este foi e é o grande objectivo da criação deste espaço online e convém que assim se mantenha.
Entendo que alguma peleja na discussão de alguns temas aqueça um pouco o ambiente, percebendo sempre que apesar do "adubo" ter sido idêntico na formação das nossas personalidades, as diferenças sejam incontornáveis e a forma como cada um interpreta a vida é suportada em opções que têm várias raízes.
Abordar temas políticos e também religiosos é complicado, porque da conversa se parte muitas vezes para a discussão e daí para o distanciamento/afastamento vai um passo.
Os colegas que se envolvem, também têm de perceber que quem vai à guerra dá e leva e que nestes contextos nem sempre o que se "ouve" é encarado com um sorriso, pese o facto de as reacções fisiológicas estarem ocultas pela distância.
Congratulo-me porque presencio grande formação em grande parte dos nossos colegas, pelo percurso académico e profissional que desenvolveram ao longo das suas vidas e isso é também um património que engrandece a nossa Associação.
Todos percebemos porque vivenciámos, que o nosso grupo se alicerçou sempre no contexto da amizade , indiferentes ao que cada um interpreta como certo nos contextos políticos e de fé.
É verdade que uns interpretam friamente o espírito do guerreiro e outros se fragilizam à mínima estocada, sendo importante nestas pelejas que ninguém deixe a armadura em casa.
Se cada um perceber o que se pretende neste espaço e saber ler a forma de convivência dos seus interlocutores, vamos aceitar com um sorriso de que este espaço é mesmo uma mais valia.
Caros amigos e, em especial, caro cotransmontano e amigo de peito, companheiro de tristezas, fome e frio, coração de grande solidariedade e amor, Ricardo Morais:
Morreu o Saramago. Morreu o Maneiro. Morreu o meu amigo António. Morreu o meu compadre Sérgio. À distância dum palmo de dias. Vão morrendo todos à minha volta. Há muito tempo que andam a morrer todos à minha volta.
E sempre que morre alguém de quem gostamos, ficamos mais sós. Até só restarem alguns, poucos, ou quase nenhuns. Então é a nossa vez.
Proponho estas palavras de Saramago que tão bem tratou a nossa língua e algumas inquietudes que nos roem por dentro e por fora.
“Acho que todos nós devemos repensar o que andamos aqui a fazer. Bom é que nos divirtamos, que vamos à praia, à festa, ao futebol, esta vida são dois dias, quem vier atrás que feche a porta – mas se não nos decidirmos a olhar o mundo gravemente, com olhos severos e avaliadores, o mais certo é termos apenas um dia para viver, o mais certo é deixarmos a porta aberta para um vazio infinito de morte, escuridão e malogro.”
Deste Mundo e do Outro, Ed. Caminho, 7.ª ed., p. 216
Também para todos "um abraço com amor".
Para todos, um abraço com amor
Senti-me saudavelmente motivado pelo excelente post do Aventino.
Então, aqui vai ao correr da tecla.
Com Saramago morreu mais um pedaço do pouco que resta do comunismo. E quando morre mais um pedaço de comunismo eu sinto que o mundo “pula e avança”.
O maior embuste de todo o tempo da humanidade, o comunismo, merece finar-se assim. Sem ruído mas irreversivelmente.
Confesso que sou anticomunista! E sou anticomunista como sou antifascista e antinazista. Mas, com muito maior razão sou anticomunista pois este regime revelou-se em todos os sítios, na prática, como o mais profundamente anti-humano pois, à sua responsabilidade, são atribuídos mais 250 milhões de mortos, só no séc. XX.
Sou, pois, anticomunista mas não anti-comunistas! O que é diferente.
Não sou, portanto, anti-Saramago. Penso até que ele foi, como todo o homem de boa vontade, um ansioso pelo eterno, um “tarado” pelo absoluto.
Perseguiu o eterno que sempre negou. Amou o absoluto que sempre desprezou. Talvez por isso eu me atreva a dizer que ele foi um grande crente. Emaranhou-se nos dogmas do marxismo e, até o muro de Berlim cair, ele com muitos dos que agora por aí ainda andam, sempre defendeu que a URSS era o paraíso terrestre, o sol do mundo, o local onde “os amanhãs cantam”.
O marxismo, transformado em comunismo, ficará na história como mais uma tentativa falhada de felicidade na terra. Falhada porque confinada ao horizonte atrás das nossas montanhas. Falhada porque só teve em conta uma das dimensões do homem. E, mesmo assim, defendida pelo caminho errado: a violência.
E assim se vai finando talvez a maior religião do séc. XX. Cheia de dogmas, com o seu “Santo Ofício” sempre de achas acesas, com o seu pensamento único, com as suas masmorras, com as suas excomunhões, com as suas peregrinações aos túmulos de Lenine e de Estaline e, por cá, até à campa de Catarina Eufémia.
Viva o paraíso terrestre onde a religião é o ópio do povo!
Que bons temas encontraria Saramago para fazer o elogio da “cegueira” que se opôs aos agricultores, chamados Kulaks, que preferiram morrer enfrentando o regime estalinista a aceitar a colectivização das suas propriedades!
Resistiram, até à morte, à expropriação e colectivização forçadas. E Estaline, “sensibilizado” confessou-o a Churchill: “Foi uma luta terrível durante a qual tive que destruir 10 milhões de pessoas. Foi horrível. Durou quatro anos. Era absolutamente necessário (…) Não valia a pena discutir com eles.” (“Estaline, A Corte do Czar Vermelho”, Simon Montefiore, pág. 105).
Paz à sua alma. À alma dos Kulaks, claro!
Anuncio-vos a boa nova: finou-se mais um comuna. Cada vez que morre um comunista, um fascista, um trotskista, um maoista ou outro ditador de igual jaez, regozijo-me e ganho uma nova esperança para o nosso mundo. O Senhor José de Sousa (Saramago) morreu. Está registado como autor de alguns livros que tenho de grande qualidade: "O Ano da Morte de Ricardo Reis", "O Evangelho segundo Jesus Cristo", o "Ensaio sobre a cegueira". Consta também registado como autor de alguns outros de má qualidade:"A Caverna", "O homem duplicado", "Os poemas possíveis" e "Cadernos de Lanzarote". Li toda essa obra e ainda, "O memorial", "levantado do chão", "todos os nomes", "ensaio sobre a lucidez" " o manual de caligrafia" mas também "li", em cada página desses livros, aquilo de que nos fala a história e o Arsénio: milhões de torturados, milhões de mortos. Sei do que falo: se aos dezassete anos de idade fui espancado pela Pide, aos vinte e dois fui torturado por um bando de comunas, arvorados em donos da liberdade. Luis Goes escreveu (e musicou com um belo fado de Coimbra), um poema de que me sirvo, tantas vezes, quando o mar encapela, as vagas dominam e o leme parece ceder ao desespero: "coube-te a vida em sorte, homem mortal e é seguro: que é vida a própria morte, quando se crê no futuro". E assim, venho guiando os dias, sabendo que a morte pode, sempre, trazer, a um qualquer recanto da humanidade, um laivo de encanto, um laivo de felicidade: um futuro.
Viva, pois, a morte: de um comunista.
Quando eu morrer, alguém que (me) escreva: "Viva, pois, a morte: de um seminarista"
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