2010-08-14
Arsénio Pires - Porto
Meus caros:
O tempo está de tosta e não há pachorra para produzir o que quer que seja (cacofonia maldita…).
Para os que ainda estão à sombra, aqui deixo o extracto dum precioso livro que o Pe. Augusto nos lia nas aulas também para desanuviar a obscuridade da matemática… pintada a branco naquele quadro preto.
O tal livro é “O Senhor Venerando”, de Carlo Manzoni.
Escusam de o procurar pois está esgotado há muitos anos. Este foi a minha filha que o encontrou cheio de pó e desfalecido numa estante dum alfarrabista. Como eu lhe falava tantas vezes nele, não descansou enquanto não o descobriu e ofereceu-mo no dia dos meus anos (fiz anos no dia 3 de Agosto, sabiam?!).
Então, aí vai este extracto:
“- Desculpe – disse o Sr. Venerando ao peixeiro, indicando a caixa do peixe – este peixe está fresco?
- Fresquíssimo! – disse o peixeiro.
- Então – disse o Sr. Venerando – se está muito fresco, ponha-me meio quilo dele dentro da camisa.
- Como diz? – perguntou o peixeiro que julgava não ter compreendido.
- Eu disse para me pôr meio quilo de peixe dentro do colarinho da camisa – repetiu o Sr. Venerando.
- No colarinho da camisa?
- Precisamente – confirmou o Sr. Venerando. – Eu tenho calor. O Sr. não tem calor?
- Claro que sim! Mas porque que quer pôr o peixe no colarinho da camisa?
- Porque ele está fresco – disse o Sr. Venerando. – O Sr. disse que está fresco e, se está fresco, porque não havemos de aproveitar? O senhor, quando está com calor, o que faz?
- Eu… abano-me – balbuciou o peixeiro, confuso.
- Abana-se com peixe?
- Não, com um leque – disse o peixeiro.
- Então o senhor também vende leques? – perguntou o Sr. Venerando.
- Não, não vendo leques – respondeu o peixeiro -, só tenho peixe.
- Como faz então?
- Como faço quê?
- Como faz para se abanar, se não tem peixe? - perguntou o Sr. Venerando. – Se um indivíduo tem apenas peixe e tem que se abanar, é obrigado a abanar-se com o peixe.
- Que confusão… eu não… - gaguejou o vendedor de peixe que já não percebia nada.
- Não insistamos mais – disse o Sr. Venerando. – Pense no assunto e amanhã exponha-mo por carta; entendido? Doutro modo faz-me perder o dia inteiro.
E o Sr. Venerando cumprimentou e foi-se embora tranquilamente.”
Meus caros:
Para os que ainda estão à sombra… um leque.
Para os que já moram ao sol… meio quilo peixe!
Voltarei – como diz o Peinado.