2010-01-09
Ismael Vigário - Braga
Ao JMarques, que se explica de forma poética, e, portanto, o raciocínio lógico-dedutivo tem de ser completado pelo leitor, digo-te que a minha mulher é a primeira a aturar-me e os filhos e, só depois, vêm os outros, conhecidos, próximos, amigos...A palavra citada, em geral, comprova ou autoriza uma ideia, mas cuidado, sei, quantas vezes, quanto isso é difícil. Mas acontece-me, à medida que vou envelhecendo, as ideias aparecem coladas a leituras, a textos que li, contestei, outras vezes não percebi ou percebi ao retardador, porque isto da mente, trabalha mesmo a dormir e, às vezes, por muito ler ou tresler, acontece-nos como Cervantes, no hidalgo de fraca figura, dizemos asneiras, mas isso dá-nos muito gozo e essa é a razão pela qual leva alguém a escrever. Escrevemos para nós em primeiro lugar e, depois escrevemos para os outros. Se o nosso dizer os provoca estamos a agir bem e estamos a cumprir uma dimensão comunicativa: que a nossa palavra não se enquiste em nós, mas atinja o outro, mexa com ele,o desinstabilize. Às vezes, as citações são um "corrente calamo" e, como estamos entre amigos, descuidamo-nos. Mas o ambiente é de tal maneira descontraído qua há nossos colegas que superam o Saramago na liberdade da pontuação e dão desculpas esfarrapadas e socorrem-se de registos de língua menos correntes. Sei que a vulgarização do discurso, hoje tem foruns de dignificação e concordo. Garrett fez literatura com a linguagem coloquial, viu nela uma maior capacidade afectiva, aproxima o leitor:"ó leitor amigo, carro leitor, ora pense você comigo". O JMarques, mas de Nietscher prefiro Alzo sprachat das Zarathustra ( Assim falavra Zaratustra). Este é o seu livro mais poético. Não se considerava filósofo, mas filólogo, porque amante das palavras, que pensava por dento das palavras, que ruminava por dentro das palavras. Para Além do Bem e do mal é apenas uma consequência da sua profecia que ele apregova em Zaratustra. "Quem quer o abismo tem de ter asas", "o amor do outro supõe o amor do próprio". Obrigado JMarques por me recordares. Dizem que este autor era misógeno, e, em muitos aspectos tinha razão. Não te saturo mais. Um abraço fraterno. Ismael Vigário