fale connosco


2010-06-26

Arsénio Pires - Porto

Homens passados e presentes, todos nós que manejamos as palavras como se fossem varas de jogar ao pau:
As palavras estão gastas e o tempo que nos resta é já pouco e nevoeirento.

Nada justifica a perca dum copo de vinho depois dum abraço suado e saudoso.

Quem somos nós para rasgar o passado?
Quem somos nós para safar da memória tudo o que nos une?
Que ideologia ou religião nos pode separar?
Quem nos pode afastar ainda que seja dos “abraços de atacado”?

O nosso futuro foi ontem.
Resta-nos a colheita da azeitona em dias de névoa e frio intenso.
Já não veremos o azeite sobre o pão!

Que “argumentos estatísticos” nos podem separar da amizade?
Que mãe ou madrasta desmerece o nosso amor por nos ter tirado das estevas, urzes e penedos?

E perdemo-nos lançando palavras ao vento como se aí estivesse a resposta.
Somos do norte, sul, este e oeste.
Mas antes fomos do centro. Do sítio onde as coisas todas nascem.

Raios partam as palavras sem sorrisos e abraços.

Desculpem mas eu não abdico de amigo nenhum!
Muito menos de todos vocês que são muito mais que amigos!
Ainda que o não queiram!

2010-06-26

António Gaudêncio - Lisboa

Juro, por esta rosa 

que toco

ou me suspende, 

que nada sei do mundo!

 

          ****

 

Não digas palavras 

vastas.....

porque é triste!

Lenta é a orfandade dum eco:

e ampla.!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Estes versos de introdução são do poeta Jorge Amorim que era o pseudónimo de um Padre Redentorista que, no meu tempo, vivia, rezava e poetava na nossa casa da Rua Firmeza. Creio que só publicou dois livros : "ANJOS TRISTES" e " A BELEZA E AS LÁGRIMAS" Depois emigrou, julgo eu, para a América Latina e nunca mais soube nada dele. Alguém pode dar-me alguma achega sobre o seu paradeiro?

Mas isto só bem a propósito do que tenho lido nos últimos dias sobre "ismos" e Saramago.

Os amigos mais chegados sabem o que penso sobre os dois temas e os outros,certamente, não devem ter grande interesse naquilo que eu penso. 

Confesso, no entanto,que apareceram textos de grande qualidade nos últimos dias e se não refiro nenhum, aqui e agora,em especial é para não ferir susceptibilidades, uma vez que os houve de tendências bem contrárias e eu respeito,ou tento respeitar, todas as correntes mesmo as que me causam engulhos e azia.

Gostaria que, ao espreitar o nosso site, me "saltasse" sempre um bom escrito para irmos alimentando a nossa convivência pois é um bom modo de irmos fazendo a nossa catarse colectiva.         

 

2010-06-26

Alexandre Gonçalves Pinto - Palmela

Como não alimentei a guerra civil entretanto desencadeada, sinto-me tardio e amoral para disparar um tiro. Para o atraso e a fraca assiduidade tenho razões. Para endereçar uma bala não me assiste nenhuma. Apesar de tudo, não posso inibir-me de um comentário, por mais breve que seja. A primeira impressão é uma fina melancolia. Entre guerreiros, matemáticos de bancada, sociólogos diagonais e julgamentos sumários, em vagos fundos auditivos, venha o diabo, venha Lenine, venha Jesus Cristo ou o grande José de Sousa Saramago e escolha. Uma deprimente penúria, que nem grave seria se não houvesse baixas. Ó homem do leste, ó coerente figura,que pagas a difícil coragem com arcaicos impropérios! Deixá-los falá-los que eles calarão-se-ão! Um homem de convicções não se intimida com ruídos internéticos. Nem se comove com abraços de atacado. O caminho é a vinha, a dialéctica da cepa, esse pensamento de quem trocou o labirinto virtual pela claridade de um cacho de uvas. Tudo o mais é contingência e obesidade. Amigo Aventino, já me comoveste com esse amor mortalmente ferido numa qualquer linha de combóio. Foi esse excesso de verdade que me levou a ler-te de rajada o teu INOCÊNCIA,sobre o qual ainda me não pude pronunciar. A instituição que de algum modo nos abriu o caminho do futuro que viemos a ter não merece apenas gratidão. Houve um preço discreto mas intenso. Não houve inocência nehuma naquela bondade. Não é uma acusação. Não é um lugar comum. Não podemos é ficar reféns toda a vida duma pedagogia institucional, comparticipada aliás pelo tenebroso Estado da época. Dizer hoje que os caminhos nos levam onde quisermos é um claro deslize retórico. Ninguém poderá preencher posteriormente o que então nos faltou em abundância. E o Aventino aqui teve a intuição justa. É difícil viver sem sexo. Mas é impossível viver sem uma qualquer forma de amor. E naqueles anos faltaram um e outro. E não venham com amores espirituais ou sonetos mórbidos à Virgem ou à Sta. Teresinha. Quanto tempo se adiou o primeiro beijo? E o primeiro olhar? E onde se arrumaram as consequências de tanta ausência? A vida é uma corrente contínua. Como pagámos tanta interrupção? Tantos domingos a olhar em vão para o poente? Tanta neblina em Soares dos Reis? Tanta Chuva em Coimbrões!? Porém, Aventino, não te posso acompanhar sobre o "comuna" José Saramago. A própria alcunha, no contexto em que é dita, retira seriedade a este diálogo que, embora sendo apenas fala, presume um contexto aberto, com uma linguagem que respeite a biodiversidade dos falantes. As opiniões manifestadas, claramente opostas às minhas, são tão legítimas como quaisquer outras. O que me parece sobrar é o estilo panfletário, pouco sereno para um gosto literário que ambos defendemos. Não me apoio em nenhuma ideologia. Repudio ismos de toda a ordem. Mas José Saramago foi alguém que se alevantou por cima do arvoredo deste país medíocre e falido, tão economica como espiritualmente. Como ele disse, limitou-se a mexer nas pedras e a mostrar os monstros que elas escondiam. Acabo como comecei. A nossa fala é vagamente triste, com ressentimentos à vista desarmada. Não falamos de amor, falamos de tédio. É uma fala de cervejaria, não de mesa familiar. Argumentamos estatisticamente, como os trafulhas da política e da gestão. A Igreja, que parece ser a nossa corporação, não nos merece nenhum reparo. Ela parece querer salvar-se sozinha, metendo-se numa nova Arca de Noé, mas deixando o resto do mundo a afogar-se. A renovação do Vaticano Segundo foi trocada pela angélica inteligência dos anciãos de serviço, enquanto os povos se desorientam em pobreza e raiva. Não temos uma palavrina para isto?
2010-06-25

manuel vieira - esposende

Meus caros,

comunicar é estratégico em qualquer organização e são claros os objectivos no nosso grupo.  Fazê-lo em cenários mais ou menos complexos é sempre um desafio curioso para os nossos actores, se assim lhes posso chamar.

Vou-me reservando a um papel menos participativo mas atento, mas não menos activo e por vezes algumas situações surpreendem-me.

Mas, Ismael,  vamos desembainhar a espada sem receios nem preconceitos, os tais que ainda marcam com ferrete algumas vidas.

O palco está livre, a bancada continua montada e sabemos as linhas com que nos cosemos.

As “conversas” podem ser mais ou menos acesas mas  no "fale connosco" entramos para conviver... e a conversa vai interessante.

2010-06-25

Ismael Vigário - Braga

Aventino,

A palavra censura, tantas vezes repetida, só tu sabes verdadeiramente o que quiseste dizer com ela, porque a mim não me serve o termo. Discordar é a expressão do homem livre e que oferece aos outros o direito à palavra. Tens direito a dizer o que disseste e o seu contrário. E, da mesma forma, também posso discordar de ti e de outros, o que já fiz.

A associação tem uma determinada identificação e diz-me respeito e não sou pessoa de amuar ou desistir de uma boa conversa, sempre que se justifique. Não acho que na associação haja direito a intocáveis e atirem o ferrete para o outro, e se posicionem  semânticamente em metáforas que disparem em todos as direcções sem percebermos o alvo.

Ter andado no seminário não foi nenhuma fatalidade. No meio de algumas desgraças houve também muita graça, muita, mesmo muita.

Entrar por um caminho não significa que não se possa encontrar outra saída, mas aceitemos até que isso exista nos livros. Kafka ia muito por aí. Mas Kafka é kafka e não é todo o homem. Ortega Y Gasset dizia que o homem é ele e as sua circunstâncias. E valorizava a importância da liberdade no homem e não tanto as circunstâncias. Refugiar-se nas circuntâncias é um comodismo fixe! É recusar que dependemos essencialmente de nós, do nosso querer.

A vitimização, no caso dos ex-seminaristas, parece-me que é paga de mau pagador. Abriram os olhos e viram que estavam nus e esconderam-se.

Querem esquecer, exorcizar aquela educação. Mas aquele era apenas um possível caminho, não era o caminho. Por que discutimos o óbvio?

Ressentimento, pedido de justiça? De quem? Dos nossos educadores? De tantos sacrifícios que todos fizeram por cada um de nós?

Sejamos razoáveis. Querem sangue? Não estou desse lado.

Por qualquer caminho que tenhamos iniciado, podemos sempre mudar de direcção e foi isso que a maioria fez.

Educação castradora? Já lá vai longe. É um argumento estafado para negar a liberdade e o futuro; é recusar-se a crescer  e querer sempre ficar criança, no pior sentido.

 

"Desgraçadas das mulheres que casam com seminaristas", disse o Aventino, na sua brilhante palestra... Claro que que percebi o relativismo das tuas palavras e não as tomei à letra. Mas, por outo lado, porque fazer uma afirmação tão acintosa? Apenas ironia, desfocagem?

Há sempre alguma desgraça no caminho, mas, temos que o fazer, de outro modo seremos vates da desgraça.

Os homens que foram seminaristas têm determinadas características, os que foram padres e casaram têm outras, os liceiais... e daí? Isso é determinismo e contradição nos termos. Isso é negar a poesia no sentido de que a palavra poética é uma palavra aberta, livre e criadora e, ela própria, apresentadora de ideias novas, vida renovada.

Gosto dos poetas. Adoro a poesia. Acho que quem escreve, em geral. o faz por um gesto de generosidade e de abertura ao outo e não por vaidade ou egoismo.

Por isso, vivam os poetas!... viva o poder da palavra nova que repele a censura.

A nossa cen....  e a deles. A nossa censura nunca é a deles.

Senão fechava-se o circuito e deixava de haver diá-logo, palavra para o outro.

Quem inventou a censura? Os latinos? Os censores faziam parte do cursus honorum. Censores, nós, eu? Quem disse que há censura?

Isso interessa aos políticos, mas não a nós que temos a amizade de dizermos o que sentimos e o que pensamos.

Não recebemos nada senão o prazer de experimentarmos esta sensação de comunicarmos, gesto tão natural e humano. Homo alalus, não, que ideia!

Um abraço ao Aventino e a todos os que nos leêm.

Ismael

 

 

 

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