2010-04-21
Assis - Folgosa
Ora vivam todos, uma vez mais.
Também eu me tenho mantido calado dando a vez a outros, àqueles que ainda se mantêm mudos. Felizmente alguns, embora poucos, têm aparecido à luz do dia.Felicito-os por tal. - Em tempos, deixei aqui escrito "que a história nos tinha sido mal contada". Mas acrescentava "que não queria com isso acusar os nossos dedicados educadores". Hoje, volto a fazer a mesma afirmação.
"Ninguém dá o que não tem" é ditado popular hoje, como o era na época em que frequentámos a Barrosa, Nava-del-Rey ou Vallhadolid, ou ainda qualquer local em que alguns se encontraram. - Na época, nós éramos crianças e pensávamos como crianças, como diz S. Paulo. Agora que somos crescidos, temos de pensar como pessoas crescidas, como o mesmo santo defendia.
Só que, desde a época dos primeiros dias do movimento que teve início em Jesus,movimento de acção de verdadeira Humanidade e Justiça, de Amor entre todos os Homens, muita água correu sob as pontes do tempo. Como por encanto - o encanto é muito humano - surgiu a sede do poder e do dinheiro. Sem este o poder tem pouca dura... - Surgiu o Cristianismo, já não como movimento, mas instituição, com tudo o que de mau uma instituição pode arrastar.As regalias que lhe foram concedidas por imperadores e reis serviam apenas para justificar os crimes de uns e outros.A história dita cristâ encerrava muita barbaridade, mesmo quando se dizia que era para propagação da fé ou para defesa do santo sepulcro.As cruzadas houve-as também nos tempos não muito remotos. A escravatura dos índios e dos negros está aí para nos recordar tamanhas barbaridades.Pois, de tudo isto nos foi dada uma ideia muito ténue, assim como dos tempos em que os papas se degladiavam e se encarceravam. Era a luta pelo poder e do dinheiro para conseguir este. De tudo isto nos falaram muito a medo os nossos educadores, como que temendo eles próprios a condenação ao inferno por um qualquer decreto papal. Realmente os dogmas tiveram um enorme peso na nossa educação. Não os condeno. Eles próprios foram vítimas de igual educação. A sua generosidade e sacrifícios devem ajudar-nos a desculpá-los.Também eu fui daqueles que beijei os pés aos três, não apenas a dois,a que se refere o Gaudêncio. E fomos muitos a fazê-lo. Ainda hoje estou sem saber porque razão fui castigado. Na altura desfiz-me em lágrimas e até pensei em ir-me embora por me sentir injustiçado.Hoje, porque sou crescido, só me dá vontade de rir e faço-o sempre que tal cena me vem à memória. - Quanto a possíveis casos de pedofilia, nada posso afirmar pois de nada me apercebi, nem imaginava que tal pudesse acontecer.
Fico grato a quantos têm colaborado no "fale connosco", mas sobretudo a quantos têm enviado trabalhos para "Pontos de Vista".Graças a tais trabalhos, compreendo melhor porque Marcel Legaut dizia que estava à porta da igreja pois era onde o ar era mais puro e se respirava melhor. Ou porque Bernardo Haring afirmava não confundir a Igreja com o Vaticano, porque se tal acontecesse nem mais um minuto permaneceria nela...
Despedindo-me, deixo-vos o título dum livro, que ainda tenho entre mãos, que nos ajuda a compreender um pouco melhor a História do Cristianismo:"Jesus Antes do Cristianismo", de Albert Nolan