2010-11-18
Arsénio Pires - Porto
Perdido tenho andado por terras de Mafoma salivando ao recordar o excelente borrego que o David magistralmente abrasou na Oliveira do Paraíso onde o Alex vocifera dia-a-dia o salmo 50. Não sabemos ainda de que amores davídicos (subentenda-se o rei David...) o Alex se arrepende nem, muito menos, que maridos enfeitados ele mandou para a frente da batalha… Conhecemos apenas a cadência do arrependimento com que ele move os pés longos e breves do martelado latim sempre novo: Miserere mei, Deus, secundum magnam misericordiam tuam…
De facto, por afazeres de trabalho, fui retido num hotel onde a mourama me privou do acesso ao mundo da internete.
Cheguei hoje e devorei tudo o que aqui foi escrito.
Foi mesmo assim. Quem poderá acrescentar alguma coisa ao que o Peinado e o Martins Ribeiro disseram daquele maravilhoso encontro na Quinta do Alex?
Enquanto esperava pelo dia do regresso a terras de fé, aconteceu-me isto:
Encontro em Palmela
Magusto 13.11. 2010
Elogio da Inutilidade
Foi preciso chegarmos aqui para sabermos
que o tempo é curto e o disco está a acabar.
Foi preciso chegarmos aqui para sabermos
que a razão nem sempre nos levou por bons caminhos
e que o coração é que nos traz sempre
ao lugar onde nos sentimos bem.
Não vou fazer o “Elogio da Loucura”
a que a razão e o lucro nos levaram.
Quero tecer o “Elogio do Inútil”
a que a antiga adolescência
e os cabelos brancos desgrenhados
nos trouxeram.
Aqui. E em qualquer lugar.
Chegar de longe e apertar o amigo num abraço,
é inútil. Não dá ouro ou prata a ninguém.
Chegar de longe e fazer churrasco para os outros,
é inútil. Não dá ouro ou prata a ninguém.
Chegar de longe e acender o fogo das castanhas,
é inútil. Não dá ouro ou prata a ninguém.
Chegar de longe e entornar o sangue da alegria,
é inútil. Não dá ouro ou prata a ninguém.
Nós sabemos.
Nós sabemos e assim rezamos:
Bem-aventurados os inúteis
porque deles é o reino da amizade.
Bem-aventurados seremos
quando nos insultarem
e contra nós disserem toda a sorte de calúnias
chamando-nos
comilões
borrachos
ou corpos carcomidos e sem alma.
Queremos ser, agora e sempre,
servos inúteis!
Pois é nesta inutilidade que nos vemos
e amamos,
nós,
os sempre estrangeiros na cidade dos homens.
Arsénio Pires