2010-09-29
Alexandre Gonçalves - Palmela
Meu Caríssimo Inimigo do Fado, Martins Ribeiro, e Ajuvantes:
Tendo captado, em emissão de FM, que um vago convite andava no ar, ajeitei-me de imediato para integrar o Clube dos Predadores de Cabritos/as do Minho. Enquanto reflectia profundamente na data, na deslocação e outras prevenções... o ilustre anfitrião muda o dia, não indica a hora, nem guarnece o cabrito (ou o que for) das respectivas instruções. Afirmo a intenção de elogiar tudo o que ao cabrito se refira. Mas a data de 14 complica-me vários mecanismos, próprios de um homem comprometido com desejos e obrigações. Não poderá voltar à data inicial de 15? Se o for, garanto toda a cumplicidade e até a presença. Caso contrário, terei de tentar a volta, que de momento está complicada. Aguardo a vossa benevolência...
Quanto ao dito, podemos odiar, desmascarar, esconjurar... Mas este país, feito das sobras ibéricas, cortado em tiras de alfaiate, os corpos samoanos languidamente espalhados pelas praias gregas, os chefes tribais a fingirem de reis, tudo isto inspira uma ondulada tristeza... Tragam-me uma cítara ou um alaúde ou um corno de boi... e eu comporei um salmo tão dramático como os de David. Ou farei um coro trágico à maneira de Sófocles. O destino subverte-nos a utopia. Há deuses pagãos a armarem-nos ciladas. O mar não tem ventos. Os navios aguardam em vão uma vã oportunidade. Que podemos nós fazer colectivamente, para que o rectângulo se estique um pouco e caibam lá todos os seus habitantes? Como nunca até à data o conseguimos, inventamos efes, com ou sem melodia, com ou sem acompanhamento. Bebemos-lhe, choramos-lhe, e fazemos trinados em copos de três. Não é o melhor para as contas pú(b)ticas. Mas é o que há. E há muita gente assustada com uma dor estranha, que nem é revolta nem submissão. O FADO não se gosta nem se desgosta. É um povo que anda sempre na diáspora, à busca de pastos. E teve de criar a palavra SAUDADE para se lembrar de todos os lugares onde pernoitou e donde teve de partir no dia seguinte. Mesmo que todos os fadistas fossem péssimos, e alguns são abomináveis, mesmo que ninguém desse voz à melancolia morena de um povo deitado ao sol, nem assim deixaríamos de ter uma sina que nos perpetua a mágoa de sermos um país hipoteticamente inviável.