2010-08-27
António Gaudêncio - Lisboa
Tenho estado bem quieto e caladinho mas, de quando em vez, acho que faz bem intervir nestas conversas. E hoje vou ter a ingrata tarefa de me pronunciar sobre os escritos de dois bons e grandes amigos: o Alexandre e o Arsénio, tarefa complicada mas ao mesmo tempo simples pois, o facto de tomar partido por um deles, não implica uma menor consideração pelo outro.
Rendo-me à beleza e à leveza do texto do Alexandre. Simplesmente admirável. Mas já não o acompanho no seu amor pelo FADO. Desde sempre ( isto é: desde que comecei a analizar o mundo que nos rodeia e condiciona ) me conheci a nutrir uma aversão forte a tal género de cantigas.Creio que o meu desamor pelo FADO se deve mais a razões intelectuais e menos a razões estéticas.
Considero o FADO uma canção doentia que só faz curso porque ou somos fatalistas, ou tristes ou com tendência para estados mórbidos.
A despropósito, tive uma namorada espanhola a quem impressionava a tristeza genérica do povo português, que, segundo ela, se manifestava pela música e, essencialmente, através dessa coisa menor a que chamamos FADO
O FADO teve uma grande expansão durante o Estado Novo, tempo em que três "F" foram preponderantes no adormecimento colectivo do povo: Fátima, Fado e Futebol, trio que eu, por minha conta e risco, traduzo por Fátima , Fado e Bola, por me soar melhor. De Fátima já não falo; da Bola também não me parece haver interesse em dizer seja o que for. Resta o Fado.
Já era tempo de fazer uma declarção de interesses: não gosto de FADO. Essa mania que os fadistas têm de chorar as dores deles e as dos outros não me cai bem e, menos ainda, quando alguns lhe chamam a "canção nacional" Não me revejo naqueles letristas menores que rimam amor com flor, coração com paixão, ciúmes com dor de corno etc, etc. O FADO é uma expressão musical, tipicamente lisboeta, que nasceu e se foi impondo num ambiente onde a negrura da vida diária convidava aos copos de tinto, para esquecer, e onde os amores perdidos ou não correspondidos deviam fazer parte das preocupações dos moradores daqueles bairros que, pelo que vê hoje, já teriam então uma qualidade de vida pouco famosa.
Reconheço, no entanto, que AMÁLIA, é um nome incontornável neste País pequenino e que gosto de algumas canções dela, assim como gosto de algumas canções ( fado-canção? ) do Carlos do Carmo, sobretudo de algumas editadas num disco chamado " O HOMEM DA CIDADE " em que a quase totalidade das letras são desse ( grande ) poeta Ary dos Santos, hoje quase esquecido.
A propósito, lembram-se do Tony de Matos,fazendo uns esgares trágico-cómicos, a cantar : "Procuro e não te acho"? Hoje , depois da invenção do Viagra, ele, se calhar, já acharia qualquer coisa..... Ah! Ah! Ah! Ah!. ( Riam-se, caramba, se não fico com a cara à banda )