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2010-12-11

A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez

Quando eu nasci, já não era bem, mas ainda era Natal. Depois, pequerruchinho e de cueiros, seguiram-se os Natais da minha infância. 

Dentro dos muros da Barrosa, que alguns diziam ser altos e que tapavam a vista, feito rapazinho e seminarista ingénuo, passei outros Natais singelos que foram o encanto da minha meninice. Mais tarde, sem ser preciso saltá-los, sai desses muros pela porta da frente, para o campo aberto da vida incerta. 

Espera aí, Tone, e então acabaram os Natais?

Não acabaram nada, os Natais continuaram. 

Havia Natal quando ria e cantava, também acontecia Natal quando chorava. Quando corria atrás da sedução do amor e quando me perdia no fascínio dos seus pecaminosos braços.

E foram ocorrendo sempre: nas areias das praias batidas pelo fragoroso tumulto das ondas do mar, nas musguentas e sinuosas veredas de ermos montados, no conjunto de presépios naturais disseminados pela imensidão dos vales, no luzir das estrelas duma noite de luar, silenciosa e calma, nas lareiras acolhedoras que ardiam na base de chaminés fumegantes de lares quentes e sacrossantos. 

Foi Natal quando nasceram os meus meninos e, mais tarde, os meninos dos meus meninos, houve Natal quando o dia ia morrendo e quando o sol se punha no abraço distante  do céu com a terra.

Diz-se que o Natal é sempre quando a gente quiser. Então, assim sendo, aqui e nesta hora, deu-me para mandar o Natal a todos os meus companheiros e amigos. 

Ora, pegai lá; aí vai Ele, o Natal do meu desejo, cheio da paz dos anjos e de todas as coisas boas, o Natal branco e cor de fogo, de todas as cores, lindo, tão lindo como o brilho dos olhos dum amor sonhado, grande como as galáxias do Firmamento celeste, mais harmonioso que os nove coros dos anjos.

Mas esperai, companheiros! Este Natal que resolvi mandar-vos, por ser o meu, é um Natal que, forçosamente, vai acabar um dia e eu isso não quero. Para não ficardes tristes, tenho aqui outro Natal muito melhor que o meu, outro Natal que não vai acabar nunca, um Natal sem fim: é Ele o Natal de Cristo!

      Feliz Natal, muita paz e muita alegria para todos!

2010-12-11

Arsénio Pires - Porto

Obrigado, amigo Martins Ribeiro, pelas tuas palavras amáveis que tão prontamente proferiste a respeito da nossa jovem (fez 30 "anos") Palmeira.

Engrandeceste a qualidade literária dela. A todos os colaboradores se teve essa qualidade e tu tens, neste particular, uma boa quota de responsabilidade. Contamos sempre contigo.

No teu post falas de "limitações actuais". Espero que não sejam limitações de saúde pois das outras, sendo tu um dos colegas associados mais activo e participativo, não me parece que mereças tal classificação.

Obrigado e um grande abraço cheio de desejos que tenhas um Feliz Natal junto da tua família.

 

2010-12-10

A. Martins Ribeiro - Terras de Valdevez

Estava agora a sair para o meu costumeiro café da manhã quando o carteiro me entregou o sobrescrito com a nossa PALMEIRA. Para não voltar atrás levei-a comigo para a ler com toda a calma e sossego.

Sabeis o que vos digo? Achei-a magnífica e muito bem conseguida. Se, quanto ao aspecto gráfico, a qualidade se vai mantendo, no conteúdo dos textos apresenta uma incontestável categoria literária, no dizer de um dos amigos que comigo se sentava á  mesa de café, uma classe de catedrático universitário. Com o que concordo e mesmo não seria de esperar outra coisa. 

Como sabeis, companheiros,  a PALMEIRA, é um poderoso elo de ligação entre todos os associados e que nos vai mantendo unidos na nossa dispersão. 

Sei que dá muito trabalho realizá-la na sua periodicidade, por isso devemos agradecer aos seus obreiros, com o Arsénio á cabeça. Gostaria de contribuir e ajudar com acções mais interventivas mas, nesta altura, sei que estou sujeito a certas limitações. 

Obrigado a todos.

2010-12-10

Assis - Folgosa - Maia

Meus amigos, desculpai alguns erros, ainda que não graves, que surgiram no meu texto último.

Permiti que corrija ao menos aquele que aparece na 15ª linha, creio.                              

"...seria motivo mais que suficiente para já lhos (os dólares) não dar"

PS - Depois duma segunda leitura do texto do Aventino, limito-me a pedir-lhe que não me leve tão a sério. Procuro apenas estar um pouco atento aos acontecimentos que nos rodeiam nesta pequena aldeia global. Também me distraio, e muito, pois os meus pés são de barro como os de todos, os dos heróis e deuses incluídos. Tenho aprendido que assim é sobretudo nestes últimos anos, talvez dos cinquenta a esta parte. É por isso que cada dia aprecio mais o cheiro da terra; a beleza dum rude pau que a minha enchada plantou e que inesperadamente surge com uma flor em manhã de primavera, ou com uma simples folha verde. Adoro o nascer e o pôr do sol, como adoro a chuva que me rega as couves do caldo verde. E adoro um caldo verde... como eu o adoro... não como se possa adorar qualquer deus, mas adoro-o... e então com um fio de azeite puro das oliveiras que eu ajudei a plantar e um pedaço de pão que se possa chamar de pão, daquele pão capaz de matar até a própria fome... Meus amigos, à vossa!

Gostaria, agora, de trocar convosco um "chim-chim!" mas - como a distância é sempre distância e a deslocação não pode ser mais que mental - tentai conmigo imaginar esse brinde. Vou levar aos meus lábios um doce "Numância" do meu Douro para me curar dum enfadonho pigarro que teima instalar-se em minha garganta. À vossa!...

2010-12-09

Assis - Folgosa - Maia

"Triste de quem é feliz" Pessoa - "Ter sido...não tem nada" Aventino

Foi, depois de haver lido um poema de Pessoa que se encontrava sobre a mesinha da sala em que trabalhava o bancário Jorge, em Fortaleza/Brasil, que o grande encontro se deu. Soube-o eu em Novembro, poucos dias antes de haver regressado a Portuigal, pela boca do próprio Jorge. Sim, era um poema de Fernando Pessoa - não se recordando qual fosse - o tal poema que Henri leu e achou "muito lindo, mas ao qual faltava uma palavra". - Qual? Deus? Amor? - "Blá blá blá... a palavra JUSTIÇA..." e um forte murro caiu sobre a mesa ao ponto de quase partir o vidro que cobria o dito poema e pôr em sobressalto as pessoas que se encontravam nas intalações do banco. Algumas chegaram mesmo a pensar que se tratava de um assalto. Só quem não conheceu o pe. Henri há uns anos atrás se poderá admirar de que ele fosse capaz de uma coisa assim. - E tinha ele razão na altura, em 1986. Viera de Coritiba a Fortaleza para cambiar os escudos que lhe restavam para poder regressar a Portuga. Entrou em quatro bancos e nada. Valerá a pena entrar num quinto? Teimoso - ele diz que não - apenas persistente, tenta o quinto banco. Surge-lhe então pela frente o empregado Jorge que, clandestinamente, através de amigos, conseguia alguns dólares para desenrascar outros amigos, mas que ainda antes de passar para a mão do Henri as milagrosas notas, acaba por ouvir aquilo que para outros seria mais que motivo suficiente para já lhos. Mas não. Jorge," um mulharengo, não frequentador da igreja", segundo as palavras do advogado da favela, José Airton, ao escutar a palavra Justiça e dita daquela maneira tão estranha, vira-se para ele e diz-lhe: "O senhor padre quer conhecer um amigo que vive na favela e que, tenho a certeza, vai gostar de o conhecer?..." - "Sim, quero" foi a resposta. - O Jorge levou então o Henri para a secretaria diocesana, local onde o Airton trabalhava em part-time como advogado. E ali ficou ele esperando enquanto o Jorge ia à sua vida. Cruzou-se este, não longe dali, com o amigo Airton e diz-lhe: "Vai depressa que tens lá um doido à tua espera, Henri Le Boursicaud, um padre a quem acabo de trocar uns escudos para regressar a Portugal". Conhecedor da história, o Airton seguiu de moto com mais velocidade para o escritório da diocese. E deu-se então o grande encontro: um padre operário que viera de tão longe apenas para trocar uns escudos para se pôr a caminho de Portugal e um advogado que, mal se apanhara com o canudo na mão, fora viver para a favela contra a vontade do pai. "Não compreendo as tuas razões, mas vou respeitá-las..." dissera-lhe este mal-humorado depois de haver batido com força a porta de casa e de haver diambulado pelas ruas uns bons quarenta minutos antes de regressar a casa. Já a opinião da mãe fora bem diversa: "É a coisa mais bela que me poderias oferecer: trabalhar com os mais necessitados..." disse-lhe ela e com abraço materno amaciou a dura decisão de José, o filho que bebera com lágrimas o café amargo e freio, mas que se mantivera todo aquele tempo sentado em silêncio. - Um passeio se seguiu em direcção à barraca da favela onde José vivia com mais alguns companheiros, "idealistas" segundo alguns. Ainda no caminho, "a canção da barca" brotou das cordas vocais do José ao avistar a praia e lançando a sua mão sobre o ombro de Henri fez-lhe o convite para ficar com ele, convite que aceitou. A barraca do José foi seu abrigo e terreiro para a sementeira de uma nova comunidade de Emaús. Ali ficou durante dois meses. Ao despedir-se de Airton, Henri diz-lhe: "José! Planeja, mas nunca amarres. Eu vim com a única intenção de cambiar os escudos e regressar a Portugal e vê o que aconteceu..." Não amarres... só a liberdade tem sementes de vida mesmo quando nos apercebemos com pés de barro. - "Ter sido..."  talvez, tudo teria sido diferente... mas que nos importa indagar o passado, quando temos o momento presente como único futuro seguro?... "Observêmo-lo" então, como disse Platão. - Uma das perguntas que faziam em tempos ao pe. Henri era esta: "O senhor é feliz?" A sua resposta: "Sim, sou...mas como posso eu ser feliz totalmente feliz quando sei que irmãos meus estão, neste preciso momento, a morrer de fome?...

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