2010-07-23
A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez
Aquela loira que eu vi numa cálida e abafada tarde de verão, aquela loira esbelta, de andar gracioso como gracioso era todo o seu porte, aquela loira de olhar brilhante e doce, de cabelos doirados despenteados pelo vento, de tez platinada, aquela loira, fatalmente, logo me prendeu.
Vi-a passar como passam muitas outras mas, qual será o motivo por que as coisas invulgares nos arrebatam de imediato, sem nos darem tempo para reflectir e nos arrastam após si como um herói famoso arrasta o povo admirado? Sentado na esplanada dum café, sentia-me alheado na leitura de um livro quando, olhando ocasionalmente para a rua, deparei com a fogosa loira que passava. Tentei continuar a leitura, mas já a minha atenção repousava na sua alucinante presença. Levantei-me alvoroçado e fui procurá-la para a ver e admirar mais de perto.
Sabeis como arde, de chofre, um montão de folhas ressequidas quando lhes cai em cima uma chispa de lume? Assim também se ateou o incêndio da paixão na minha alma com a faúlha de beleza lançada pela doirada rapariga. Arquitectei planos, sonhei em sonhos, senti-me embriagado pelo êxtase do seu amor, imaginei beijá-la febrilmente, congeminei possuí-la sem estorvos.
E depois? Como sou visionário e louco! Línguas perversas semearam o desânimo no meu coração, enquanto iam bradando com escárnio e zombaria:
— "… Melhor tivesses juízo na tua mente desvairada!"
— "… Quem? Quê? Desistir? Nunca!"
Antes havia de morrer o Mundo, desfazer-se, desintegrar-se, mas aquela loira era a que devia ser a minha última paixão! Palmilhei caminhos juncados de abrolhos, atravessei rios, vagueei pelas escarpas de montanhas, cansei nas areias de praias extensas, mas atingi o meu fim. Vencendo a resistência do seu encantamento, consegui instalar a bandeira do meu amor no cimo do baluarte do seu coração, tal como os antigos guerreiros hasteavam o pavilhão do triunfo nas ameias dos castelos. E deixei de sonhar, já não imaginava utopias mas vivia numa doce realidade.
A ti, pois, minha divina e doirada rapariga te entoo um canto e te dedico um poema, como preito da minha admiração por ti!
E aquela loira que contemplei pela primeira vez numa cálida e abafada tarde de verão, aquela loira esbelta de andar gracioso como gracioso era todo o seu porte, aquela loira de olhar brilhante e doce, de cabelos doirados despenteados pelo vento, de tez platinada, foi uma mulher que eu amei. E se me perguntassem agora as antigas más línguas qual era o Ser que mais adorei neste Mundo, responderia sem vacilar:
— Aquela loira … que eu amei!