Parece que me deram um murro acima do umbigo, para não dizer no estômago, e sinto-me meio pateta com o que acabo de constatar : um « ESTUPENDO » escrito, aqui posto, pelo nosso companheiro Adolfo, desapareceu do site, da manhã para a tarde.......
De manhã, numa leitura rápida, constatei que o Adolfo, retirado lá para o "Praquistão", tinha abandonado a sua natural reserva e havia dado rédea solta à sua imaginação, ao seu engenho, à sua fina ironia e ao seu humor elegante.
Aquela peça escrita pelo Adolfo trouxe-me à lembrança o Adolfo que eu conheci na Barrosa, ainda éramos meninos e mocinhos, e que, já nessa época, era dono de uma ironia e humor que jamais se esbateram na minha memória. E a referência dele era, como só podia, o Eça.
Haverá, seguramente, uma qualquer explicação para este desaparecimento repentino mas, seja qual seja o motivo, eu lamento pois era uma peça que o próprio Eça não desdenharia e que subscreveria sem esforço (penso eu....).
Espero que esta minha entrada no site não demore duas semanas a entrar, como sucedeu com a anterior, e que também não seja banida para o caixote dos papéis sem nome.
POSTAL DE NATAL
(2018)
Mais um Natal acontece fazendo-me lembrar todos os meus Natais vividos até hoje e que se diluíram na espuma do tempo; o Natal de quando eu era pequenino, da minha infância na casa dos meus pais na aldeia onde morava, aqueles dos meus estudos na Barrosa, um ou dois passados durante o serviço militar e depois, já longe e em terras dispersas, tantos outros Natais no seio da própria família que criei com a mulher e os filhos, mais tarde também com todos os netos. Natais diferentes mas todos iguais na sua essência mística e arreigadas tradições do meu Pais, sempre na Paz e no recolhimento de uma oração à fartura da mesa. Era o costumeiro bacalhau com batatas e hortaliça, com o tenrinho e colorido polvo, tudo bem regado com azeite do lavrador, eram as gostosas filhós e as saborosas rabanadas de leite e de mel, eram as tostas borrachonas e os bolinhos de jerimu, eram os esquisitos formigos, eram as sopas de vinho com canela servidas em rústicas malgas, eram os pinhões descascados das pinhas mansas queimadas numa fogueira, eram os do jogo do rapa e da bisca lambida. Neles havia sempre um presépio, quase todos por mim arquitectados com muito engenho, com luzes e casinhas de papel, com anjinhos papudos de barro e celulóide, com repuxos de água e tufos de musgo, lindos de morrer e encanto da pequenada.
Desta forma, aos meus familiares, aos meus companheiros de jornada, aos meus amigos e pessoas conhecidas, a todos aqueles que são mansos do coração, aqui lhes estou a reiterar a minha cordial amizade, a desejar umas festas felizes e a deixar a imensurável Paz desta Solenidade.
Porque estou quase no fim do meu percurso pelas colinas e pradarias da Vida, próximo já de contemplar o esplendor do seu afogueado Ocaso, desejo limpar todo o rancor que me foi arranhando o peito, por isso, às duas ou três pessoas que, sem qualquer senso, amei profundamente e depois me esfrangalharam a alma e traíram o sentimento, a essas vou deixar também a minha Paz.
Glória a Deus no reino dos Céus e Paz na terra àqueles que têm sede de Justiça!
Arcos, Dezembro de 2018
Aqui deixo um sincero desejo de boas festas, a quantos que por acaso por aqui passem .
Mas... Será que ainda anda alguém por aqui ?
Estes silêncios prolongados não me perturbam mas incomodam-me. Por isso, esta entrada mais não é que uma pequena tentativa para acabar com eles.
Assunto??? Pois há uma fila deles mas hoje, evocando uma efeméride pessoal, vou convocar os meus amigos, os que aderirem claro, para falarmos de um assunto que tem sido meio tabú neste espaço.
Amanhã, 5 de Dezembro, vou recordar que, no mesmo dia mas de 1 963 , tal como o Jonas bíblico, fui engolido para a barriga de um barco enorme e levado para Luanda, para a guerra.
As peripécias que por lá passei foram muitas e prometo contar algumas se tiver ouvintes que as queiram escutar.
Alguns companheiros poderão ter escapado a esta experiência mas um elevado número passou pela Guiné, por Angola ou por Moçambique. E outros, mais sortudos, passaram por Timor, São Tomé ou Cabo Verde.
Mas todos devem ter uma pequena história para nos contar. Vamos a isso?
Um abraço amigo para os que guerrearam e, também, para os que o não fizeram.
MAGUSTO 2018
Oliveira do paraíso, 10 de novembro
OS PERIGOS INSULARES DA DIÁSPORA
Em tempos que já parecem distantes havia um lugar de encontro. A PALMEIRA desdobrava-se em várias frentes. Havia a revista, de feliz memória. Havia autocarros que destruíam as distâncias. Havia o salão de vila nova, onde ninguém parecia velho. Depois, foi isto, este papel gelado, onde só raramente alguns mostravam o coração. Assim se escreve o título de um romance sem autor: "onde tudo foi morrendo". O tempo mordeu a nossa ausência e cada qual fugiu para onde pôde. Disparámos pelo oceano fora. Fizemos ilhas de sobrevivência. E aceitámos o passado como se tivesse morrido. Um tempo que nos foi comum é agora fragmentado em partículas de inutilidade. Será isto a galopante velhice?
Tivemos a sorte de informalmente haver umas favas mobilizadoras. A norte de todos os rios, nas colinas verdes do verde vinho, desenvolveu-se um espaço sagrado, onde os encontros se repetem sem fadiga. Muito esperados, bem participados, docemente amados. Os conceitos de coma, de cama e de insanidade ficam todos fora do recinto. À despedida, garante-se a uma só voz que para o ano há mais.
Também casualmente, a sul de todos os rios e perto do mar, se repetiu o mesmo fenómeno. Nas colinas medievais de palmela, onde o vinho é mais abundante do que a água, as castanhas nordestinas foram o pretexto. Saudades de uma infância dilacerada, que o precioso fruto de novembro cobria de um prazer simples inesquecível. Um outono quase de mel, com um sol sempre cúmplice, os diversos sabores de época, os figos, as passas, os cajus. E o que as nossas mulheres, sempre entusiasmadas, trazem para a festa. Por fim, envolve-se tudo em vinho cor de fogo, rente às chamas, onduladas por um vento suave. E até se afina a voz por uma canção que interpreta o fim do dia, como se fora feliz.
Dito isto, estão abertas as inscrições. As favas já foram e serão. As castanhas são agora. Tudo isto tem o seu encanto. É o que resta da antiga alegria, quando acreditávamos no esplendor do mundo. Não te percas, meu irmão, na tua ilha, onde o teu barco atracou. Ainda somos muitos. A memória está viva. Sabemos o nome. E os tiques. E as anedotas. Sai do teu conforto, porque não tem tamanho bastante para te consolar. Tudo a postos. Havemos de nos amar ainda mais uns tempos. Boa viagem! O portão está aberto. Solta-te! Olha que há perigos insondáveis no mar que banha as ilhas!
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