2010-03-31
M. JOSÉ RODRIGUES - MACEDO DE CAVALEIROS
Pronto. Então vamos a isto, Vieira.Compreendo e aprecio a tua capacidade de estimulação e moderação destas conversas. Como quem espevita a candeia que esmorece, ou como quem faz um interlúdio entre dois actos importantes, chamaste-me a falar do folar transmontano - uma deliciosa banalidade. Já lá vamos. Permite-me que volte antes a outro assunto já pisado e repisado. Quero só dizer ao Arsénio que não vale a pena tomarmos tanto a peito o assunto dos "muros" e dos "medos". Os AAR somos um grupo relativamente restrito, moldados por circunstâncias comuns e burilados por outras circunstâncias específicas. Somos muito iguais e muito diferentes. O silênco neste "fale connosco" é incompreensível, quando é certo que por cá passa um número significativo de pessoas. Mas, o facto de muitos virem aqui ver o que poucos escrevem, também se pode considerar positivo - revela curiosidade e interesse pelos assuntos da Associação. Pior seria o alheamento total. Não devia, mas assemelha-se a um espetáculo este "fale connosco": há os protagonistas, os actores secundários e os espectadores.Eu tenho andado alternando a condição de espectador atento com o papel de actor secundário e, nesta alternância, com intrmitências de ausência, tenho-me sentido bem. O folar está na mesa. Vamo-nos a ele. O que posso dizer do folar transmontano? Que é o elememto simbólico da Páscoa, no âmbito gastronómico,mais importante que os coelhinhos de chocolate e as amêndoas.Melhor do que descrevê-lo ou vê-lo é saboreá-lo. A quem não o conhece, ainda digo: não é um bolo; não tem açucar. Assemelha-se a uma bola (o o é fechado) de carne à base de farinha triga amarelada com muitos ovos,recheada com pedaços de carne, fundamentalmente presunto, linguiça e salpicão. Não sei dar a fórmula completa porque sou especialista na óptica do utilizador. Há-os bem feitos por aqui nas padarias,mas, as mãos habilidosas das donas de casa nas aldeias, as carnes genuinas do fumeiro caseiro e os ovos de galinha do campo, fazem toda a diferença. Vai bem ao pequeno almoço e à merenda. É um excelente lastro para encaminhar uns copos de vinho maduro tinto na abertura de uma pipa. Não posso assegurar se o verde também irá bem com ele, mas desconfio que sim. Felizmente ainda me vou deliciando com os que faz a minha sogra. Noutro tempo mimava-me com ele a minha mãe. Ali pela Páscoa de 1962/63 - ainda não havia férias de Páscoa para os habitantes de Cristo Rei - os meus pais enviaram para Gaia um folar colossal. Assustei-me ao vê-lo tão inchado sobra a mesa , ao pequeno almoço, quando o Pe. Prefeito mo referenciou.Foi esmiuçado e partilhado por todos. Com a simplicidade com que chegou, desapareceu. E ainda bem. Por hoje chega de folar para não o aborrecermos. Boa Pácoa