Tenho estado bem quieto e caladinho mas, de quando em vez, acho que faz bem intervir nestas conversas. E hoje vou ter a ingrata tarefa de me pronunciar sobre os escritos de dois bons e grandes amigos: o Alexandre e o Arsénio, tarefa complicada mas ao mesmo tempo simples pois, o facto de tomar partido por um deles, não implica uma menor consideração pelo outro.
Rendo-me à beleza e à leveza do texto do Alexandre. Simplesmente admirável. Mas já não o acompanho no seu amor pelo FADO. Desde sempre ( isto é: desde que comecei a analizar o mundo que nos rodeia e condiciona ) me conheci a nutrir uma aversão forte a tal género de cantigas.Creio que o meu desamor pelo FADO se deve mais a razões intelectuais e menos a razões estéticas.
Considero o FADO uma canção doentia que só faz curso porque ou somos fatalistas, ou tristes ou com tendência para estados mórbidos.
A despropósito, tive uma namorada espanhola a quem impressionava a tristeza genérica do povo português, que, segundo ela, se manifestava pela música e, essencialmente, através dessa coisa menor a que chamamos FADO
O FADO teve uma grande expansão durante o Estado Novo, tempo em que três "F" foram preponderantes no adormecimento colectivo do povo: Fátima, Fado e Futebol, trio que eu, por minha conta e risco, traduzo por Fátima , Fado e Bola, por me soar melhor. De Fátima já não falo; da Bola também não me parece haver interesse em dizer seja o que for. Resta o Fado.
Já era tempo de fazer uma declarção de interesses: não gosto de FADO. Essa mania que os fadistas têm de chorar as dores deles e as dos outros não me cai bem e, menos ainda, quando alguns lhe chamam a "canção nacional" Não me revejo naqueles letristas menores que rimam amor com flor, coração com paixão, ciúmes com dor de corno etc, etc. O FADO é uma expressão musical, tipicamente lisboeta, que nasceu e se foi impondo num ambiente onde a negrura da vida diária convidava aos copos de tinto, para esquecer, e onde os amores perdidos ou não correspondidos deviam fazer parte das preocupações dos moradores daqueles bairros que, pelo que vê hoje, já teriam então uma qualidade de vida pouco famosa.
Reconheço, no entanto, que AMÁLIA, é um nome incontornável neste País pequenino e que gosto de algumas canções dela, assim como gosto de algumas canções ( fado-canção? ) do Carlos do Carmo, sobretudo de algumas editadas num disco chamado " O HOMEM DA CIDADE " em que a quase totalidade das letras são desse ( grande ) poeta Ary dos Santos, hoje quase esquecido.
A propósito, lembram-se do Tony de Matos,fazendo uns esgares trágico-cómicos, a cantar : "Procuro e não te acho"? Hoje , depois da invenção do Viagra, ele, se calhar, já acharia qualquer coisa..... Ah! Ah! Ah! Ah!. ( Riam-se, caramba, se não fico com a cara à banda )
Caro Alex:
O teu belo texto (literariamente falando) acordou em mim um velho “ódio”. Tenho que deitá-lo fora. Aí vai.
Eu, que nunca fui de extremos, vou aqui vociferar até enrouquecer contra o tal de FATUM ou FADO.
Curioso! Nos tempos de PREC, eu que já na altura era do centro, tive que ver e ouvir homens guedelhudos e mulheres mal “ajambradas” proclamarem a contra-revolução do tal de FATUM ou FADO. Tudo o que cheirasse ao “povo que lavas no rio/as tábuas do meu caixão”, apanhava logo uma rajada de G3. A tal senhora Amália quase que foi enforcada na Praça da Figueira!
De repente, toda a minha gente (os homens e mulheres do PREC incluídos!) puxa da viola e da guitarra e… “bora prá Festa do Avante”!
Hoje, todo o mundo carpe o tal de FATUM ou FADO.
Ele são novos e velhos!
Ele são velhas e novas!
Até o Prince vem ramelar na Mouraria!
Ele são mulheronas de faca alantejana e alguidar de Bisalhães.
Ele é o carpir amores mal acabados com o forte duplo peso no frontispício.
Ele é o arranhar constante da garganta na impossibilidade de fazer alguma coisa na vida para além de andar de dia no gamanço e à noite afundar na tasca!
Penso até que o Velho do Restelo ia, noite fora, cantar o tal de FATUM ou FADO nas vielas do Bairro Alto.
Haja paciência!
Assim nunca mais combatemos o défice!
Abaixo o FATUM! Pum! Pum!
Morra o FATUM! Pum! Pum! PUM!
Caros amigos:
Peço-vos que se, porventura, o achardes descabido ou inoportuno, me desculpeis o que vou dizer neste tópico. Não pretendo iniciar qualquer polémica nem a alimentarei por nenhum motivo, pois tudo já é passado. Só que as convicções permanecem e entendi fazê-lo porque uma revoltante indignação me deixou deveras transtornado. Admito que será um assunto muito sério e fora do contexto deste espaço mas, quanto mais não seja, considerai-o como um grito no deserto. Aqui há meia dúzia de anos atrás, e quando o tema do aborto estava na sua furiosa pujança, tive uma discussão de café com um rapaz amigo, comunista convicto, de inabaláveis ideias esquerdóides. Lembro-me de que, após acalorada e irracional discussão, com alguns gritos incoerentes á mistura, eu terminei com a seguinte frase em jeito de axioma: "… caro amigo, ao menos concedam á criança o direito a que ela nasça e, se não a quiserem, torçam-lhe então o pescoço, porque matá-la na barriga da mãe, será o mesmo que ser morta depois de nascer. Mas tem a vantagem de, ao menos, lhe terem concedido esse justo direito". O "falso" amigo atirou-se a mim como gato a bofe, mimoseando-me com insultos e epítetos impronunciáveis. Depois, mais tarde, lá veio a lei: "...pode-se abortar á vontade", passando á frente de tudo, com as respectivas despesas pagas pelos impostos de todos, que tal não é crime nem ninguém será preso. Após a consumação tudo se calou, tudo se conformou e veio o silêncio.
Vem isto a propósito da notícia que hoje li num jornal, de que uma mulher tinha matado o seu filho depois de o ter deixado nascer. Entendo que foi mais "honesta" no seu acto porque, acima de tudo, não foi cobarde e lhe pôde ver a cara, comprovando também a minha afirmação. Porém, o que me indignou e me levou a escrever este texto, foi a miserável hipocrisia da dita lei feita por verdugos que, para um acto exactamente igual, tem outro peso e outra medida. Deus lhes perdoe!
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