fale connosco


2019-03-23

alexandre gonçalves - palmelaO

 

 

ONDE TUDO VAI MORRENDO

 

Saúdo os Ares, especialmente os que perturbaram o nosso infinito silêncio. De entre estes é forçoso salientar por diferentes razões o Aventino e o M.Vieira. A associação nasceu infantil, como tudo o que nasce. Cresceu e tornou-se árvore. À sombra dela gastámos gostosas horas de festa e construímos amizades com raizes antigas. Temos uma história, eventualmente irrelevante. Mas cada um à sua maneira terá aumentado o tamanho da sua vida, na medida em que se inseriu nas práticas desenvolvidas. Notam-se agora alguns sinais que indicam decadência? Naturalmente, estando já inclinados pelos anos e vacinados contra as fraudes amorosas; com o céu de deus cada vez mais vazio; num rectângulo cada vez mais litoral; que resta ainda para fazer da nossa idade um cântico de alegria? Primeiro, foi a revista, a palavra que não voa. Um lugar privilegiado para exercícios de ancianidade. Como foi possível que tão cedo nos faltasse esse mármore, onde poderíamos ter gravado a ouro o coracão escrito? Depois foi o encontro anual, esse filme do país profundo.Essas viagens nordestinas, como quem visitava a própria infância. Essas mesas alongadas, presididas pelo pão e pelo vinho, em circuito familiar. O regresso hesitante à música, que na sua imperfeição nos dava a ilusão sadia da vitória final sofre as sucessivas falênccias da vida. Houve ainda a breve leviandade do facebook, numa tentativa de acompanhar a onda alheia, incompatível com pruridos de "valores e princípios" de alegada superioridade moral. E agora temos esta página imaculada, que preservamos com uma sistemática ausência. Apetece dizer que tudo nos foi morrendo, sem o nosso consentimento.Sem darmos por isso e sem remorso. Qual de nós vai fechar a porta?

 

2019-03-18

Aventino Pereira -

A IMPORTÂNCIA DO PRETO

 

1964. DC. 1964 depois de Cristo, agosto.

Era agosto e era a Senhora das Graças. Maria da Graça, a minha bela e doce mãe, a única mulher, meu amor,

Manuel, Manuel, temos que pôr as pinhas, e as pinhas ardiam, crepitavam, iluminavam os sonhos deste menino, magrinho, branquinho, silencioso e triste com que os sinais desse tempo me trouxeram tantos dias tantas décadas, sim, carrego a solidão do desencanto, a infelicidade perene, a busca de procurar um nada de encontrar.

 

(Não sei o que é o amor, nunca soube o que é o amor, não quero nada com o amor, nunca amei ninguém e não quero que ninguém toque ao de leve este meu sentir se me deres um abraço eu choro, se me deres um beijo eu choro, se me quiseres levar contigo e tomares conta de mim eu quero, vem vem mulher que não encontro, vem desinteressamente vem navegar por estes dias que nos restam, vem).

 

Era agosto e o meu pai beijava-me e a minha mãe beijava-me, cá estou eu a dar-lhes vidadeixem-me por favor deixem-me enganar-me sobreviver a este desejo de morte de ir de ir de ir como se fosse para os seus braços, seminário, maldito seminário que tudo me roubaste bendito seminário que tudo me deste, era agosto. 1964. Senhora das Graças e o silêncio de uma carta.

 

As cartas traziam memórias, notícias, futuros e solidões. As cartas eram vida, eram vidas, eram continentes, hemisférios, guerra, África e morte;  emigração e bidonville, cloacas de merda em tantos e tantos bairros miseráveis de França à espera de todos nós, expulso do seminário.

Eu fui expulso do seminário.  Felizmente?! ( “o que fui, o que fui nem eu sei; apenas os teus lábios me fizeram eterno”. Aventhino. 2018. Finisterra. Penguin, pág. 139)

 

E cá estou eu a dar importância ao preto. A carta do seminário:  tem voz, tem silêncio, tem dor, a dor do ir e de não voltar: deve entrar no dia sete, outubro, enxoval, o que é enxoval, pergunta-me a minha mãe, três pares de cuecas, cinco camisas, dois pijamas e um ror de merdas e o meu pai que se fodam, o moço não vai não o quero paneleiro lá no meio dos padrecos, acabou, construção civil, fuga para França, Ultramar que se foda nem pensar, o nosso menino, antes morto em África do que paneleiro.

E agora ouço a tua voz AAR renasces em mim enxoval enxoval enxoval enxoval enxoval enxoval enxoval enxoval, um fato: “não deve ser preto”. Lembras-te?! “não deve ser preto”.

E agora, o preto dos funerais, o preto dos automóveis, o preto das cruzes nos jornais, o preto das mulheres gordas, o preto da Ivone Silva com este vestido preto eu nunca me comprometo, o preto do basquete que grande sacana que afundanço, o preto Amadora, serveh?! O preto da paneleirada gosta do preto o preto da comunistada do bloco com a mão esquerda o preto sujo da porcaria da terra o preto sujo das cloacas o preto dos coisos que são pretos como o c… e até o fumo preto da Basílica São Pedro quando não há coiso que mereça outra coisa que não seja o c…do fumo preto.

Um dia qualquer arranjo-vos um Governo que goste do preto.

 

 

 

2019-03-17

Delfim Pinto - Messines de Cima, São Bartolomeu de Messines, Caixa postal 24 S

Como me envergonho de esquecer o meu amigo Peinado!!!

Apesar de saber que só morrem connosco...

Obrigado, sempre presente, amigo Vieira.

 

2019-03-16

Manuel Vieira - Esposende

Fez ontem 4 anos que o António Peinado se remeteu ao silêncio do tempo, deixando muitas saudades em todos os que sentiam a sua força de viver.

O Peinado faz falta pela irrequietude, pela permanente ambição de viver e conviver, pela importância que dava à vida e aos amigos. É bom recordá-lo ...

2019-03-10

Manuel Vieira - Esposende

Dizia o Gaudêncio "o Vieira tem razão ..." e isto foi nos princípios de Janeiro e o tempo deu-lhe mais razão como se os silêncios tivessem razão.

É verdade que as dinâmicas não pereceram e fala-se num cozidinho lusitano pelas bandas de Rio Mau à borda do Douro, numa grelha cheia em Amendoeira, no Abel de Gimonde, pertinho de Bragança, numa "foda" em Monção ou num arrozinho amariscado nas bordas da serra de Arga, como se o sacrilégio da gula controlada tivesse arraiais montados numa via sacra gastronómica e de lauto convívio que mostra vivências ...

Espirrando por algum frio noturno, assoei-me a um lenço de papel e apercebi-me que esse gesto tão comum de inverno já não usa os paramentos de pano como outrora e também o papel cedeu aos esconjuros nasais. Fruto dos tempos, das modas ou da oferta que se impõe ... mas não podemos acomodar-nos à inércia do uso dos silêncios e cabe a cada um de nós contrariar essa acomodação. O silêncio eterno afinal tem tempo ...

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