2010-11-21
Alexandre Gonçalves - Palmela
"Não é uma existência; é uma expiação." Pego já por aqui, oportuno Arsénio! Bem podia ser o mote de múltiplas intervenções. Poucos grupos sociais estariam tão habilitados para a denúncia como aqueles que se abrigam sob os verdes ramos da Palmeira. Herdeiros de valores sagrados, somos portadores duma linguagem insuspeita. O velho latim e a pureza clássica da lusa fala são só por si uma escola de justiça, de leitura crítica do mundo, dum espírito de inssurreição contra a letal mediocridade das instituições e dos decisores da vida civil. Se acrescentarmos alguns verbos de inspiração profética, de cuja influência bem poucos nos libertámos, então teremos aquela nobre função de não sermos cães mudos, que apenas sabem abanar a cauda quando passa o grande chefe. Ou o dono, que é a mesma coisa. A LITERATURA sempre teve esse perfil de insubordinação, de rebeldia,de provocação. A palavra é uma arma. E é preciso apontá-la certeira a quem tão descaradamenta viola a nossa consciência colectiva. Temos exemplos em todas as culturas. E portugal não fica para trás. Foi das letras que vieram os melhores guerreiros contra os tiranos e os traidores, pois sempre os houve neste mediterrânico jardim.Podemos queixar-nos da podre monarquia e da miserável república. Mas sempre tivemos vozes rebeldes e belas na poesia, no romance, no teatro e até nas tradições populares. Por que é que não há estadistas?Porque somos culturalmente gregários compulsivos. Medrosos e subservientes, nem pudor temos que nos impeça de aclamar um pardacento figurante, que acede ao poder pela porta do cavalo. Um rebanho esfomeado não o faria melhor. Benditos os Eças, os Ramalhos, os Junqueiros, os Senas, etc.! O exercício da denúncia é um direito e um dos mais sérios deveres de quem se assume como um cidadão do mundo.
Relativamente ao encontro deste outono dourado, agradeço todas as referências que foram feitas. Foi admirável a pujança da Nortlândia, sob o incontestável comando do Martins Ribeiro, assessorado pelo infatigável Peinado. Trouxeram furor, alegria e a doce amizade, que ao longe se lembra e em segredo se guarda. Na Sulândia, só tivemos que abrir o coração e os braços. Dois ou três telefonemas incisivos puseram tudo a funcionar, como se fora tudo automático. O Davide serenou com antecedência os apetites mais suspeitos. As SENHORAS, espontaneamente multiplicadas em gestos e afectos, repetiram o milagre da mesa abundante e variada, atraindo-nos para o requinte e para o conforto de vermos nascer a festa, com as nossas mãos quase desactivadas. Um aplauso especial para elas, pelo que aqui fizeram e por tudo quanto já trazem no currículo. Só isso explica o seu êxito. Peço perdão pelo salmo cinquenta, especialmente ao António Luís, a quem já tinham sido dadas garantias da sua extinção. Essas garantias são extensíveis agora a todos os interessados. Em verdade, o pecado de Davide, não do chefe mas do rei, já foi extirpado das práticas humanas. Já limpos de tal mácula, por que raio havemos de pegar na cítara outra vez? A partir desta data, e até o país apagar a Alemanha no mapa económico, nós cantaremos com litúrgica unção o RORATE. Dos céus estamos certos que virão euros mais que bastantes para comprarem integralmente a dívida portuguesa. Além disso, o deserto da Margem Sul vai receber tanta chuva que abastecerá de cereal toda a Ibéria. Para isso temos que aprender quer a letra quer a ondulada melodia, para persuadir os céus a derramar justiça e chuva abundante. Não se vê outra saída para a crise. Ou pelo menos tão rápida.
O site é a minha grande vaidade. Não porque o tenha criado ou por ter sido minimamente cúmplice. Mas porque nele me vinguei da penúria informática em que vivia. Já não é porque posso impingir os meus subprodutos a tantos leitores. Em rigor, a culpa não será minha mas do Vieira, que deixou entrar neste território privado 15 mil gajos. Eu aqui, para preservar as nossas festas privadas, fiz um muro de betão, como o dos judeus. Mas o Vieira até deixou a porta aberta a sujeitinhos como eu, que nem sei a senha de entrada. Entro, brinco, saio, vocifero, não pago e volto a entrar, às horas mais incríveis que me apeteça. E não é só isso. Agora, deu em abrir atalhos para territórios vizinhos, com outros hábitos e outras paisagens e até montanhas. Se o não travarmos, eu sei lá para onde nos leva! Além disso, ele, o dito, aparece por todo o lado, como os escuteiros a orientar peregrinos, avisando-os, admoestando-os às boas práticas e fornecendo as mais diversas informações. Pelos benefícios que eu acumulei e pelos que já me foram garantidos para o futuro, eu ando vaidoso. E não abdico.
Por todas estas razões, a associação está em grande forma e recomenda-se. O site e A PALMEIRA são órgãos vitais complementares. Avancemos para os respectivos campos e à nossa maneira transformemos o mundo e salvemos pelo menos o JARDIM. E a pele.