Só faltou ao nosso amigo Martins Ribeiro dizer que não apanhou o sarampo, incólume que viveu sempre às intempéries persuasivas dos efeitos do internato.
Esse "complexo de rapazinho bacoco", parecendo tão funesto ,mexeu com muito boa gente e só quem já viveu tanto entre abraços e braços de singelas musas das ilhas dos amores como o nosso amigo de Terras de Valdevez é que pode ter-se esquecido do que mascou entre muros e à sombra da abstinência imposta e redutora.
Tal fúria de ímpetos concupiscentes só se percebem pelos grilhões desses primórdios onde nem só a palmeira vivia firme e hirta sem qualquer consolo mundano.
O mundo terá sempre várias bandeiras e nem as armas e os barões assinalados podem condicionar o pensamento nas suas formas diferentes de ver e não será difícil de perceber que as grandes inteligências são inconformistas e estão em minoria e muitas vezes não são entendidas à primeira.
Não é por acaso que um quarto de pedras às vezes contraria as virtudes de um saudável Alvarinho, produzido das melhores castas de Monção e arredores seguindo os melhores métodos , mas o corpo é que pede...
Tinha resolvido não intervir mais nesta rubrica e ficar só a “gozar de palanque” mas, por outro lado, tenho um bicho carpinteiro no corpo que me impele a ir para o meio do barulho e a nunca deixar ninguém a falar sozinho: por isso, aqui estou mais uma vez. Verifico que, mais atrás, alguém falou em muros, quiçá em sombras. Não vos atireis a mim pela franqueza com o que vou dizer, mas é o que sinto. Entendo que quem fala assim em muros e sombras só pode ter um espírito pusilânime e possuir um complexo de rapazinho bacoco, mimado e sem fundamento. Entrei na Barrosa logo no seu dealbar e percebo que as posteriores gerações, tendo vivido noutros tempos e sendo agora a grande maioria dos membros da nossa Associação, estejam um tanto desfasadas e não compreendam bem a vivência dos colegas desses primórdios, dos quais eu deverei ser um dos últimos abencerragens ou mesmo o último dos Moicanos. O certo é que, na altura em que lá andei, nunca me apercebi de qualquer muro, salvo do verdadeiro de pedra e reboque com um grande portão pintado de verde, em frente duma frondosa Palmeira. Por conseguinte, nunca tive de saltar, nem mesmo me apeteceu, qualquer muro ou grade. Sou um tipo que me adapto facilmente a qualquer meio, situação ou época em que e onde tenha de passar a minha vida e, assim sendo, até me sentia bem em ter de cumprir regras, seguir uma grande disciplina (suponho que muito mais rígida que aquela a que estiveram sujeitos os que foram vindo a seguir) sem tentações ou veleidades de, pela sombra, procurar saltos furtivos de qualquer espécie. Fui sempre um homem livre, mesmo começando de pequenino. Embora não pareça ou se possa julgar tal, sempre fui possuidor dum espírito indomável, não sendo fácil de dobrar e nunca me deixando enganar; mas sem nunca ter sido revolucionário ou contestador do que quer que fosse. Depois de ter saído da Barrosa, não a salto mas pela porta, e já na vasta arena da vida e em terreno sem quaisquer muros ou ergástulos, fui continuando com a minha conduta de serenidade e calma, sem recriminações ou complexos. Nunca me coibi nem senti pejo de dizer onde tinha andado, nem nunca experimentei qualquer limitação que me tivesse impedido ou condicionado no que quer que fosse. Pelo contrário, tinha até certo prazer e orgulho em frisar essa realidade. Nesse minha fase, de resto como qualquer ser normal, vi-me sempre rodeado de muitas e lindas mulheres, como alguém disse, virgens muitas, pecadoras algumas, tendo todas conhecimento, porque eu próprio as informava disso, de que tinha sido seminarista. Amei, algumas vezes intensamente e fui amado, também algumas vezes com loucura. A condição de ter sido seminarista, trouxe-me até, em alguns casos, certas vantagens: perguntavam-me; - “em que seminário andaste, em Braga, no Porto?” Respondia, com descontracção: - “não, em Gaia, nos Padres Redentoristas.” Concluíam: - “ah! Então, de certeza, tens bons atributos de carácter, formação e cultura!” Nunca ninguém me impôs nada na vida (perderiam, aliás, o seu tempo e feitio) e assimilei sempre e só aquilo em que acreditava. Poderia e aconteceu mesmo ter quebrado algumas vezes, mas sem nunca ter vergado. Fui livre de escolher sempre os meus amigos e, por isso, nunca poderia ter convivido, muito menos privado, com personagens como Zecas, Adrianos, Fanhais e quejandos, porque foram seres desacomodados, potenciais geradores de conflitos, conspiradores e, no seu âmago, insatisfeitos. Temi sempre os que se dizem arautos da Paz porque, na verdade, são geradores de conflitos e os maiores fautores da Guerra. Atente-se ao estado em que tais bonifrates puseram o meu inditoso País. Que me perdoe o Assis, companheiro a quem muito estimo, por não concordar com ele quando diz que nos contaram histórias mal contadas. É possível, mas nós devemos saber fazer a destrinça e deitar ao lixo o que está mal contado. Claro que me deparei com alguns muros na existência: pobreza inicial, tempos difíceis da Grande Guerra, mais tarde na minha profissão; convivência amarfanhada com uma hierarquia presunçosa e com uma inspecção pidesca e arrogante no seu modo de agir. Contudo, nem esses muros saltei; procurei e consegui torneá-los, aproveitando mesmo algumas vezes a superior formação que outrora recebera. Perdoai, companheiros, este meu longo testemunho, direi desabafo. Falei de mim, que querem, também já aqui outros falaram deles próprios. Sempre amei e amo a Vida, a Amizade e, porque não, os momentos mais prosaicos, como sejam, leitões, lampreias, clarinhas de Fão, mexilhão e petiscos do Vieira, chanfana, ensopado de borrego e de enguias, a magnífica e impagável “foda” da minha terra, Monção. Não tanto os alvarinhos, loureiros, adamados e outros néctares que, para mim, até podem ser substituídos, ás vezes com certa vantagem, por um quarto das “pedras”. Passai todos muito bem, pois tenciono “chatear-vos” o menos possível.
Sei do que falo quando falo em leitão, lampreia e alvarinho, produtos portugueses de elevado padrão gustativo. Ponte de Lima é catedral de gastronomia mas provavelmente já não tem restaurante Mãe Preta pois na Ribeira do Porto existe o restaurante Filha da Mãe Preta onde se satisfazem os sentidos do palato.
Penso que todos nós que frequentamos os muros de Gaia saímos em dia de nevoeiro que se fazia sentir cá fora muito espesso e na nossa bagagem numerada embrulhavam-se muitos receios e timidezes resultantes da interiorização de preconceitos. No entanto, quem nos educou foram fruto também de educações similares ou ainda mais rigorosas e apenas nos transmitiam o que sabiam e como sabiam.
Coube a cada um usar na vida os seus recursos congénitos para se adaptar ao novo mundo, ao mundo real e ainda hoje nos apreciamos nas diferenças que se notam nos nossos comportamentos, em uns libertos e bem limados, em outros com a marca da chapa fundida na personalidade, saída da forja de Cristo Rei. Tantos anos depois os sinais ainda resistem em muitos dos nossos colegas, seja de Cristo Rei, dos Franciscanos ou dos seculares ou dos capuchinhos.
Na rua cada vez mais identifico os traços marcantes de quem cresceu na sombra do mundo, estando certo que sob aquela capa caminha alguém com uma formação grande.
Fobias de que nos identificassem também, ou alguma frustração perante o outro sexo, o tal que se apelidava de fraco, de fraqueza? Todos nós sentimos essa fase inicial, que em alguns ainda não findou.
Mudando de ementa: em Esposende o Vieira tem a gastronomia ao rubro com a lampreia e as Clarinhas de Fão, um doce de chila que se compra numa lojinha junto à Estrada Nacional onde há bastantes anos estava sentado um ceguinho. Porque não juntar um bom grupo e cantar o malhão em frente a um bom tacho de arroz malandrinho daquele magnífico ciclóstomo?
Diz na internet que a acompanhar sabe bem um bom verde de quinta. Há coisas em que eu alinho...
Caro Gaudêncio:
Obrigado pela tua chamada de atenção. Respondo.
Mesmo sabendo que os historiadores não coincidem nos números exactos de mortos nos vários campos de concentração na floresta de Katyn (Polónia), depois de ter lido bastante sobre este tema parece-me que uma coisa é certa: nas valas descobertas (pode ter havido mais que não foram descobertas ou "eliminadas" a fogo…) deu-se mais relevo aos 26.000 destes prisioneiros por serem ilustres: 14.700 oficiais e os restantes que eram “contra-revolucionários” e “inimigos do poder soviético”: estudantes, juízes, proprietários de terras, funcionários públicos, engenheiros, professores, advogados, intelectuais, padres e religiosos.
Outra coisa parece ser certa: milhares de civis que se revoltaram ou que simplesmente poderiam ter visto e ouvido o que se passava por ali, foram também “preventivamente” eliminados. Esses incógnitos pereceram, na sua maioria, em campos de concentração nas florestas de Katyn: fuzilados, mortos à fome e ao frio.
Os referidos 26.000 foram quase todos executados com todo o requinte: tiro na nuca! (ver o meu artigo no “Pontos de vista”).
AS MINHAS FONTES
“Apenas em 1989, depois de quase meio século dessa gigantesca farsa, o governo russo se rendeu às irrefutáveis provas que atestavam a culpa do Exército Vermelho. O líder soviético Mikhail Gorbachev reconheceu a responsabilidade do seu país. Em 1992, o então presidente Boris Yeltsin, entregou ao então chefe de Estado polaco, Lech Walesa, documentos que provavam o massacre de dezenas de milhares de militares e civis polacos em Katyn. Entretanto, em 2005, a Promotoria Militar Russa, reacendeu a discussão quando negou que o Massacre de Katyn foi um genocídio.
O facto é que um dos capítulos mais negros da história mundial foi encoberto por uma farsa agora revelada. Estima-se que mais de 140 mil polacos entre civis e militares foram mortos nos campos de concentração de Katyn.” (“Massacre de Katyn, a Verdadeira História” por ED CAVALCANTE):
http://jornaliaed.blogspot.com/2009/10/massacre-de-katin-verdadeira-historia.html
Outras fontes:
1- "Katyn Massacre":
http://en.wikipedia.org/wiki/Katyn_massacre
2- “O Massacre de Katyn” por Sérgio Oliveira (70 págs.) Disponível on-line:
http://www.vho.org/aaargh/fran/livres9/OLIVEIRAkatyn.pdf
3- Filme: "Katyn":
http://video.google.com/videoplay?docid=-2080155985610903776#
No entanto, concedo que, nalgumas fontes mais antigas, posssa haver números mais baixos. Por exemplo, no livro "Estaline, a Corte do Czar Vermelho".
Como sabes, este é um campo em contínua investigação nada fácil, que se baseia em pesquisas constantes in loco seguindo o método de registo por 3 grupos: Um grupo com os números menores; um outro com os números maiores e um grupo final com a média daqueles dois. Esta investigação faz-se por recurso às testemunhas, aos números oficiais até ao momento, à investigação no registos de nascimento, etc.
Bom, este é outro tema.
Um abraço.
1 - Nem sei por onde deva começar, tantos são já os motivos que despertaram em mim o desejo de entrar em conversa com os meus amigos...Vou começar pelas palavras últimas do Arsénio e da saudosa Sofia com ph. "Como é possível?....Não podemos ignorar". Somos todos testemunhas das barbaridades que neste mundo se vão fazendo cada dia.Não me preocupam já tanto as passadas quanto as presentes, embora todas elas me toquem. Mais que recordar as passadas, - que tantas elas são, até do nosso cristianismo e não apenas da parte dos regimes comunistas - a morte injusta dum único ser humano deve deixar-nos incomodados, revoltados mesmo. A nossa preocupação deverá ser a de evitar que uma única injustiça se cometa com um nosso irmão, mais que entrar em comparação de quem cometeu, no passado próximo ou remoto, mais barbaridades. Estas terão a finalidade única de nos lembrar que qualquer injustiça é já em si mesma uma morte injusta. E tantas se cometem ainda nos nossos dias... 2 - Mais que uma vez, aqui deixei as palavras de S. Paulo:"Quando era criança, pensava como criança. Agora que sou adulto, tenho de pensar como adulto". Também escrevi que nem sempre as coisas nos foram ensinadas da forma mais correcta e verdadeira, que nos foram apresentadas de forma dogmática pelos nossos formadores. Mas também sublinhei que nunca deixarei de estar grato a todos os formadores, mesmo nestes casos, pois sei fizeram o melhor que que souberam. Contra a opinião de alguém, continuo a defender estes dois princípios. E creio que a leitura das últimas intervenções me têm vindo a dar razão. Sim, houve muros em Gaia, em Nava del Rey e até em Valladolid e provavelmente em Castelo Branco e Lisboa, cujas sombras é compreensível ainda continuem a molestar alguns dos nossos colegas, sobretudo àqueles que foram expulsos injustamente. Compreendo pois que alguns deles não desejem aparecer. Eu próprio tive as minhas razões mas, felizmente, já as deixei para trás e hoje rio-me de alguma injustiça de que fui vítima. Já não penso como criança e portanto não aceito os dogmas do passado. Por isso digo "presente!" neste nosso local de encontro, local onde todos, sem excepção, temos assento por direito próprio. Venham pois todos com as suas experiências, ou até queixumes, para que todos nos sintamos mais humanos, mais fraternos, e não de costas viradas. Fico-me hoje por aqui. Um abraço para todos
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