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2017-05-05

alexandre gonçalves - palmela

PRIMAVERA SEM MUROS

 

Companheiros de viagem! Não temos que regressar aos braços  "da minha mãe", como diz o Pedro Abrunhosa. Nem aos muros arcaicos de Barrosa, como defendeu um dia um jogador de palavras. Maio e junho surpreenderam-nos com sol, com perfumes silvestres, com uma alegria nova, com uma chamada para comparecermos noutro lugar. Onde estiverem dois ou mais, reunidos em celebração, aí é a festa, o desejo, a fala. Em suma, os dias felizes deste fim de tarde, que se chama existência. Já tínhamos saudades de um novo encontro, de uma ampla mesa espiritual, de um autocarro irreverente, a passear-se neste florido jardim português. Outra saudade mais subtil, apenas reservada a espíritos mais iluminados, nós dispensamo-la generosamente. Já não estamos no retrato. Já perdemos a inocência. Queremos "comer"paisagens outras, onde em suave amizade somos cada vez mais nós próprios. Cada um é tanto mais ele próprio quanto mais se abre ao outro, se associa à comunidade e se torna habitante de um território cada vez mais vasto. De que serve o meu quintal, se dele nem sequer se vê o mar? As palavras, as palavras... Que pena que elas, sendo feitas de luz, se prestem à sombra! Sendo feitas de amor, se prestem ao jogo, à provocação, à omnividente arrogância! De que servem os braços da minha mãe, se ela já não está em casa à minha espera? De que serve um lugar sagrado, se ele perdeu a sua sacralidade? Nada nos fica tão mal como ir morrendo, vagarosamente, anonimamente, distraidamente, do lado exterior do mundo! Continuamos indisponíveis para apanhar esse barco. Navegamos para saborearmos a palavra pura. Para fazermos prova de vida, pois os dias são cada vez mais vulneráveis. Navegamos porque nos apetece. Não queremos estar sentados, nem parados, nem cansados. Não queremos sobrar. Queremos sentir que alguém sente a nossa ausência.

E nisto seremos profundamente gratos à ética da memória. Somos filhos de muitos lugares. E temos um apelo original, para os respeitar, vendo-os, vivendo-os e visitando-os. Não há equívoco algum neste sentimento colectivo. Nem ingratidão. Há um ritual de encontro(s). Se houvesse um pai bíblico a ver-nos partir, ele estaria feliz de os seus filhos preservarem afectos e ensinamentos. Ide, diria ele, correi o mundo, amai-o, esforçai-vos por o conhecer. E fazei o favor de nele serdes felizes! Nem que seja apenas por dois dias. Quando regressardes, estareis mais ricos, mais humanos e mais corajosos para enfrentar os muitos perigos da terra! Nós não somos uma tribo nem um"grupinho de maganos", à busca de pretextos para verter canecos. Somos a PALMEIRA, não a vegetal, que o tempo derrubou, mas a espiritual, densa de sentimentos e memórias vivas que permanecem. E durarão, enquanto dois ou mais se reunirem, nem que seja para um pequeno exercício de memória.


Aviso à Navegação 

Os organizadores têm o prazer de informar que à data estão confirmadas 43 inscrições, agradecendo antecipadamente o entusiasmo com que foi aceite o convite. Mais informam que, sendo a lotação do autocarro de 50 lugares, apenas serão aceites as primeiras 7 inscrições que venham a ser feitas. 

2017-05-05

manuel vieira - esposende

Faleceu ontem em Fortaleza o nosso amigo e associado Padre Henri Le Boursicaud com 96 anos de vida intensa. Já muito limitado nas suas forças teve sempre o apoio até ao último segundo do seu amigo e advogado das favelas Airton e da esposa Jarlyne e de um grupo de amigos que foram solidários sempre com ele sobretudo nos últimos tempos

O padre Henri tem uma história longa e também entre nós passou tempos que nos permitiu conhecer melhor a sua vida missionária entre os mais pobres a quem dedicou uma parte grande da sua vida.

Há uns anos esteve no programa de Fátima Lopes e o Semanário Sol publicou uma entrevista de página inteira com um texto que eu aqui reproduzo:

O padre operário

Por Paula Cardoso

Aos 75 anos foi de Paris a Roma a pé. Com 84 plantou bananeiras nos Camarões. Nas idas e vindas, o padre francês Henri Le Boursicaud recebeu uma medalha do Presidente Jacques Chirac, mais tarde devolvida em sinal de protesto. Tem 86 anos e está de visita a Portugal


Um ano depois da primeira viagem aos Camarões, Henri Le Boursicaud decidiu regressar àquele país africano e morrer na floresta entre os «amigos pigmeus». Por isso, em 2004, percorreu mais de mil quilómetros de mato, desenrascando comida e improvisando abrigo pelo caminho. Só depois percebeu que, afinal, não tinha esgotado o tempo das suas missões pelo mundo.Na mesma floresta onde, com 84 anos, quis esperar a morte, Henri espera agora colher os frutos das bananeiras, cacaueiros e palmeiras que ajudou a plantar nessa viagem. «Mas só em 2009», contou-lhe, por carta um amigo camaronês.

Até lá, inquieta-se o francês, «a sobrevivência de um povo com milhares de anos permanece em perigo», ameaçada pela destruição das florestas. Para que «esse crime» não aconteça Henri escreveu Pigmeu entre os Pigmeus, obra que o faz correr, desde Maio, dezenas de paróquias portuguesas. Sobretudo no Porto, onde foi recebido pelo padre e amigo Bernardino Queirós, responsável pela comunidade de acolhimento Tenda do Encontro. Ali, o francês repete a sua fé de vida, no convívio diário com as crianças: «Seguir até ao fim».

Mas é ao ventre materno, que Henri vai buscar explicações para a vocação peregrina. «Fui influenciado por um sermão de missionários que a minha mãe ouviu durante a gravidez», acredita o pároco. Por isso faz questão de contar a idade pelos «86 anos e nove meses». Sem esquecer que se lançou numa «missão de amizade entre povos», a partir da «consciência da situação dos emigrantes portugueses» da França de 1966.


Português autodidacta-
«Seis mil pessoas viviam com três torneiras de água, sem luz nem recolha de lixo. Não podia ficar parado», recorda. O cenário precário precipitou a primeira viagem do padre a Portugal ainda nesse ano da década de 60. Chegou com 45 anos decidido a aprender a língua desses emigrantes e, dessa forma, ajudar a melhorar as condições de vida da comunidade lusa em Champigny, nos arredores de Paris.

«Rodeei-me de livros das oito da manhã até à meia-noite, durante três meses», conta. No regresso à capital francesa, Henri estreou-se na comunicação em português e no ofício de carpinteiro, indispensável à criação de infra-estruturas básicas ao dia-a-dia dos emigrantes.

Mais tarde, não sabe bem quando por desvalorizar «essas coisas», as autoridades francesas baptizaram com o seu nome uma das avenidas da região parisiense. Depois, foi condecorado pelo Presidente gaulês, Jacques Chirac, mas acabaria por devolver a medalha «zangado com os negócios» da sua República.

«A resistência iraniana em França», acusa Henri, «é perseguida por causa dos milhões do petróleo» transaccionados em troca da «venda de carros Peugeot» a Teerão. A ‘trama’, que o padre recorda exaltado com os «hipócritas» da política, remete as suas memórias para o Iraque, onde em 2004 fez o primeiro contacto com a resistência iraniana. «Vivi com eles durante dias e sei que não fariam mal a uma mosca. Mas a própria Organização das Nações Unidas (ONU) insiste em chamar-lhes terroristas».Para desfazer «tal mentira», Henri planeia um encontro na ONU, ainda sem data marcada.


Imagem que vale 17 mil dólares-
Foi, de resto, num impulso que, há pouco tempo, chegou à porta do edifício da UNESCO, em Paris, e conseguiu arrancar uma conversa com o vice-presidente. «Como não levava gravata não me queriam deixar entrar. Mas quando mostrei a fotografia que carregava comigo deram-me logo passagem». No retrato, o dirigente daquela organização faz pose ao lado de um prefeito do Brasil, que Henri conheceu numa das suas viagens.

O contacto brasileiro valeu-lhe o acesso ao gabinete do vice-presidente da UNESCO e a oportunidade de expor as suas angústias em relação aos milhares de crianças de rua do Congo. «Sei que após a minha passagem estudaram a situação e concordaram em ajudar com 17 mil dólares». Foi mais ou menos essa quantia de 13.300 euros que o francês desembolsou nas plantações de bananeiras, palmeiras e cacaueiros nos Camarões.

É um pouco mais do que isso que o padre conta distribuir pelos pobres, depois de concluída a campanha portuguesa. Destinatários não lhe faltam: em quatro décadas de missões, Henri cruzou continentes, entre viagens à Irlanda do Norte, República Checa, Benim ou Bulgária. Ganhou barbas no Haiti – à falta de lâminas e de água – , perdeu quilos nas favelas brasileiras e, aos 75 anos, fez a ligação Paris-Roma a pé, em 97 dias.

Quis levar ao Papa João Paulo II o seu protesto contra o afastamento de um colega «demasiado incómodo» para as mentes ‘vaticanizadas’.«O único pecado do bispo Jacques Gaillot foi defender os pobres», revolta-se Henri. «Por isso fui a Roma dizer: ‘Isso não se faz’». Repetiu-o perante as câmaras de televisão e os microfones das rádios, mas não conseguiu fazê-lo diante do Papa, na altura em viagem pelos Estados Unidos. A mensagem seguiu até ao Vaticano por escrito, e é também por papel que lhe chegam, regularmente, notícias das comunidades Emaús que ajudou a fundar «para combater as causas da miséria». Só no Brasil, somam uma dúzia. Em França, Henri chegou a viver seis meses numa dessas ‘irmandades’, convidado pelo precursor do movimento, Abbé (abade) Pierre. Acabaria por sair desencantado «com o amor ao dinheiro de alguns companheiros», fundando, ao lado de um alcoólico, uma comunidade à sua maneira. «Precisaria de pelo menos um dia para descrevê-las». Para expor a sua colecção de experiências, Henri Le Boursicaud calcula precisar de mais de 200 páginas, reunidas na obra "Testemunhar é falar de mim e d’ Ele". «Pronta a sair quando aparecer alguém disposto a publicá-la».
Sobre ele, o padre e amigo Bernardino diz: «Como as árvores, acha-se na obrigação de morrer de pé».


Divino Vagabundo-
A PIDE colocou-lhe o rótulo de padre operário. Houve quem o tivesse chamado falso padre. E a sua vocação missionária rendeu-lhe mesmo a alcunha de vagabundo do bom Deus. Para o pároco Bernardino Queirós, Henri Le Boursicaud é «um aventureiro da esperança», retrato com o qual Francisco Assis, companheiro de rondas paroquiais, concorda.Filho de um humilde camponês, numa família com cinco irmãos, Boursicaud entrou aos 11 anos para o seminário e, aos 26, foi ordenado sacerdote na Congregação dos Missionários Redentoristas, em França. Aos 86 anos define-se como um cidadão do mundo, com raízes bretãs».


paula.cardoso@sol.pt

2017-05-01

Ismael Malhadas Vigário - Braga

Desejo de crer

 

Gosto de sentiur-me crente.

Se não fosse crente

Sentia-me ateu e infeliz, talvez.

 

As ideias são quase sempre pesadas

Voltam-se para dentro e impedem de olhar

Lá fora a primavera a renascer com tanta cor, viço

e uma grande vontade de ser.

 

Acreditar em Deus é sentir a brisa da manhã

Amaciar os dias com luz

Abrir a minha janela do quarto e

Sentir vontade de querrer viver

Como uma flor aberta à luz.

 

Debater ideias, discodar de opiniões

Para quê!? Com tanta beleza à minha frente:

 

Rios imparáveis até ao Grande Mar,

 colinas e vales a desafiar as viagens das nuvens,

florestas a renascer a cada instante!...

 

E depois há Fátima, nome de um lugar,

Mas primeiro foi nome da filha do profeta.

Para mim é o nome da minha mulher.

 

A Fátima das peregrinações, das crenças

Dos pastorinhos, gente pobre

Ora enaltecida por gente humilde, ora politizada

Cai em mim como uma dúvida, um susto

Fico sem palavras. Não me apetece discutir.

Da discussão, raramente nasce a luz.

E a luz nasce independente da tua e da minha vontade.

 

Quem me dera crer, em Ti, meu Deus

E pudesse tocar-Te como a emoção de um desejo

Não de uma chaga que me repugna,

Mas de um beijo que se quer

A felicidade de uma comunhão.

 

Braga, 1 de maio de 2017

Ismael Malhadas Vigário

 

2017-04-30

ANTÓNIO GAUDÊNCIO - LISBOA

A verdade é que aconteceu : um escrito, no meu entender, extraordinário acabou esquecido, ofuscado pelo "ruído" de outras prosas que anunciavam o Encontro ou Passeio Anual. Creio ter sido mera coincidência mas é uma pena que o artigo do nosso companheiro António M Rodrigues tenha passado para o fundo da página  sem ter merecido, possivelmente, uma leitura, mesmo em diagonal, de todos, ou quase todos, nós.

Tenho que dar os parabéns ao AMRodrigues pela jeito como ele aborda o fenómeno de Fátima: imparcial, desapaixonado, focando vários aspectos com um equilíbrio sem facciosismo e nunca caíndo na tentação de deitar abaixo sem fundamento.

Eu subscrevo toda esta análise do António M Rodrigues e, se calhasse, ainda acrescentaria mais algumas achegas como, por exemplo, essa coisa escandalosa, quase pornográfica, de santificar esses pobres "lapuzes" dos pastorinhos.

Quando nós calcorreávamos os caminhos da Quinta ensinavam-nos que « SANTO » era um homem ou mulher que, pelo seu modo de vida, pelos seus actos, pela sua bondade, caridade nos era apontado(a) como exemplo de vida. Baixinho digam-me ao ouvido que exemplo eu deva colher do modo de vida desses pastorinhos para ser um exemplo de santidade. E o mais rídiculo é o milagre que a Igreja inventou e aceitou para nele se estribar para os elevar a santos. Haja vergonha e pudor e respeitem a nossa inteligência. E tenham em conta o próximo episódio : daqui  a pouco o " bagulho" da Lúcia também vai ser alcandorada aos altares. Com santos destes apetece-me pouco ir para o céu.....

Atenção: se a minha prosa vos parecer um pouco violenta creiam que é de propósito pois a minha intenção é obrigar-vos a ir ler o que o nosso prezado amigo AMRodrigues escreveu pois esse escrito sim merece ser lido.

Uma saudação amiga para os que, nos próximos dias, irão a Fátima e outra igual para os que não vão.

2017-04-29

AVENTINO - PORTO

A MORTE FICA-VOS TÃO BEM.

Se  existo, é porque há dois lugares de onde nasci: os braços de minha mãe e um lugar estranho, da margem esquerda do Douro, em Barrosa, onde me deram amor e desgraça, entendimento e dúvida, humanidade e o seu contrário. Àparte esses dias e esses cemitérios, não me lembro de mais nada. Se tu me dizes para voltar aos braços de minha mãe, estás a falar-me da felicidade. Elevas-me, transportas-me, dás-me asas para esse lugar eterno onde quero morrer.

Se tu me dizes, Aventino, Barrosa, junho às 11,30 horas para o nosso encontro de um fim de semana, tu dás-me as lágrimas que me acodem, o enlevo da espera, o encanto do lugar e da memória que dele construi. Tu dás-me o que já há tantas e tantas eternidades não tenho sentido: dias felizes. Mas se, porventura, no teu erro de sentir me falas de um outro lugar, não me falas de Cristo Rei, nem de Redentoristas, nem da minha alma carente te abraçar. Não serei o mesmo, nem tu serás o mesmo. Tu és o outro num outro lugar que nunca partilhámos: apenas o pudor, a hipocrisia ou a reserva mental me faz calar este grito para que não me leves para esses lugares.

Às vezes equaciono-me se verdadeiramente o que navegamos não é a repulsa, a negação, a ingratidão a um lugar que tudo nos deu e tudo nos voltou a dar. E nesse triste e solitário navegar inventamos outras viagens, outros e outros AVEIROS, apenas para alimentarmos a saudade dessa saudade de voltarmos a Cristo Rei. É como quem de joelhos se mortifica por um santuário adiante até à capelinha das aparições. O que queremos é a capelinha; não precisamos de começar tão longe.

Não sou, pois, de ir para onde vos enganais. Não, não vou. A minha tribo tem um lugar, um credo, um luar. Fora desse paraíso que inventei, não tenho tribo, nem as mesmas lágrimas com que encanto os dias do encontro em Cristo Rei. Nem eu sou o mesmo, nem tu és o mesmo: somos o outro, um qualquer grupinho de maganos que se foi emborrachar nas águas de Aveiro.

AVENTINO, algures em terras onde nunca houve comunas.

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