2016-11-17
ANTÓNIO MARTINS RIBEIRO - Terras de Valdevez
LADAINHA DO PONTO
Vou assinar hoje o ponto
E alguma coisa fazer
Pedindo-vos um desconto
Se algo de errado disser.
Para não perder mais tempo
Deixai-me então que vos diga
Vou pôr-me neste momento
Já no ponto de partida.
P’ra mulher ´stou sempre pronto;
Se ela quiser ser feliz
Marcamos ponto de encontro
E pomos pontos nos iis.
Quando na hora do amor
Se fica muito excitado
Sente-se muito melhor
O ponto de rebuçado.
Porque é sórdida a mentira,
De efeitos perniciosos;
Afino o ponto de mira
P’ra acertar nos mentirosos.
No autocarro da vida,
Para mais se há desconforto,
Pode parar-se a corrida
Pondo o mesmo em ponto morto.
Se tudo aquilo que usamos
Não nos causa desaponto
Logo bem exclamamos
Que essas coisas ’stão no ponto.
Estando muito apressados
Se alguém nos quer atrasar
Ficamos logo irritados
A ponto de o insultar.
Não vale a pena teimar
Nem ser casmurro egoísta,
Verdade que se afirmar
Tem muitos pontos de vista.
Neste mundo de burlões
Poucos querem a desonra,
E cumprir obrigações
Torna-se num ponto de honra.
Há gente tão interesseira
Que até nos mete dó
Porque, de qualquer maneira.
Nunca dá ponto sem nó.
Se algum sacana surgir
Para nos encher o saco
Só vai isso conseguir
Se nos der co’o ponto fraco.
Quem está fora de abrigos
E entregue á sua sorte
Procure nos bons amigos
Um ponto de apoio forte.
É ponto fundamental
Para na vida dar sorte
Ter um ponto cardeal
P’ra nos apontar o Norte.
Todos temos de morrer,
Dito que ninguém desmente,
E não há nada a fazer
Pois que isso é um ponto assente.
Tive um amor no meu peito,
E só isto é que vos conto,
Foi amor muito escorreito
Mas só até certo ponto.
P’las minhas divagações
Julgo que não fiquei tonto
Porque todas são expressões
Sujeitas a contraponto.
E sem ter mais que vos diga,
Se não levardes a mal
Termino aqui a cantiga
Pondo-lhe um ponto final.
******
Arcos, Novembro de 2016