2009-11-28
Aventino - Porto
No mais Trás-os-Montes do nosso Portugal, um homem foi encontrado sem identidade. 80 anos prefeitos. Nem escola nem pão; nem médico nem reforma; nem direitos nem pessoa. O homem era como se o não fosse. "Não consta" disse-lhe o conservador do registo civil; "não consta" disse-lhe o juiz; "não consta", o padre, o regedor, a segurança social. "Não consta". Há países onde se mata, queima-se, condena-se à morte, executa-se sem sequer se saber que se executa um igual a ti, a mim, a Cícero ou Leonardo da Vinci, a Galileu Galilei ou a Jesus. Na nossa aldeia a que chamam país, há um igual a nós a quem o Estado tem negado uma identidade. A notícia tem sido notícia em muitos cantos do território e essa dor que me vem de saber que aqui mesmo, ao meu lado, há alguém injustiçado, impele-me a constituir um movimento de VOZ, de DENÚNCIA e de ALERTA contra um Estado que se esquece que, antes de tudo o homem, antes de tudo a humanidade; para que este nosso irmão, ao menos, no outono da vida, possa dizer que tem um nome e um pai, um território e um canto onde por sobre uma lápide branca, alguém, envergonhadamente, numa qualquer tarde gelada de Inverno,lhe verta uma lágrima de culpa.