2010-06-20
Arsénio Pires - Porto
Senti-me saudavelmente motivado pelo excelente post do Aventino.
Então, aqui vai ao correr da tecla.
Com Saramago morreu mais um pedaço do pouco que resta do comunismo. E quando morre mais um pedaço de comunismo eu sinto que o mundo “pula e avança”.
O maior embuste de todo o tempo da humanidade, o comunismo, merece finar-se assim. Sem ruído mas irreversivelmente.
Confesso que sou anticomunista! E sou anticomunista como sou antifascista e antinazista. Mas, com muito maior razão sou anticomunista pois este regime revelou-se em todos os sítios, na prática, como o mais profundamente anti-humano pois, à sua responsabilidade, são atribuídos mais 250 milhões de mortos, só no séc. XX.
Sou, pois, anticomunista mas não anti-comunistas! O que é diferente.
Não sou, portanto, anti-Saramago. Penso até que ele foi, como todo o homem de boa vontade, um ansioso pelo eterno, um “tarado” pelo absoluto.
Perseguiu o eterno que sempre negou. Amou o absoluto que sempre desprezou. Talvez por isso eu me atreva a dizer que ele foi um grande crente. Emaranhou-se nos dogmas do marxismo e, até o muro de Berlim cair, ele com muitos dos que agora por aí ainda andam, sempre defendeu que a URSS era o paraíso terrestre, o sol do mundo, o local onde “os amanhãs cantam”.
O marxismo, transformado em comunismo, ficará na história como mais uma tentativa falhada de felicidade na terra. Falhada porque confinada ao horizonte atrás das nossas montanhas. Falhada porque só teve em conta uma das dimensões do homem. E, mesmo assim, defendida pelo caminho errado: a violência.
E assim se vai finando talvez a maior religião do séc. XX. Cheia de dogmas, com o seu “Santo Ofício” sempre de achas acesas, com o seu pensamento único, com as suas masmorras, com as suas excomunhões, com as suas peregrinações aos túmulos de Lenine e de Estaline e, por cá, até à campa de Catarina Eufémia.
Viva o paraíso terrestre onde a religião é o ópio do povo!
Que bons temas encontraria Saramago para fazer o elogio da “cegueira” que se opôs aos agricultores, chamados Kulaks, que preferiram morrer enfrentando o regime estalinista a aceitar a colectivização das suas propriedades!
Resistiram, até à morte, à expropriação e colectivização forçadas. E Estaline, “sensibilizado” confessou-o a Churchill: “Foi uma luta terrível durante a qual tive que destruir 10 milhões de pessoas. Foi horrível. Durou quatro anos. Era absolutamente necessário (…) Não valia a pena discutir com eles.” (“Estaline, A Corte do Czar Vermelho”, Simon Montefiore, pág. 105).
Paz à sua alma. À alma dos Kulaks, claro!