2017-10-21
AVENTINO - PORTO
A IMPORTÂNCIA DO CÁGADO
QUASE todos os dias, por força da nossa profissão, somos complidos a dirigirmo-nos às secretarias dos nossos tribunais para consultarmos os processos do nosso patrocínio, entregarmos documentos ou exercermos a nossa profissão nas inúmeras diligências com que o nosso ordenamento jurídico vem exagerando na proteção e concessão dos direitos de defesa, quase como se o interesse do indivíduo (versus quem não contribui para o bem público) se sobrepudesse ao interesse da comunidade.
A regra hoje em dia é uma regra de empenho, colaboração e respeito pelos advogados, (à execção daqueles advogados que não o merecem) e para quem trabalhou ainda num regime com resquícios de fascismo, de incompetência, de função pública contra o público, posso dizer que atualmente os funcionários deste mundo obscuro que é o mundo dos tribunais só me merecem louvor, respeito e honra pelo esforço que, todos os dias, desenvolvem.
Vem isto a propósito do cágado.
Cheguei ao balcão da secretaria do tribunal; de pronto fui atendido por uma bela e sorridente funcionária que também, prontamente, foi ao arquivo recolher o processo que eu pretendia consultar. E lá estava eu mergulhado na análise daquelas páinas infindas dos autos quando, de pronto, essa mesma funcionária, faz um comentário para a sua colega de secretária ao seu lado: "Oh! que vá dar graxa ao cágado". Respondeu ela a algum telefonema que naquele instante tinha recebido. Confirmei que o telefonema advinha de um procurador ou de um juiz que a interpelava para qualquer acto.
Confesso que jamais tinha ouvido esta expressão que, porventura, será corrente ou não, ou até de um conhecimento geral de algumas zonas do nosso Portugalzinho. Mas o que é certo é que parti-me a rir, sem parar, de tal modo que todos os funcionários foram contaminados pelo meu riso como só o riso contamina quem nso rodeia. A bela e disponível funcionária abordou-me perguntou-me se eu não conhecia a expressão e eu disse-lhe que não, jamais a tinha ouvido, mas que considerava uma expressão de um extraordinária aplicação aos chatos, aos estúpidos, aos inúteis e àqueles que vivem empurrando as soluções e as obrigações para os outros: "dar graxa ao cágado".
Daí em diante tenho vivido na esperança que três ou quatro milhões de portugueses inúteis que atravessam este nosso universozinho, comecem essa nobre tarefa de darem graxa ao cágado. Um cágado engraxado tem outra beleza, outro brilho e pode certamente levar-nos ao guiness como o país como mais cágados engraxados.
O único que nos falta mesmo são os cágados;
gente inútil e sugando o suor dos portugueses honrados, já temos em demasia.