Dizia o Gaudêncio "o Vieira tem razão ..." e isto foi nos princípios de Janeiro e o tempo deu-lhe mais razão como se os silêncios tivessem razão.
É verdade que as dinâmicas não pereceram e fala-se num cozidinho lusitano pelas bandas de Rio Mau à borda do Douro, numa grelha cheia em Amendoeira, no Abel de Gimonde, pertinho de Bragança, numa "foda" em Monção ou num arrozinho amariscado nas bordas da serra de Arga, como se o sacrilégio da gula controlada tivesse arraiais montados numa via sacra gastronómica e de lauto convívio que mostra vivências ...
Espirrando por algum frio noturno, assoei-me a um lenço de papel e apercebi-me que esse gesto tão comum de inverno já não usa os paramentos de pano como outrora e também o papel cedeu aos esconjuros nasais. Fruto dos tempos, das modas ou da oferta que se impõe ... mas não podemos acomodar-nos à inércia do uso dos silêncios e cabe a cada um de nós contrariar essa acomodação. O silêncio eterno afinal tem tempo ...
O Vieira tem razão : durante esta quadra dominada pelo mercantilismo, cinismo, falsa alegria e solidariedade fingida, ninguém piou neste espaço. Não nego o meu desencanto e se pudesse, no princípio de Dezembro de cada ano, abria um parêntese no calendário e saltava logo para o 10 de Janeiro do ano seguinte. Feitios.......
O curioso é que havia material suficiente para falarmos entre nós pois desde o texto do Adolfo, à resposta do Arsénio (ambos excelentes), do relato cheio de amizade e de humanismo do José Castro até à história de vida contada pelo Luís Guerreiro, os temas eram aliciantes e convidavam ao devaneio.
De entre esses textos, sem qualquer falta de consideração pelos outros, vou dizer alguma coisa sobre esse relato de vida que o Guerreiro nos mandou. Podia ser o capítulo de um romance dos vários que escreveu mas assim, contado na primeira pessoa, este resumo da sua vida provocou seguramente reações várias em alguns dos companheiros que com ele privaram na Quinta ou em Castelo Branco. Eu apenas o acompanhei na Barrosa e, fazendo uso das minhas memórias e sem qualquer concessão à amizade, declaro que só tenho excelentes recordações dele. Nem um ponto negativo me ocorre para citar. Tivemos nós a sorte de nos acompanharem, nos últimos quatro ou cinco anos passados na Quinta, dois prefeitos e professores que eu considero de cinco (5) estrelas : O Guerreiro e o Sameiro. Homens que, diferentemente de outros, nos ensinaram, com o seu exemplo e a sua palavra, a olharmos a vida de forma mais natural.
O texto do L. Guerreiro, a que eu chamaria a " História de um Homem Bom " num hipotético romance que eu escrevesse, está narrado com muita humildade e delicadeza mas é omisso sobre as convulsões interiores que deve ter sentido aquando da passagem de uma vida resguardada para a vida civil. Mas eu também não estou interessado em saber pois é uma coisa do seu foro íntimo.
Temos, assim, duas pessoas que, despindo uma a batina e outra o hábito, refizeram a sua vida fora da Igreja, viveram com dignidade, respeitaram as regras da sociedade e foram felizes.
A Irene foi, seguramente, uma excelente esposa e companheira para o Guerreiro que, bem ancorado, já fez o que se exige a todo o homem : fazer um filho, escrever um livro e plantar uma árvore.
Aos dois saúdo com muita amizade e desejo uma longa vida .
O frio tem feito esquecer as dinamicas festivas, que trouxeram algum alento nas letras destes espaço, com mensagens várias a mostrar que quando queremos sabemos...
Depois que o Aventino se desnudou, este espaço tendia para um nefasto silêncio. Lembrando Ruben Oppenheimer "sabíamos que o mundo não voltaria a ser o mesmo. Algumas pessoas riram, poucas choraram. A maioria ficou em silêncio ...".
Caros Colegas de sonhos:
A todos vós, que alguma vez sentistes por dentro o que é Natal, a minha saudade e votos de perene satisfação na Vida.
Vosso sempre mas especialmente em Natal,
JMPedrosa Cardoso
Amigos:
Peço ao Manuel Vieira, por favor, que inclua estas minhas linhas no nosso “sítio” para desejar a todos as Boas Festas de Natal e Ano Novo, a vós e a vossas famílias. Neste ano, talvez não irei escrever a mais ninguém, apesar de que alguns o deviam receber.
Os dez anos que estive longe em Castelo Branco e Angola, não pude conhecer os nossos seminaristas de Gaia. Com eles, há uma ligação da mesma vida, mas em tempos distantes. Os que estiveram comigo nos oito anos dos seminários de Gaia e Castelo Branco, estão ainda no fundo do meu coração.
Mas é claro que o meu sentido vai mais aos dos de Castelo Branco. Foram os fundantes do nosso novo seminário. Estes e eu.
Quando deixei o caminho que jamais havia abandonar, eu pensei que os meus alunos de ontem me respeitarão, por exemplo, à moda da gente da minha terra: Doutor, Senhor, Você, ò Luís, numa vez “Padre”. Sendo Padre, eu poucas vezes vinha a Gondarém. E, numa das vindas de Brasil, já com a esposa, o meu povo ficou de boca aberta perante tanto carro e pessoas, à roda da minha casa.
Porquê deixei? Eu tinha suportado a experiência dos cinco anos de Vice-provincial e era agora o Superior da Missão da cidade de Serpa Pinto. E eu passava por uma época dramática. Em 1973, o Vaticano II ainda estava quente e eu era dos esperançosos.
E para mais chegou de Roma uma freira-teólogo para a nossa Escola dos Catequistas e logo começou a falar de mais com o Superior. A Geral das Freiras ouviu o caso e, voando de Roma a Angola, e, já na Missão de Serpa Pinto, rapidamente ordenou à teólogo que, tendo os papeis e o voo, partirá para a Áustria, para um monacal, onde poderá pensar e decidir. Decidiu por um mês. Deixou a vida religiosa, voltou à Alemanha e fez-se professora de religião de uma escola.
Eu, o Superior da Missão, até ali era um bom Padre. Depois o Guerreiro não era mais nada. Perdi todo meu valor. E talvez o perderá em todas as nossas Missões. Portanto, aqui eu já não tenho lugar. Vou pedir ir ao Brasil, visitar o meu pai e o meu irmão, construtor empresário.
Cheguei à Brasília em 13.07.1974 e em 20 de julho comecei a trabalhar com o contador. Logo, às noites, traduzia artigos para a revista CONCILIUM. Foi no mês de outubro que pedi aos superiores religiosos que mandassem os meus papeis a Roma. Era mais um padre que se ia.
A nossa Igreja, que se diz de Cristo, quer usar a servidão, mas Cristo não quer a servidão, mas um serviço livre. Escrevi à teólogo, agora com o seu nome Irene, disse-lhe que eu também vou ficar livre. Queres ser casada comigo?
Em janeiro, entro na Universidade Católica, 4 anos, aulas noturnas, Administração, pensando que seria isso o fim da minha vida. Eu só fiquei 7 anos com o meu irmão. Assim dei-me à tradução em três línguas, para várias editoras, primamente a Editora da Universidade UnB; estive por lá 4 anos. Depois fui administrar por 10 anos o Goethe-Institut em Brasília.
Chegou a reforma, mas não parei; as minhas horas, até hoje, são para a tradução e a escrita dos meus livros. E não posso esquecer que, eu e a minha mulher, devido às várias línguas, pudemos, desde 1982, combinar com outras associações de padres casados.
A teólogo, a Irene, ficou só um ano na Alemanha e foi juntar-se ao Luís. Casaram-se em 18 de Outubro de 1975. Mas, não havia porta aberta para um emprego para a Irene. Esperamos. Por fim, a Embaixada da Alemanha buscava uma secretária e encontrou-a, na Irene, uma das melhores. Ficou lá 30 anos. E, como eu, ela é ativa em casa e faz diversos trabalhos voluntários como visitar doentes no hospital, costurando enxovais para crianças pobres, ajudando pais que não conseguem lidar com a orientação dos seus filhos etc. E, últimamente, também age como uma secretária, ajudando, por exemplo, o Luís nos seus escritos que agora já não são tão como eram os de antes.
Não quero esquecer o nosso filho, o André. Depois de três anos de casados, Irene e Luís, tivemos um filho. Tem hoje 40 anos e deu-nos muitas alegrias. Boa escola, curso de piano, ensino de piano, curso de Biologia com Diploma de Bacharel da UnB, Brasília. Em 2000, foi em intercâmbio de meio ano entre a Universidade de Brasília, Brasil, e a de Estocolmo, Suécia. No fim, o nosso filho recebeu uma bolsa da Suécia para começar a pesquisa necessária para dar os passos dos artigos e defender o da tese.
O André defendeu a tese sobre câncer, em Abril de 2008, no Karolinska Justitutet, Estocolmo. É Doutor, pesquisador cientista do Instituto, e espera que chegará a Professor.
E isto já vai longe. Sabeis um pouco mais da nossa história. Que a nossa e a vossa sejam uma realidade mais alegre do que triste.
Feliz Natal e um bom Ano Novo.
Luís, Irene e André
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