Meus caros,
comunicar é estratégico em qualquer organização e são claros os objectivos no nosso grupo. Fazê-lo em cenários mais ou menos complexos é sempre um desafio curioso para os nossos actores, se assim lhes posso chamar.
Vou-me reservando a um papel menos participativo mas atento, mas não menos activo e por vezes algumas situações surpreendem-me.
Mas, Ismael, vamos desembainhar a espada sem receios nem preconceitos, os tais que ainda marcam com ferrete algumas vidas.
O palco está livre, a bancada continua montada e sabemos as linhas com que nos cosemos.
As “conversas” podem ser mais ou menos acesas mas no "fale connosco" entramos para conviver... e a conversa vai interessante.
Aventino,
A palavra censura, tantas vezes repetida, só tu sabes verdadeiramente o que quiseste dizer com ela, porque a mim não me serve o termo. Discordar é a expressão do homem livre e que oferece aos outros o direito à palavra. Tens direito a dizer o que disseste e o seu contrário. E, da mesma forma, também posso discordar de ti e de outros, o que já fiz.
A associação tem uma determinada identificação e diz-me respeito e não sou pessoa de amuar ou desistir de uma boa conversa, sempre que se justifique. Não acho que na associação haja direito a intocáveis e atirem o ferrete para o outro, e se posicionem semânticamente em metáforas que disparem em todos as direcções sem percebermos o alvo.
Ter andado no seminário não foi nenhuma fatalidade. No meio de algumas desgraças houve também muita graça, muita, mesmo muita.
Entrar por um caminho não significa que não se possa encontrar outra saída, mas aceitemos até que isso exista nos livros. Kafka ia muito por aí. Mas Kafka é kafka e não é todo o homem. Ortega Y Gasset dizia que o homem é ele e as sua circunstâncias. E valorizava a importância da liberdade no homem e não tanto as circunstâncias. Refugiar-se nas circuntâncias é um comodismo fixe! É recusar que dependemos essencialmente de nós, do nosso querer.
A vitimização, no caso dos ex-seminaristas, parece-me que é paga de mau pagador. Abriram os olhos e viram que estavam nus e esconderam-se.
Querem esquecer, exorcizar aquela educação. Mas aquele era apenas um possível caminho, não era o caminho. Por que discutimos o óbvio?
Ressentimento, pedido de justiça? De quem? Dos nossos educadores? De tantos sacrifícios que todos fizeram por cada um de nós?
Sejamos razoáveis. Querem sangue? Não estou desse lado.
Por qualquer caminho que tenhamos iniciado, podemos sempre mudar de direcção e foi isso que a maioria fez.
Educação castradora? Já lá vai longe. É um argumento estafado para negar a liberdade e o futuro; é recusar-se a crescer e querer sempre ficar criança, no pior sentido.
"Desgraçadas das mulheres que casam com seminaristas", disse o Aventino, na sua brilhante palestra... Claro que que percebi o relativismo das tuas palavras e não as tomei à letra. Mas, por outo lado, porque fazer uma afirmação tão acintosa? Apenas ironia, desfocagem?
Há sempre alguma desgraça no caminho, mas, temos que o fazer, de outro modo seremos vates da desgraça.
Os homens que foram seminaristas têm determinadas características, os que foram padres e casaram têm outras, os liceiais... e daí? Isso é determinismo e contradição nos termos. Isso é negar a poesia no sentido de que a palavra poética é uma palavra aberta, livre e criadora e, ela própria, apresentadora de ideias novas, vida renovada.
Gosto dos poetas. Adoro a poesia. Acho que quem escreve, em geral. o faz por um gesto de generosidade e de abertura ao outo e não por vaidade ou egoismo.
Por isso, vivam os poetas!... viva o poder da palavra nova que repele a censura.
A nossa cen.... e a deles. A nossa censura nunca é a deles.
Senão fechava-se o circuito e deixava de haver diá-logo, palavra para o outro.
Quem inventou a censura? Os latinos? Os censores faziam parte do cursus honorum. Censores, nós, eu? Quem disse que há censura?
Isso interessa aos políticos, mas não a nós que temos a amizade de dizermos o que sentimos e o que pensamos.
Não recebemos nada senão o prazer de experimentarmos esta sensação de comunicarmos, gesto tão natural e humano. Homo alalus, não, que ideia!
Um abraço ao Aventino e a todos os que nos leêm.
Ismael
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Chega?! Ou é mais:
Censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura?, censura???????????
Gostei que o Manuel Vieira dissesse o que disse. Já precisava de ouvir alguém que pusesse um ponto na situação. Senti-me, vindo de quem vem, com algumas posições tomadas pelos nossos colegas sobre a morte de Saramago. Embora algumas ambíguas e poetizadas, mas deu para perceber misturas e azedumes pessoais e desencontros atópicos.
Quis contrariar algumas posições, mas achei melhor não o fazer, pois há o princípio da amizade da associação que o Vieira recordou neste espaço.E, por outro lado, todos temos direito à nossa opinião e não precisamos de todos concordar. O homem unidimencional de Herbert Marcuse, definitivamente, não, daí dar um laivos do meu "sentir".
Mas , caramba, o homem morreu "hoje" e nós, homens, já estamos a " julgá-lo"? Quem somos nós? De onde nos vem esse poder?
Vem-me à mente uma frase de Machado de Assis: "morre o homem já podemos falar bem dele". Não sendo completamente verdadeira esta frase, pois é, necessariamente, parcial, no entanto releva dela algum humanismo de quem a proferiu.
Houve pessoas e instituições que se associaram à morte do "de cujus". Alguns com intenções políticas, claro!... Mas também houve quem preferisse o silêncio, a ostentação de uma rosa na mão, uma lágrima de reconhecimento.
A Igreja Católica fez uma comunicação de cariz político que, no meu ponto de vista, não abonou muito a seu favor, dela, mas ela, a Igreja institucional é que sabe, porque para mim perdeu uma oportunidade de praticar a caritas.
Mas também não é por isso que deixo de acrediar, era o que faltava, eu preciso de acreditar e mandar algumas opiniões destas e doutros para o teto/tecto para sobreviver. Às vezes, estou na missa e ouço cada pancada! Meu Deus, perdoa-nos porque não sabemos o que dizemos e o que fazemos... Mas viver é arriscado e quem anda à chuva molha-se nem que tenha um bom guarda-chuva.
Eu ofereço uma rosa aos meus amigos e "inimigos" que morrem. Que alguns que morrem desassombram a vida dos vivos, é politicamente incorrecto dizê-lo e pior senti-lo.
Não alinho com o justicialismo, quer teórico, peronista ou outros ismos desta família. A grandeza de cada homem estará na sua capaciade de perdoar, de compreender a humanidade que há em cada homem.
Com amor para todos e embainho a minha espada, porque andei no seminário. Ismael
Crónica dum mal-entendido neste calvário da escrita onde ninguém quer crucificar alguém. Muito menos um amigo leal e sincero.
Sinto-me mal. E tenho que falar, não para me justificar mas para tentar entender.
Tudo começou pelo repto do Ricardo Morais feito aqui há dias. Dizia ele:
“O nazismo só ultrapassou a Igreja em quantidade, mas ficou muito aquém nos métodos de tortura e de morte. Proponho a todos a análise, baseada na história, sobre as causas que, quer no passado, quer nos nossos dias (e aqui discordo do Arsénio ao dar tudo como do passado) levam a tantos crimes, em que nações inteiras, porventura as mais evoluídas, por ideologia ou religião, estiveram envolvidas. O factor comum é que todos são bichos homens.”
Ele propôs “a todos a análise baseada na história” e eu respondi dizendo:
“Para já, quero só combater a forte inclinação que existe para só se falar do nazismo, esquecendo o comunismo nas suas variadas frentes, ontem e HOJE.
O nazismo, ao pé do comunismo o grande embuste do séc. XX (e continua…), passa por uma quase brincadeira não fora tratar-se do extermínio de seres humanos.
Mais tarde desmistificarei também as tais inegáveis misérias que em nome de Deus se cometeram…”
E dei os números respeitantes ao Democídio causado pelo comunismo, pelo fascismo, pelo nazismo e pelo cristianismo.
O Morais chamou a atenção:
“O autor dos quadros estatísticos trata tudo junto e os mortos por violência no Vietname são todos atribuídos ao comunismo, razão pela que os governos da grande república da América do Norte não consta do quadro, quando ocuparia um dos primeiros lugares se a definição fosse cumprida.”
Eu respondi dando os números de Democídio causados pela América do Norte (EUA), números esses que vêm no mesmo site que indiquei.
Veio a morte de Saramago. E eu disse:
“Sou anticomunista mas não anticomunistas! Não sou, portanto, anti-Saramago.” Não está nos meus valores ser contra pessoas.Combato, isso sim, as ideias das pessoas que vão contra as minhas. Lealmente. Respeitosamente. Fortemente. Mas tentando sempre ser racional e colocar a emoção fora do combate que nestas coisas de religião e política muito fundamentalismo nos vem da emoção.
E foi por isso que coloquei, hoje de manhã, aquela magnífica frase do Saramago.
Porque, perante a morte, nada justifica que deixemos de nos abraçar. Sempre.
Agora, que são quase 17 horas, leio o mail do Vieira a comunicar a decisão do Ricardo Morais de abandonar a AAAR e as funções de Direcção que ocupava.
Foi como se me tivesse morrido mais um amigo.
Que já vão tantos neste mês!
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