavam esses pagamentos e outras peitas existentes são significativos. Mas com o novo espírito saído do Liberalismo e a extinção das Ordens Religiosas estes domínios senhoriais, incluindo vínculos, coutos e honras, passaram a ser postos em causa e assim os foros foram-se extinguindo ou remido.

Com o fim do Morgadio e a extinção dos vínculos em 1863 o património passou a ser dividido entre os irmãos, mas por coincidência a linhagem do meu avô era de filhos únicos. E no reinado de D. Carlos agregou ainda algumas terras reguengas que a Fazenda Nacional decidiu alienar.

Acresce a isto os dotes entrados nas escrituras de casamento, até ao surgimento da República. Ora o meu avô casou em primeiras núpcias com a sobrinha de um padre e ela morreu logo pouco depois. O padre foi deveras generoso, um grande dote. Sabe-se que estas sobrinhas de padre a maioria das vezes eram filhas, mas neste caso não possuo quaisquer provas.

Para o triunfo da Causa Liberal, na guerra civil contra o Miguelismo muito se evidenciou um meu antepassado que pela sua bravura e dedicação foi agraciado com o beijo da praxe da Marquesa de Chaves.

 

6 – A promessa e uma serviçal fidelíssima, mas não estupidíssima.

Só que ele, após tanto tempo de serviço militar e guerra civil, arruinou-se muitíssimo de saúde, envelhecendo até. Já não estava por isso na altura de escolher noiva pelo que a linhagem correu um sério risco de extinção. Sem um filho, acabaria. Já não estava na idade de ter filhos. Situação gravíssima.

Na esperança de obter descendência fez uma promessa. Dar um anjo à igreja. E os seus rogos foram ouvidos pelo Alto, aleluia! Nasce um herdeiro, criança abençoada. Mas não foi um filho sem mãe, isso seria privilégio real, não. Finalmente depois de tantas agruras, gozou do dom da vida e das alegrias caseiras. Quem salvou a situação, diga-se, foi uma serviçal, sem dúvida, fidelíssima mas não estupidíssima. Recorro a esta expressão de Salazar, referida pelo médico que o operou após a célebre queda da cadeira. Vendo que quem mandava ali era a falada D. Maria, de quem então não se sabia se era criada ou amante, e querendo, conforme ele disse, tirar nabos da púcara, comentou para Salazar: Que mulher fidelíssima! Ele retrucou apenas: Fidelíssima, mas estupidíssima.

Mas esta serviçal não o era. Sem ela eu não estaria agora a escrever esta crónica. Soube encher de alegrias a casa dum fiel e bravo combatente do General Silveira.

 

7 – Comprar a figura e a fajardice dos franceses e outros na 1ª Guerra Mundial

O meu avô era patriota, como se viu, mas parvo não. Portanto tentou livrar o meu tio António de ir para a guerra, ter de combater em França onde a mortandade era muitíssimo grande. Recorreu pois a uma alta patente militar (omito o nome, aliás conhecido) que o iludiu até ao fim com falsas promessas, nada fazendo. E não por falta de dinheiro, mas de tempo, o meu avô acabou também por não poder comprar-lhe a figura. Chamava-se comprar a figura a um mecanismo legal, mediante pagamento, que permitia que um expedicionário indigitado para França pudesse seu substituído por outro do mesmo posto que aceitasse essa troca de identidade para fins militares. Custava dinheiro, mas ia havendo sempre algum ou outro voluntário. O que aceitava e partia era a cara do que ficava. Não sei se havia até uma troca de nº mecanográfico. O dinheiro tudo movia, claro.

Também dos nossos governantes se dizia, verdade ou mentira nunca se soube, mas da fama nunca se livraram, que recebiam dos Aliados uma certa quantia, por cada soldado português enviado para França. Não me admiraria, pois os ditos aliados, bifes e franciús, eram uns bons sacanórios. Veja-se só. Nos desfiles militares do CEP, em lugar do nosso Hino Nacional, tocavam acintosamente a Maria da Fonte, o hino já abolido. O Comando Português protestava, vinham as desculpas da praxe e na próxima faziam o mesmo, só para humilhar os portugueses. A maior parte, como eram monárquicos, até preferia a Maria da Fonte, o antigo H.N., mas serem achincalhados pelos franciús é que não toleravam.

Quanto às francesas, pela correspondência lida, nada havia a apontar. Eram só sorrisos e olhos de Páscoa. O elemento masculino com tanta mortandade escasseava muito.

 

FIM da 1ª parte

 

Leitor caríssimo:

Vê como eu quero o teu bem.

Escolhi este tamanho de letra só para que não estragues os teus ricos olhos e assim possas continuar lendo e vendo o que há de belo neste mundo, desfilando pelas nossas ruas, além de contemplar a Natureza e os nossos Monumentos.

Esta crónica amena destina-se a avivar a tua memória e exercitar as sinapses. Também com ela pretendo que atives o cérebro, aproveitando alguns dados de cultura geral. E distrair-te um pouco.

E sobretudo, isto é muitíssimo importante, não quero que te canses. Portanto interrompo agora esta crónica. Mas prometo-te que a 2ª Parte da mesma sairá daqui a alguns dias e nela irei revelar alguns dados inéditos, assim o julgo, na historiografia portuguesa. Lendo-a não desperdiçarás a oportunidade de pôr a tua cultura em dia. Assim o espero.

Entretanto, deseja saúde o vosso Villas-Boas, sempre ao dispor.

2021-02-22

manuel vieira - esposende

Faleceu o nosso colega Davide.

Residia num Lar na zona de Lisboa há algum tempo, condicionado por enfermidades crónicas que lhe limitaram a vida aos 78 anos.

Era natural do Soito, concelho do Sabugal e rumou a Gaia em 1953, regressando logo a casa devido a doença pulmonar. Voltou em 1954 e por lá andou na companhia do Assis, do Viterbo. do Barros, do Manuel Fernandes, do Bernardino Pacheco, entre muitos outros.

Foi advogado e esteve ligado profissionalmente à banca.

Nos Encontros em Palmela estava sempre disponível para assumir a cozinha.

Bom conversador, abordava com algum entusiasmo histórias do seu concelho e a sua pesquisa frequente sobre as temáticas locais permitia mostrar com alguma eloquência várias facetas do Sabugal, para muitos de nós desconhecido.

A última vez que nos encontramos foi no Encontro de Aveiro.

Até sempre, bom amigo e paz ao teu espírito.

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