2017-04-24
António Manuel Rodrigues - Coimbra
Coimbra, 25 de Março de 2017
Fátima
Cem anos e vem cá o Papa!
Como tem sido possível por tanto tempo tão grande fé, tanto sofrimento, tanta festa e tanto fausto?
A fé não a discuto. As outras questões, passado tanto tempo e nos dias de hoje, não as compreendo nem as aceito apesar de estarem aí aos olhos de todos.
A Virgem Maria, a Nossa Senhora, mensageira em Fátima e noutros lugares!?...
Mensageira de quê? Completou ou esclareceu em algo de substancial o Velho ou o Novo Testamento?
Mudemos de ponto de observação.
Fátima cumpriu, cumpre ainda, nos dias de hoje, desígnios nacionais e evidencia uma cumplicidade questionável entre algum clero e o poder político.
Não sendo um dogma, não é verdade de crença obrigatória. É, antes, motivo de profundo escândalo para os não crentes, para alguns católicos e estão-lhe associados consideráveis proventos económicos.
Por este motivo, à luz da fé e da moral em que fomos educados, ela pode ser vista como um pecado de soberba, arrogância e avareza.
Em termos de relacionamento social, tenho como criticável o explorar a credulidade e a generosidade de tanta gente simples e ingénua.
Já que o Papa vem cá, gostaria que iniciasse a depuração e a desmistificação deste fenómeno.
Este processo nem seria novo nem de difícil superação: os altares já foram aliviados de uma Santa Filomena e alguns papas já pediram perdão por erros do passado, cometidos pela Igreja Católica em nome de Deus. Se bem percebi, há uns tempos atrás foi discutida em termos teológicos ou catequéticos, não sei como diga, a existência do Limbo e do Purgatório. Não haverá outras questões importantes e urgentes a discutir?
Amigos, nada fica dito numa posição de Anticristo nem é nenhuma originalidade. Em tempos idos muito me aliviou ouvir de um dos nossos prefeitos que Fátima não era assunto de fé nem de crença obrigatória. Há dias ouvi a um comentador dos nossos canais de televisão que o próprio cardeal Ratzinguer não deu como garantida, antes pelo contrário, a sobrenaturalidade de Fátima.
Aceite-se a divergência ou mesmo a não crença. Inicie-se a depuração e a penitência. Há uma vereda longa e difícil a percorrer para que a Igreja Católica regresse ou, ao menos, se aproxime da mensagem original de fraternidade universal. Mensagem tão simples e tão revolucionária ainda nos dias de hoje.
Como peregrino nunca fui a Fátima mas, sequencialmente, conforme me foram visitando em Coimbra, fui lá com minha mãe, com os meus sogros e a avó e madrinha da Silvina. Para esta minha gente, esta peregrinação privada, além de agradável, ter-lhes-á sido proveitosa e isto bastou.
Por mim não irei a Fátima nem a lado nenhum ver o Papa. Se fosse a Roma e à Praça de São Pedro ou do Vaticano, daria mais atenção à fé daquela multidão, à monumentalidade construída e, se fosse possível, gostaria de informar-me acerca da origem e da sumptuosidade de todo aquele material.
Muito pessoalmente: em direcção ao Calvário quanto sofrimento acrescido terá sofrido Cristo por causa do actual e moderníssimo turismo apelidado de religioso?
A terminar: a minha questão ou problema religioso não é com Deus, é com os homens, muitos deles ditos de Deus.
Valete, fratres.
N.B.: A peregrinação à chamada Terra Santa, porque Cristo lá viveu, respeito-a muito.