2010-03-10
M. José Rodrigues - Macedo de Cavaleiros
Cá volto eu.Não foi por medo que estive ausente. "Quem tem medo compra um cão...". Tenho andado um pouco baralhado: umas vezes dizem-nos que este espaço se destina a alimentar conversas leves (beber um copo de Alvarinho...), remetemdo-nos para o Forum no tratamento de assuntos sérios; outras vezes desafiam-nos a entrarmos em debates sérios aqui mesmo.
Ainda os MUROS. Tivemo-los em Gaia espessos e altos, físicos e simbólicos. Mas nesse tempo houve-os por todo o lado. (Os muros faziam moda pelo mundo,medonhos. Um, o da vergonha, caiu devido á evolução das ideias políticas, ruindo com grande estrondo o império do Leste. Outros, os da educação, ruiram devido à evolução das teorias pedagógicas. Aqui a evolução até terá ido longe de mais, por causa do "psicologismo da educação" que alguns designam por "eduquês". Isto dava pano para mangas...).Hoje não é a importãncia da coeducação que eu quero focar. Afinal, pela década de 60 a generalidade das escolas portuguesas ainda não eram mistas e, se o eram, não o eram as turmas, nem os espaços de aula, nem os recreios. Assim, nada diminuiu os habitantes de Cristo Rei a ausência de raparigas no espaço escolar, nem tão pouco os "enriqueceu" a existência de uma escola industrial feminina ali ao lado, para além de uma fugaz estimulação audiovisual. O que os prejudicou foi o isolamento prolongado, sem trocas (sociais) com o exterior. Barreiras e muros houve-os em todas as escolas, fruto da ideologia vigente.Mais vincados os muros de Cristo Rei e de escolas similares, devido à formatação com uma finalidade bem específica. A educação que tivemos, em muitos aspectos, pode comparar-se a uma fábrica: nas linhas automáticas de fabrico (ou montagem) os produtos finais têm de ser exactamente iguais e, se no percurso sofrerem uma ligeira diferenciação, são excluidos por defeito. Algumas lacunas na nossa educação, que também tinha grandes virtudes: inibição; falta e autonomia; pouca criatividade e poder critico; problemas na estruturação da personalidade e no convívio social mercê do nosso crescimento em contexto fora do habitual, constantemente dentro de muros, com trocas limitadas de experiências. Mesmo nos poucos momentos de que dispunhamos fora de muros(curtas férias "grandes"), ainda ecoava, a todo o momento a martelar-nos a consciência, o aviso: "Cuidado com as primas!" Contra estas limitações tivemos todos de lutar fora de muros, e uns conseguiram mais equilíbrio e arejamento do que outros nesta complicada tarefa. Não me parece que seja por sequelas da vida intramuros que alguns se dispensam de virem conversar neste espaço. Outros motivos haverá. Não será despicienda a desculpa da falta de tempo: veja-se que são reformados boa parte dos que por aqui andam activos. Como quem se confessa: nunca tive dificuldade em assumir que fui educado no Seminário de Cristo Rei e até sinto nisso algum orgulho. Não tive necessidade de usar o eufemismo "Colégio de Cristo Rei", como ouvi outros usarem. Abraços